As alianças de Lula com bolsonaristas

O presidente Lula tem demonstrado ser uma pessoa muito generosa, uma capacidade imensa de diálogo com os diferentes. A generosidade de Lula é até mesmo com aqueles que já fizeram ataques políticos e pessoais a sua honra e moral. Talvez o Lula em função de não carregar ódio na mente e nem no coração tenha essa energia e vitalidade que embora aos 78 anos de idade aparenta uma força jovial espetacular.

Eu particularmente não sou daqueles ativistas que tem acordo com todas as opiniões políticas do Lula. Também não o vejo como uma pessoa que não comete erros, ou seja, infalível politicamente. No entanto, tenho profunda admiração e respeito pela história sindical e política. A estrada que Lula conseguiu caminhar não é para qualquer pessoa. Lula foi operário, líder sindical em um momento de luta por melhores condições salariais e por democracia. Lula ajudou a levar os trabalhadores para a luta contra a ditadura militar e colaborou para construir um grande partido da classe trabalhadora, o PT.

Líderes com a qualidade do Lula não aparecem do dia para a noite. Eu passei 22 anos (1993-2015) da minha vida na luta ajudando a construir um partido em defesa dos “princípios da revolução permanente” levada a cabo por uma “classe trabalhadora, independente e autônoma”. Uma postura sectária de extrema esquerda. O resultado foi que com o uso de um discurso antissistema inconscientemente ajudei a enfraquecer a democracia liberal e abrir caminho para extrema direita, o fascismo à moda Bolsonaro no Brasil.

Dessa realidade concreta tirei ensinamentos que me levou a entender que não cabe na política posições de verdade absolutas e muito menos pensar que somente eu teria razão na história. As transformações sociais que tanto vejo serem necessárias serão resultados do desenvolvimento político e econômico na sociedade em que vivemos.

Para Lênin, a teoria marxista não era uma abstração, mas uma ferramenta para a ação prática. Ele insistiu que a teoria deve ser continuamente ajustada e aplicada à luz das condições materiais e circunstâncias concretas, acreditava que a teoria de Marx e Engels só poderia ser validada e desenvolvida através da prática revolucionária. Por meio de uma análise contínua das mudanças nas condições materiais e sociais e a adaptação das estratégias de acordo com essas mudanças.

Lenin ensina que devemos verificar a necessidade de flexibilidade tática na luta revolucionária. Ele estava disposto a ajustar táticas e estratégias de acordo com a evolução da situação concreta, evitando dogmatismos e abordagens rígidas. Ou seja, atualmente diante das ameaças do crescimento da extrema direita fascista, o Lula está certo em buscar a construção de uma frente ampla na defesa da democracia, dos direitos humanos e da governabilidade. Isso não tira do Lula o compromisso de governar priorizando os menos favorecidos.

De acordo com o já escrito, opino que o Lula não está errado em ter no governo políticos que eram base de apoio do Bolsonaro, pois alguns até de forma empolgadas as custas do grande volume de recursos das emendas secretas juravam fidelidades ao Bolsonaro, isso é do jogo político. No entanto, a política é dinâmica e promove mudanças nas atitudes, pensamentos e no comportamento. Claro que para ser um político com durabilidade tem que ter a capacidade de resiliência e entender as mudanças conjunturais.

Atualmente, em função da vitória de Lula no segundo turno de 2022, o Brasil vive uma conjuntura de fortalecimento da democracia e principalmente após a tentativa fracassada de golpe pelo Bolsonaro por meio de seus seguidores e patrocinadores. Aqui devemos a firmeza da ação do Supremo Tribunal Federal principalmente na personalidade do ministro Alexandre de Moraes. Claro que, a agilidade do ministro da justiça do governo Lula, Flávio Dino, juntamente com os demais setores do governo foram de fundamental importância para o estrangulamento da tentativa insurrecional da extrema direita.

De tal maneira que a participação no governo do presidente Lula de políticos que eram defensores de Bolsonaro é uma tática necessária para garantir a sustentabilidade e governabilidade. Vale destacar a derrota que o PT e as esquerdas tiveram nas eleições de 2022 para a câmara parlamentar e para o senado federal.

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Para o Lula se fortalecer é necessário que ele seja reeleito no primeiro turno das eleições de 2026, além de eleger uma grande bancada de deputados federais com uma maioria de esquerda, três terços do parlamento proporcional e mais de 50% da casa revisora. Assim, Lula terá força para construir um governo de esquerda, com um programa ainda no marco da democracia liberal, porém com a uma política de desenvolvimento econômico com justiça social ( melhorar a média salarial nacional e implantar a redução da jornada de trabalho, ampliar os benefícios sociais para os trabalhadores no serviço público, nas empresas estatais e privadas, expandir políticas públicas de saneamento, educação, mobilidade urbana, turismo, atividades culturais, reforma agrária, políticas públicas de defesa do meio ambiente, além de garantir assistência social para todos que dela necessitam).

Ou seja, um governo de enfrentamento com a lógica de exploração capitalista e abrindo um caminho para o socialismo democrático. Contudo, para facilitar a vida do governo Lula, precisamos de mudanças de visão de mundo na sociedade, esse trabalho deve ser do PT e da esquerda brasileira, não é do governo, o governo pode até ajudar. A transição de uma democracia liberal para uma democracia participativa, direta, socialista, são os partidos de esquerda socialista que disputam na sociedade uma nova visão de mundo, na concepção de organização da sociedade política e econômica.

Assim, em conformidade com o parágrafo anterior, como o Bolsonaro não teve condições de dar um golpe na democracia liberal, o Lula também não deve seguir esse caminho. Porém sim, avançar na consolidação de políticas que ajudem a melhorar a vida do povo.

As transformações sociais e econômicas resultam dos embates políticos na sociedade e as organizações dos socialistas já avançaram em democracia e direitos trabalhistas, sociais e econômicos na própria ordem burguesa. Não digo que não seja legítimo e importante o debate sobre uma possível revolução socialista no Brasil por meio de um processo insurrecional. Entretanto, penso que o melhor caminho para a humanidade na construção do socialismo é o desenvolvimento das forças produtivas, é o progresso da humanidade.

Na política as mudanças de mentalidades podem ser rápidas ou lentas, podem ser motivadas por diversas experiências. Os petistas devem ser a parte humanamente mais evoluída na sociedade, mais humanitária. De tal maneira que assim como não defendemos "pena de morte" para criminosos e acreditamos na ressocialização humana no mundo do crime, também devemos acreditar na ressocialização humana na política.

O fato do erro de alguns políticos no passado, longo ou recente, não deve nos mover contra, em função de atualmente estarem apoiando o governo Lula. Portanto, em vez de alguns militantes do PT ficarem com discurso contra político de direita, A ou B, vamos é lutar para transformar a sociedade que gera o político de direita ou de extrema direita, eles não são obra do Capeta e muito menos de Deus, pois são produtos da ideologia e da estrutura da sociedade burguesa.

O caminho para a construção de uma nova ordem societária, sem explorados e nem oprimidos passa pelo fortalecimento do PT nos municípios, bairros, locais de estudos e de trabalho.

 

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