Antonio Calloni se despede de ''Éramos Seis'' e celebra parceria com Gloria Pires: ''Sonho realizado!''

Em entrevista ao Gshow, o ator faz um balanço de sua participação como Júlio na novela das 6, comenta repercussão nas ruas e revela sua reação ao ler a morte do personagem

Atualizada em 27/03/2022 às 10h56
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Entre o amor e o ódio, há uma série de sensações que compõem o ser humano. E um dos privilégios do ofício de um ator é despertar cada uma delas. Em pouco mais de 50 capítulos de Éramos Seis, Antonio Calloni cumpriu esse papel com maestria ao interpretar Júlio, o patriarca da família Lemos.

A cada dia, o público conheceu um pouco mais desse complexo personagem: homem ambicioso, pai trabalhador, marido infiel, e tantas outras facetas que nos fizeram transitar entre a raiva e a compaixão. Se por um lado o personagem provocou a ira do público ao trair Lola (Gloria Pires) com Marion (Ellen Rocche), por outro, também comoveu a todos em seus momentos de lucidez com Alfredo (Nicolas Prattes).

Essas são só algumas das nuances da atuação de Calloni, que deixa hoje a novela das 6. No capítulo desta segunda-feira, 2/12, Júlio morre pelos problemas de saúde causados pela úlcera no estômago, após receber uma transfusão de sangue de seu filho mais rebelde.

Em uma entrevista exclusiva ao Gshow, o ator se despede de mais um trabalho marcante em sua carreira e revela sua reação ao ler a última cena do personagem:

"Chorei. Ele morre sonhando e feliz..."

"Vou sentir muitas saudades, essa novela foi muito especial para mim. Um personagem fantástico e, com certeza, inesquecível para mim e, espero, para o público também. Ele tem o tamanho e a duração perfeitas para impulsionar, provocar, emocionar e encantar a história. Mais que cinquenta capítulos, ele perderia a força e a função. Agora é com a Lola. E que personagem essa Lola, meu Deus do céu... a relação com os atores, diretores, câmeras, produção, a equipe de um modo geral foi fantástica!"

Interpretar um patriarca tradicional do início do século passado também representa um desafio para além do set de gravações. Como as pessoas reagiriam a um personagem que trai a esposa e agride os filhos? Mas, para a surpresa do próprio artista, boa parte da audiência conseguiu compreender as angústias de Júlio e enxergaram nele um homem maior que seus defeitos:

"Muitas pessoas - muito mais do que eu esperava - compreenderam que o Júlio é um homem bom, amoroso, trabalhador e um lutador incansável. E os erros? Muitos! Graves! Quase imperdoáveis! Isso desperta a raiva, a antipatia, o que é uma reação justa e natural, porém incompleta."

"O Júlio é um personagem bem complexo, e muita gente percebeu isso. O Júlio é um homem bom que não sabe ser bom", define Calloni.

As atitudes questionáveis de Júlio tinham origem em uma sensação recorrente em sua vida: a frustração. Ambicioso, o patriarca sonhava em ter uma situação financeira mais próspera e ficou em êxtase quando seu patrão, Assad (Werner Schunemann), lhe propôs uma sociedade. Por ironia do destino, o negócio não foi à frente. O marido de Lola perdeu a chance que sempre quis e se tornou um homem ainda mais amargurado.

Entre as tantas características que diferem o intérprete e o personagem, essa maneira de encarar as adversidades é mais uma. Calloni é categórico quando questionado se já sentiu algo parecido com a infelicidade de Júlio diante de alguma tribulação imposta pela vida:

"Nunca. Acho que apesar de cultivar meu complexo de Peter Pan por conta da minha profissão, devo ter crescido um pouco, pelo menos. Vivo numa contradição muito saudável entre a criança e o adulto, me dou bem nesse vai e vem. Às vezes sou criança e adulto ao mesmo tempo (cada louco com sua mania), mas lido relativamente bem com as frustrações que a vida as vezes nos impõe. Não deixo passar as oportunidades porque acredito na 'justiça' misteriosa da vida."

"Tudo que eu fiz, tive que fazer. Tudo que eu não fiz, tive que não fazer. Mais ou menos isso..."

Pai de Pedro, atualmente com 25 anos, Antonio Calloni também desconhece as dificuldades de Júlio para lidar com seus quatro filhos. Na ficção, dá vida a um pai rígido e instável, que não sabe como estabelecer uma conexão carinhosa com os herdeiros. Mas, na vida real, as demonstrações de amor pelo filho são constantes:

"Nunca imaginei outro filho que não fosse o Pedro... Esse garoto é infinito...", declara.

Ao eleger suas cenas mais sensíveis em Éramos Seis, o ator deixa evidente a emoção que a paternidade lhe desperta. A relação conflituosa de Júlio e Alfredo era repleta de discussões acaloradas, e as poucas conversas francas e racionais entre pai e filho marcaram a trama e a vida de Calloni, que revela suas maiores inspirações:

"As conversas com o Alfredo são muito intensas. Tudo que fala de pai e filho me emociona muito. Não sou fã fanático do Darth Vader à toa, vejo os filmes de 'Star Wars' todos os anos. Ver 'Star Wars' e o documentário 'Estamira' é um ritual fundamental para a minha boa saúde mental."

Ao longo das quatro décadas de carreira, Antonio Calloni já interpretou mocinhos e vilões de grande relevância na dramaturgia brasileira. Nos últimos anos, em especial, encarou trabalhos densos: Roger Sadala, em Assédio; Egídio, de O Sétimo Guardião; Arnaldo, em Os Dias Eram Assim; e agora, na pele de Júlio.

No entanto, o ator afirma que consegue conviver intensamente com cada um de seus personagens sem levar para casa a tensão das histórias que vive na ficção. Cada trabalho, na verdade, é uma verdadeira fonte de prazer:

"Trabalho sempre na zona do prazer, seja qual for o personagem ou a cena. A zona de conforto não existe para um ator de verdade. Dizer um 'bom dia' plenamente exige uma disponibilidade absoluta. Fazer o simples com disponibilidade absoluta exige entrega, generosidade e talento. Nunca procuro o sofrimento, a dúvida, o conflito. Essas coisas já fazem parte da vida você querendo ou não."

"Procuro a criança, a sacanagem, o prazer... aliviar a tensão depois de um dia de trabalho? Quem disse que eu fico tenso? Convivo intensamente com o personagem vinte e quatro horas por dia sem me perder de vista, estamos sempre presentes", pontua Calloni.

Em seu último dia no ar em Éramos Seis, o ator garante que continuará acompanhando cada capítulo da novela e não esconde a alegria por ter realizado um grande sonho: contracenar com Gloria Pires. No fim da entrevista, Antonio Calloni faz questão de prestar uma homenagem à atriz e reafirmar sua gratidão pela aclamada parceria em cena:

"Querida Gloria, você é um sonho realizado. Obrigado pela grande companheira e atriz que você é. Nunca vou esquecer essa parceria. Vou continuar assistindo a novela e aplaudindo meus companheiros em pé", finaliza.

Éramos Seis é escrita por Angela Chaves, baseada na novela original escrita por Silvio de Abreu e Rubens Ewald Filho, livremente inspirada no livro de Maria José Dupré. A direção artística é de Carlos Araújo.

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