Festa

Alcântara amanhece ao som das caixeiras na alvorada do Divino

Jock Dean/ O Estado

Atualizada em 27/03/2022 às 12h54

ALCÂNTARA - A cidade histórica de Alcântara amanheceu ao som das ladainhas da Festejo do Divino Espírito Santo nesse sábado (15). Como parte da tradição da festa religiosa, logo às 5h, músicos, caixeiras e bandeirinhas (porta-bandeiras) se reuniram em torno do mastro fincado na Praça da Igreja das Mercês, para a tradicional “Alvorada ao pé do mastro da mordoma-régia”. Depois, os festeiros seguiram em cortejo até a casa da homenageada.

Antes de ser fixado na praça, no início da noite de sexta-feira, o mastro foi carregado por cerca de 60 homens pelas ruas de Alcântara, acompanhado em cortejo por milhares de pessoas, entre moradores da cidade e turistas. O ritual de levantamento do mastro da mordoma-régia é um dos pontos altos da programação do festejo.

O dia ainda estava começando a raiar quando a concentração na Praça da Igreja das Mercês iniciou-se. Na "Alvorada", caixeiras e bandeirinhas cantam, dançam e tocam ao pé do mastro por aproximadamente meia hora, retirando-se logo depois para seguirem em cortejo pelas ruas da cidade até a casa da mordoma-régia, onde são servidas de um farto café da manhã.

Dona Ana Benedita Ferreira, a caixeira mais idosa de Alcântara, mais uma vez liderava o grupo. “Não pode existir cansaço durante os Festejos do Divino. A rotina é puxada, mas temos que seguir com ela até o último dia, senão a população esmorece”, considerou.

Reverência - Ao toque solene das caixas, as bandeiras “dançavam” em torno do mastro, realizando uma coreografia de reverência à Terceira Pessoa da Santíssima Trindade. “Os passos são fáceis de fazer, mas é preciso ter um respeito muito grande durante sua realização. Afinal, é uma demonstração de nossa fé, pois o tremular da bandeira em volta do mastro significa que ele está sendo abençoado”, explicou Aline do Carmo, uma das bandeirinhas.

Após meia hora de reverências, o cortejo seguiu pela Rua das Mercês, onde fica a casa da mordoma-régia, Conceição Lobato Sousa. Diferente do ocorrido durante a passeata do mastro, no dia anterior, pouquíssimas pessoas seguiram rumo à casa da mordoma. Ao chegarem, já encontraram as portas da casa abertas. Os participantes do festejo entraram sem muita cerimônia e seguiram direto para o cômodo onde foi montado o altar de honraria ao Divino.

Em frente ao altar branco, ricamente decorado por sedas, velas e alguns bordados, onde no centro via-se a imagem da pomba que representa o Espírito Santo, as caixeiras e bandeirinhas dançaram e cantaram diante do altar. Em seguida, terminado o ritual, que não durou mais que uma hora, da concentração em frente ao mastro até as reverências em frente à imagem do Divino, todos seguiram para a cozinha da casa, onde um banquete já esperava os devotos.

“O café da manhã, ainda que seja simples, representa um instante de congraçamento entre os irmãos. Por isso ele é o último ato dos ritos neste sábado de alvorada”, explica a mordoma-régia, Conceição Lobato. Ainda ontem, foi realizada ladainha na Igreja do Carmo e a visita da mordoma ao Império. Hoje está prevista apenas a realização de uma missa solene na Igreja do Carmo e, em seguida, visita do Império aos Mordomos, a partir das 9h.

A festa

Existem Festas do Divino espalhadas por todo o Maranhão, podendo ser classificadas em pelo menos três formas mais gerais: a famosa Festa do Divino de Alcântara; as Festas do Divino em terreiros de religiões afro-brasileiras e as festas de casas particulares realizadas por pagamento de promessa, devoção ou tradição de família em São Luís; e as demais festas do interior do Estado, seja por pagamento de promessa e devoção a algum santo, ou tradição de família.

Em Alcântara, a festa é realizada eminentemente pelos católicos, marcada por rituais na Igreja de Nossa Senhora do Carmo, construída em 1665. É considerada a maior Festa do Divino realizada no Maranhão, por constituir um ciclo que dura o ano inteiro, iniciando-se no Domingo de Pentecostes, quando ocorre o ritual da leitura do Pelouro, e terminando no Domingo de Pentecostes do outro ano no mesmo ritual de leitura do Pelouro da festa seguinte.

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