Preocupante

Pesquisadores alertam para o alto índice de câncer de pênis no Maranhão

Em 96% dos casos, há retirada do órgão devido procura tardia no tratamento.

Divulgação/Ebserh

Atualizada em 27/03/2022 às 11h09
O que poderia ser apenas a retirada da lesão, torna-se algo maior e devastador.
O que poderia ser apenas a retirada da lesão, torna-se algo maior e devastador. (Foto: Divulgação)

SÃO LUÍS - Pesquisa aponta que em 96% dos casos de câncer de pênis, o tratamento é a retirada do órgão devido ao grande intervalo entre o primeiro sinal da doença e o início do tratamento, chegando a um tempo médio de demora de 18.9 meses, mais que um ano e meio.
O que poderia ser apenas a retirada da lesão, torna-se algo maior e devastador. Esses dados fazem parte da pesquisa que gerou o artigo “Profile of patients with penile cancer in the region with the highest worldwide incidence” publicada no final de fevereiro em uma das mais conceituadas revistas científicas internacionais, Scientific Reports, do grupo Nature.

Trata-se de uma pesquisa prospectiva, realizada por 11 pesquisadores, destes, seis são do Hospital Universitário da UFMA (HU-UFMA), gerido pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). Foram 116 entrevistas realizadas no período de julho de 2016 a outubro de 2018 em pacientes com câncer de pênis atendidos no Hospital Universitário da UFMA e no Hospital Aldenora Bello. Desses pacientes, 75% são do interior do estado e 25% de São Luís.

A partir desse material, eles puderam traçar um perfil epidemiológico mais completo, uma vez que puderam avaliar melhor os fatores de risco, comportamento e condições socioeconômicas desses pacientes. Em uma pesquisa anterior, a base dos dados foi de registros de 2004 a 2014 de três instituições referentes aos prontuários e laudos das biópsias. A escolha por entrevistas possibilitou uma fidelidade maior das informações.

Um dos autores da pesquisa, Gyl Eanes Barros Silva, patologista renal e chefe do Laboratório de Imunofluorescência e Microscopia Eletrônica (LIME) do HU-UFMA descreve o perfil desses homens atendidos “Nossos pacientes tem uma baixíssima condição econômica, já chegam em um estágio avançado da doença, tem um percentual significativo de pacientes jovens que estão em idade produtiva e reprodutiva e um elevado número de pacientes com histologia de HPV. ”

Ele acrescenta que pacientes com HPV chegam a 90% e que os números de tumores associados típicos dessa doença sexualmente transmissível, também são altos atingindo 62%. “E o dado mais alarmante é que eles demoram mais de um ano e meio entre o primeiro sinal da doença e o início do tratamento em geral por se tratar de pacientes muito pobres, com baixa formação educacional, dificuldade de acesso a saúde e tem ainda a questão do pudor, a questão da vergonha, isso também atrasa. Por meio desse cenário significa que nós temos todos esses fatores de forma mais intensa. Estamos em um dos estados mais pobres do Brasil, com os índices de desenvolvimento comparados aos piores países do mundo, certamente é um fator que ajuda muito”.

Partindo disso, ele destaca que a solução é simples, vacina e cirurgia de fimose “A higiene é fundamental, campanhas de higiene são importantes, mas é difícil se nós temos 2/3 dos pacientes com fimose, ou seja, nesses casos a higiene não vai ter a menor influência. Tem que fazer a cirurgia”.

Como resultado da pesquisa, eles destacam a necessidade de se criar mecanismos para que esses pacientes não demorem tanto a fazer o acompanhamento adequado. Inclusive já existe um protótipo, uma ferramenta virtual, oriunda do mestrado do urologista Leudivan Ribeiro Nogueira, também um dos pesquisadores do grupo. Gyl Eanes explica como seria o funcionamento dela.

“A meta é disponibilizar essa ferramenta para o profissional de saúde para que ele avalie o caso e tenha noção se a lesão realmente precisa ser tratada de uma forma mais agressiva ou não, caso seja necessário, após a triagem ele já encaminha para um especialista em São Luís. Chegando de forma precoce, a pessoa pode tirar só a lesão, ao invés de tirar o pênis, que é o que acontece hoje, em 96% dos casos o tratamento é a retirada do pênis, quer dizer, de 20 casos, 19 você tem que tirar o pênis para tratar, um absurdo” enfatiza.

O patologista pontua que com a ampla disseminação da ferramenta de triagem pelos postos de saúde do estado seria possível evitar algumas situações e conseguir alguns avanços, uma vez que o acesso ao tratamento seria mais rápido. Evitar que o paciente perdesse o órgão ou mesmo que vá a óbito é uma delas e seria possível também prevenir, para que nas próximas gerações a realidade seja outra e esse problema seja sanado.

Autores: Ciro Bezerra Vieira, Laisson Feitoza, Jaqueline Pinho, Antonio Teixeira-Júnior, Joyce Lages, José Calixto, Ronald Coelho, Leudivan Nogueira, Isabela Cunha, Fernando Soares e Gyl Eanes Barros Silva

Confira o artigo AQUI.

Câncer de pênis

O câncer de pênis é uma neoplasia rara nos países desenvolvidos. No entanto, a incidência nos países em desenvolvimento da Ásia, África e América Latina é alta, sendo responsável por até 10% das neoplasias malignas em homens. No Brasil, a condição pode responder por 2,1% de todas as neoplasias em homens e afeta principalmente os habitantes das regiões Norte e Nordeste. Entre os fatores de risco conhecidos para o desenvolvimento do câncer de pênis, a falta de higiene, fimose, infecção pelo papilomavírus humano (HPV), uso de tabaco e comportamento sexual de risco são os mais destacados.


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