Vivemos um momento crítico em relação às mudanças climáticas. Entre outros exemplos, a crise hídrica está aí e a baixa umidade favorece o aparecimento de queimadas, o que aumenta o nível de CO2 na atmosfera.
Num país de dimensões continentais como o Brasil, esse desafio é premente e precisa ser encarado com muita seriedade. No bojo dessa questão, está a produção de alimentos, que precisa ser sustentável e crescente, simultaneamente.
Segundo a Embrapa, os alimentos produzidos no Brasil alimentam cerca de 1 bilhão de pessoas no mundo. É uma contribuição excepcional, considerando a população global de 7 bilhões de pessoas. Esse dado ganha ainda mais relevância se analisarmos que a produção brasileira de grãos cresceu três vezes nas últimas duas décadas e a área plantada aumentou somente 25%. Ou seja, estamos cada vez mais eficientes.
O processo também ocorre na pecuária, cujo aumento de produtividade é comprovado pela idade de abate, que é reduzida em 1 mês a cada ano, na média. Com isso, temos animais prontos para o frigorífico em menos tempo, o que significa uso de melhor genética, menos área ocupada pela produção e, consequentemente, menos pressão sobre o meio ambiente, além de nutrição superior, controle sanitário e a vocação dos pecuaristas.
Mesmo assim, a pecuária continua sendo foco de discussões em relação a gases de efeito estufa, devido ao metano entérico eliminado no ambiente. A ótima notícia é que há estudos da mesma Embrapa que mostram que a atividade caminha para a neutralização das emissões, tendo em vista o aumento da produção de carne por hectare e o fortalecimento de técnicas sustentáveis, como a Integração-Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), já presente em mais de 17 milhões de hectares. No âmbito federal, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) fomenta o Plano ABC (Agricultura de Baixo Carbono), o que por sua vez impulsiona a ILPF. É um círculo virtuoso.
O agronegócio brasileiro é imenso e esse movimento tem todas as condições para transformá-lo em um provedor ainda mais importante de serviços ambientais ao planeta. O sistema ILPF, por exemplo, contribui para reforma de pastagens, plantio direto na palha, fixação biológica de nitrogênio e tratamento de dejetos. Nenhum outro país do mundo tem tanto potencial para fazer essa transformação.
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Essa revolução silenciosa no campo agrega outras importantes questões relacionadas à manutenção de aquíferos, conservação da biodiversidade dos diferentes biomas e geração de emprego e renda. Eis a sustentabilidade em sua plenitude.
As pastagens têm importância vital nesse processo. Pelos dados da Embrapa Territorial, há 170 milhões de hectares de pastagens pouco aproveitadas ou degradadas. Essa área pode contribuir, e muito, para a mudança em curso.
Trazendo a discussão para a necessária (e crescente) tecnificação da pecuária, essas áreas degradadas precisam ser recuperadas para, na sequência, migrar para a ILPF e cumprir um papel essencial no equilíbrio ambiental. Nesse processo, uma série de agentes ganha importância para o sucesso do projeto como um todo. É o caso das cercas, pois um dos maiores desafios do sistema de integração é promover a eficaz divisão das áreas de pastagens, pós-agricultura e florestas, de maneira a chegar a um manejo eficiente do pasto, tornando-o verdadeiras “esponjas de carbono”.
Conhecida até bem pouco tempo atrás como um acessório apenas para dividir áreas e proteger as propriedades contra animais silvestres invasores, a cerca torna-se um item relevante no combate aos gases de efeito estufa e ao selo de fazendas com carbono neutro, comprovando a transformação que envolve, sem exceção, todos os elos da cadeia da produção de alimentos – que agora não é apenas agrícola ou animal, é dupla, devido a mais uma técnica surgida, aprimorada e em crescimento no Brasil, representada pela sigla IPLF. O mundo ainda vai ouvir falar muito dessa revolução tropical.
* Gerente de negócios da Belgo Bekaert Arames
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