COLUNA
Ibraim Djalma
Ibraim Djalma é procurador federal
Ibraim Djalma

Niágara Brasileira

A conhecida Síndrome do Niágara, de autoria de Tony Robbins, é nada menos que uma breve alegoria às nossas vidas.

Ibraim Djalma

A conhecida Síndrome do Niágara, de autoria de Tony Robbins, é nada menos que uma breve alegoria às nossas vidas.

Segundo seu autor, a síndrome narra o contínuo fluxo de um barco que desce o rio sem se atentar para onde o curso o está levando.

Contagiado pela procura da próxima pedra para evitar sofrer danos, o barco toma o rumo que a correnteza decidir por ele e sequer tenta enxergar mais além do que os próximos desafios, o que o limita a projetar seu destino final.

Nas bifurcações do rio – seus pontos de inflexão mais importantes – não costuma ser diferente. Deixa o impulso do momento continuar tomando as rédeas até que, de repente, começa a ouvir o som das cachoeiras a poucos metros de distância e percebe que está sem leme, sem domínio de decisão e próximo de cair nas cataratas.

Essa metáfora se refere ao que possuímos de mais precioso na vida, o tempo. E essa linha temporal guiada pelo acaso é comparada ao barco no rio sem lemes, a tomar um rumo no acaso que só nos damos conta quando é tarde demais. É geralmente irreversível.

Na nossa vida, o andar casuístico é resultado de uma sedução contínua pelas atenções imediatas dos acontecimentos cotidianos, do medo e dos desafios diários. O que reflete na saúde física, mental, afetiva e financeira.

No dia a dia, a Síndrome do Niágara brasileira é revelada também na previdência. E na assistência social. Sem uma preocupação com a velhice - quando então o tempo não volta mais -, é comum ver pessoas focadas apenas nos desfechos do próximo dia, vencendo batalhas em série, num ritmo inebriante que pouco permite parar para planejar o futuro, ou seja, a aposentadoria.

O Brasil possui 34 milhões (17% da população) de jovens entre 14 e 24 anos. A idade considerada economicamente ativa. Desse total, apenas 14 milhões são ocupados. Desse total de ocupados, 45% estão na informalidade.

No Maranhão são lá pelos 72% na informalidade. Recorde nacional. Santa Catarina, 25% e São Paulo, 34%.

A população dos nem nem (apelido dado aos grupos dos que não trabalham, não estudam e nem procuram trabalho) ultrapassa os 5 milhões de brasileiros. E isso soa como reflexo de uma visão por vezes conformista, por tantas outras parasitárias, para além, evidentemente, do total descompromisso com o futuro próprio. O tal final do rio.

É um clássico exemplo das cataratas de Niágara.

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Em certos termos consolados pela certeza de um benefício assistencial futuro, a sorte (ou azar) continua sendo o principal condutor na vida do brasileiro desprevenido, replicando um ciclo vicioso ao sistema financeiro da seguridade social ao passar a vida sem contribuir para a previdência e ao final receber um benefício assistencial.

Mas a verdade é que o planejamento previdenciário vai bem além de se ter um mínimo de renda. É ter um mínimo de renda digno. E isso perpassa pelo comportamento pessoal, a não mais depender do Estado.

No Brasil, quase 80% dos benefícios previdenciários pagos pelo INSS são de apenas 01 (um) salário-mínimo. Esse elevado percentual, somado à crescente demanda por benefícios assistenciais, tem escancarado o quanto o brasileiro se deixou levar pela correnteza durante toda sua vida laboral, guardando no inconsciente o engodo de que dará um jeito ao chegar à velhice. E aí, as cachoeiras chegam.

Não é difícil encontrar pessoas que passaram toda a vida em um padrão de quase 10 mil reais, ao chegar à velhice ou doentes, se verem acenando desesperadamente para receber um salário-mínimo governamental. Seja previdenciário, seja assistencial.

Tudo por conta da falta de precaução. Por que não dizer, de previdência?

As constantes reformas da previdência não se revelam apenas como um reequilíbrio de contas públicas, mas principalmente das privadas. Hoje o valor das pensões e aposentadorias são bem menores que na época da promulgação da Constituição Federal, em 1988. Aos poucos, a ideia de substituição de renda equivalente ao mesmo padrão de vida do segurado foi dando espaço para uma nova feição de substituição de renda; a paliativa de garantia de um mínimo existencial.

O sustento virou somente um alento. E os prenúncios já foram ditos.

Portanto, haveremos sempre de nos perguntar em que rio estamos navegando, a que distância as cachoeiras começam a acenar e, principalmente, se estamos usando os lemes ou é a correnteza que nos leva sem rumo.

Na vida financeira, esses questionamentos passam pelo planejamento previdenciário, seja contribuindo para o INSS, seja para a previdência privada ou mesmo outra renda passiva.

O certo é se precaver, para que os sons das cachoeiras sejam somente de contemplação.
 

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