COLUNA
Euges Lima
Euges Lima é historiador, professor, bibliófilo, palestrante e ex-presidente do IHGM.
Euges Lima

Os 180 anos da Pedra da Memória (1844/2024)

Há 183 anos, no dia 18 de julho de 1841, com apenas 15 anos, D. Pedro II, sagrava-se Imperador do Brasil, no Rio de Janeiro.

Euges Lima

Há 183 anos, no dia 18 de julho de 1841, com apenas 15 anos, D. Pedro II, sagrava-se Imperador do Brasil, no Rio de Janeiro. Ato marcado por grandes cerimônias e solenidades, com muita pompa e circunstância, digna das coroações das grandes monarquias europeias e que certamente repercutiu em todas as províncias do Brasil.

No Maranhão, a chegada da notícia sobre a coroação, gerou três dias de festejos e comemorações, dias 14, 15 e 16 de setembro desse ano, principalmente em São Luís, verdadeira festa cívica, comandada pelo presidente da província, João Antônio de Miranda, culminando com os lançamentos de obra pública, orfanato e monumento.

A Pedra da Memória é o monumento mais antigo de São Luís, projetada em 18 de agosto de 1841 pelo então Tenente Coronel José Joaquim Rodrigues Lopes do Imperial Corpo de Engenheiros, o futuro Barão de Matoso. Foi o primeiro monumento do Maranhão projetado e construído com essa finalidade específica, no sentido de guardar uma memória, uma efeméride histórica, típico de cidades civilizadas e cultas do século XIX. Segundo informações da época, foi o segundo do gênero no Brasil.

 “Pirâmide do Campo de Ourique”, assim era chamado originalmente esse monumento, pois ficava localizado primitivamente nesse logradouro, quando foi inaugurado no dia 28 de julho de 1844, portanto, há praticamente 180 anos. Hoje, é conhecido como “Pedra da Memória” e sua localização atual é o fortim de São Damião, um daqueles semicírculos, também conhecidos como meia-laranjas na Avenida Beira-mar, nas proximidades do Palácio dos Leões.

Escrevendo para o Sr. Cândido José de Araújo Viana, Ministro e Secretário do Estado dos Negócios do Império, descreveu assim o lançamento da Pedra da Memória, o presidente da província: “Na tarde do dia 15 houve nova e magnífica parada no campo de Ourique, para onde ainda concorrerão as pessoas mais gradas da capital, e immenso povo, ahi tive a honra ainda de lançar a pedra fundamental para uma Pyramide, que a corporação Militar inaugurou á Sagração de S. M. o Imperador.” (JORNAL MARANHENSE, ano I, n. 27, 1841, p. 1)

É como parte dessas homenagens feitas no Maranhão à Coroação do Imperador que se inicia a construção do Cais da Sagração no dia 14 de setembro de 1841 e a aprovação da lei pela Assembleia Provincial que cria a Casa dos Educandos Artífices, uma espécie de orfanato profissionalizante para órfãos e menores abandonados. É no contexto dessas comemorações quarentistas que são lançados os fundamentos da Pedra da Memória e que explicam as razões de sua homenagem a D. Pedro II.

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Após sua inauguração, a área posterior ao quartel militar, o então 5.º Batalhão de Infantaria, passou a ser conhecida como “Largo da Pirâmide”, onde hoje, existem os prédios do Liceu maranhense e o Ginásio Costa Rodrigues. A planta de São Luís de 1858, através de um ícone, traz a exata localização do obelisco no antigo Campo d’Ourique. Ficava localizado onde atualmente encontra-se o Colégio Liceu maranhense. A partir de sua inauguração, a Pirâmide, para além de sua importância em si, enquanto preservação de uma memória - a homenagem à coroação do Imperador, inscrita literalmente no mármore, assumiu também, outras importâncias no âmbito social, politico e cultural no cotidiano da vida da cidade de São Luís. 

A instalação da Pirâmide nesse Campo, que antes, era um imenso e vasto Largo, nu e desértico, a partir daí, cria-se em torno do monumento, uma nova tradição para a cidade, um novo ponto de referência para reuniões populares, manifestações, parada para blocos carnavalescos, paradas cívicas e até mesmo ponto para seresteiros apaixonados, sendo, portanto, seus degraus, utilizados como palco para os mais diversos oradores. 

Não havia comemoração cívica em São Luís do século XIX, onde a Pedra da Memória não fosse parada obrigatória ou mesmo ponto de culminância. É em fins desse século que a população passa a chamar a Pirâmide do Campo de Ourique, nome mais oficial, de “Pedra da Memória”, - denominação mais popular - devido a inscrição em uma de suas faces: “A memória da Coroação de S. M. I....’’ Também nesse período, a crônica local, noticia que o monumento é atingido por uma “faísca elétrica” (um raio) em meio a uma tempestade, destruindo assim a ponta da pirâmide e atingido pessoas que estavam no local.

Na década de 1940 com a urbanização do antigo Campo, que passou a chamar-se Parque Urbano Santos; a demolição do quartel militar e a construção de novos prédios, como a Biblioteca Pública e o Palácio da Educação (atual Liceu), a Pedra da Memória perdeu seu protagonismo, sendo removida, desmontada e largada nas proximidades dos destroços do antigo quartel, à mercê da provável extinção. Em 1946, numa campanha promovida pelos membros do Diretório Regional de Geografia do Maranhão, liderada por Joaquim Vieira da Luz com o objetivo de salvar o monumento, foi proposto ao poder público um novo local para o obelisco, o Cais da Sagração, na Avenida Beira-Mar, já que ambos faziam referência à mesma memória, ao mesmo momento histórico, a sagração do Imperador. Então, finalmente, em 1950, a Pedra da Memória foi trasladada e remontada no Fortim de S. Damião desse cais, onde permanece até os dias de hoje.

 

 

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