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Cresce movimento internacional por libertação de brasileiro em greve de fome

Cartazes pedindo a liberdade do prisioneiro foram espalhados pelas cidades palestinas.

Eliane Gonçalves / EBC

Atualizada em 27/03/2022 às 11h43
Cartazes foram espalhados.
Cartazes foram espalhados. (Arquivo familiar)

SÃO PAULO - O movimento em prol da libertação de Islam Hamed, brasileiro-palestino que completa 26 dias em greve de fome hoje (7) e está preso em Nablus, na Palestina, tem ganhado força na região. Cartazes pedindo a liberdade do prisioneiro foram espalhados pelas cidades palestinas e uma tenda foi montada em frente à casa da família para receber pessoas que aparecem para prestar solidariedade.

Na terça-feira (5), o lugar foi palco de um encontro simbólico: três representantes do Hamas e três representantes do Fatah visitaram a família. Os dois partidos são majoritários na Palestina e, até o ano passado, ocupavam campos opostos na geopolítica local. O Hamas comanda a Faixa de Gaza. Já o Fatah, comanda a Cisjordânia.

A aproximação entre os dois foi oficializada em junho do ano passado com a criação de um governo de consenso nacional. Um mês depois, a Faixa de Gaza foi palco de um intenso bombardeio que durou sete semanas e deixou 2.157 palestinos mortos, a maioria civis. Apesar de a aproximação entre Hamas e Fatah ser considerada uma etapa importante para a unificação do povo palestino, é consenso no país que ainda há um longo caminho pela frente, daí o significado importante do encontro.

No Brasil, a mobilização também tem se intensificado. No dia 15 de abril, quatro dias após Islam ter começado a greve de fome, a família formalizou o segundo pedido de intervenção do governo brasileiro para a libertação e a repatriação do brasileiro. O primeiro foi em 2013.

Na última semana, uma carta foi enviada para a presidenta Dilma Roussef, pedindo sua intervenção direta no caso, e um abaixo-assinado eletrônico pedindo a libertação o brasileiro circula na internet. Para essa sexta-feira (8), a Frente em Defesa do Povo Palestino está convocando para um ato simbólico pela liberdade de Islam Hamed em frente à representação da presidência da República, em São Paulo.

Segundo a família, Hamed já perdeu quase 15 quilos desde que começou a greve de fome. A pele está amarelada e a voz bem fraca. Ele reivindica ser libertado e quer garantir o direito de vir para o Brasil. Islam terminou de cumprir a pena a qual foi sentenciado há um ano e oito meses.

Para a mãe de Islam, Nádia Hamed, 52 anos, a vinda do filho para o Brasil é a única alternativa para que ele consiga ter uma vida normal. Nádia é de Catanduva, no interior de São Paulo, e mudou-se para Palestina quando tinha 19 anos. Lá ela se casou e teve quatro filhos.

Islam Hamed cresceu em um vilarejo de Ramala, em uma família de agricultores. Acompanhou durante a infância o avanço da ocupação israelense no território palestino. Tinha oito anos quando foi assinado o Acordo de Paz de Oslo, em 1993, que proibia novos assentamentos israelenses em território palestino. De lá para cá, o número de colonos israelenses na Palestina mais do que triplicou.

Segundo sua tia no Brasil, Mariam Baker, 56 anos, ele ainda era criança quando viu casas palestinas sendo demolidas. Uma delas de sua família: “Imagina um menino que ficava em frente à televisão chorando porque via o que acontecia com as pessoas, as casas sendo destruídas. Casa de nossos parentes mesmo. Eles vão na casa da mãe e porque o filho é preso político, derrubam a casa”, conta Mariam que vive em São Paulo.

Quando Islam tinha 15 anos testemunhou a segunda intifada, levante popular marcado pela violência e que durou de 2000 a 2005. Foi durante esse processo que ele foi preso a primeira vez, aos 17 anos, acusado de atirar pedras em soldados israelenses. Passou cinco anos detido em um presídio de Israel. A prisão de palestinos em protestos políticos é comum na região. Segundo a Autoridade Palestina, atualmente cerca de seis mil palestinos encontram-se em prisões israelenses.

Islam cumpriu a pena e ficou nove meses em liberdade. Nesse intervalo, fez um curso de eletricista, tirou carteira de motorista e começou a namorar.

Logo em seguida, voltou a ser detido. Dessa vez na chamada detenção administrativa, tipo de prisão preventiva em que, apesar de não haver acusações concretas, as pessoas podem ser presas por oferecerem risco à segurança, de acordo com a avaliação de Israel. Prorrogada a cada três meses, ele foi mantido preso por mais dois anos.

O último caso de detenção administrativa de repercussão na Palestina foi a de Khalida Jarra, 52 anos, parlamentar e liderança feminista da Frente Popular para Libertação da Palestina, no dia 2 de abril. Como aconteceu com Islam, ainda não foram apresentadas acusações concretas contra ela que, mesmo assim, segue presa.

Depois da segunda detenção, Islam Hamed, passou pouco mais de 9 meses em liberdade. Casou-se e chegou a tentar, por duas vezes, a mudança para o Brasil. Mas não teve a autorização de Israel para deixar a Palestina. Voltou ao movimento de resistência, assumiu a bandeira em defesa dos presos palestinos e se aproximou do Hamas, partido político com maioria dos assentos no parlamento, considerado grupo terrorista por Israel e outros países.

Em setembro de 2010, Islam foi condenado a três anos de prisão, dessa vez pelo governo palestino. Teve um filho enquanto estava preso, Khattab Hamed, hoje com 3 anos, que não chegou a conviver com o pai, exceto nas raras visitas ao presídio.

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