COLUNA
Ruy Palhano
Ruy Palhano é médico psiquiatra.
Ruy Palhano

Sono, alimento da alma

Como sabemos o sono é regulado por um sistema complexo de regiões do cérebro incluindo o hipotálamo, o tronco cerebral e o córtex cerebral etc.

Ruy Palhano

A insônia é um distúrbio do sono caracterizado pela dificuldade em adormecer ou permanecer dormindo, resultando em sono de má qualidade ou insuficiente, o que pode afetar significativamente o funcionamento diurno e a qualidade de vida destas pessoas.  É certamente, uma das atividades fundamentais para nossa saúde mental, cognitiva e emocional. Por si só é responsável por um enorme sofrimento da população, pois é uma disfunção que afeta todo nosso bem-estar e equilíbrio, físico, psíquico, social e emocional

Do ponto da neurobiologia, podemos assegurar que o sono é uma função ultra complexo, pois envolve uma variedade enorme de fatores neurofisiológicos e neuroquímicos os quais interligados e interatuantes entre si, garantem a execução e qualidade do mesmo em suas diversas dimensões.

Como sabemos o sono é regulado por um sistema complexo de regiões do cérebro incluindo o hipotálamo, o tronco cerebral e o córtex cerebral etc. Desequilíbrios nesses sistemas podem contribuir para os diversos distúrbios do sono, entre as quais a insônia.

 Estudos de neuroimagem funcional, como a ressonância magnética funcional (fMRI) e a eletroencefalografia (EEG), Ressonância Magnética Por Emissão de revelaram padrões de atividade cerebral alterados em indivíduos com insônia. Esses padrões muitas vezes mostram uma hiperatividade em áreas do cérebro associadas à vigília e uma subatividade em áreas associadas ao sono, o que pode contribuir para a dificuldade em adormecer e manter o sono.

A regulação do sono também envolve uma complexa interação de neurotransmissores cerebrais, incluindo serotonina, noradrenalina, dopamina, histamina e GABA (ácido gama-aminobutírico). Desequilíbrios nesses neurotransmissores podem influenciar a regulação do sono e contribuir para a insônia e/ ou outras alterações do sono.

Do ponto de vista médico e psicossocial a insônia está frequentemente associada a estresse e ansiedade, e esses estados emocionais podem ter efeitos significativos na neurobiologia e na neurofisiologia do sono. O estresse crônico pode levar a uma ativação prolongada do eixo hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA), resultando em uma liberação aumentada de hormônios do estresse, como o cortisol, que podem perturbar o sono. 

O ritmo circadiano, o ciclo biológico de aproximadamente 24 horas que regula os padrões de sono e vigília, é controlado pelo núcleo supraquiasmático (NSQ) no hipotálamo. Disfunções no ritmo circadiano podem levar a distúrbios do sono, incluindo a insônia. 

A exemplo de outros estudos aqui na área do sono estudos sugerem que a insônia pode ter uma base genética em alguns casos, com certos genes sendo associados a um maior risco de desenvolver o distúrbio.

A insônia está frequentemente associada a uma variedade de condições médicas e psiquiátricas, como depressão, ansiedade, dor crônica, doenças cardiovasculares e distúrbios respiratórios do sono (como a apneia do sono). A interação complexa entre essas condições e a neurobiologia do sono pode contribuir para a insônia. Esses são apenas alguns dos muitos aspectos da neurobiologia da insônia. 

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A compreensão desses mecanismos subjacentes é crucial para o desenvolvimento de estratégias de tratamento mais eficazes para esse distúrbio comum do sono. 

Como vimos anteriormente, a insônia é um distúrbio do sono caracterizado pela dificuldade de dormir, ou conseguir manter o ciclo de sono sem interrupções durante a noite.  O psiquiatra Fábio Aurélio Leite, explica que a insônia não é, necessariamente, passar a noite toda sem dormir; ela pode se manifestar como uma alteração na qualidade do sono, ou seja, não só dormir pouco, mas dormir mal, e outros fatores como acordar no meio da noite e se sentir cansado durante o dia.

“O principal sintoma a se considerar em relação à insônia é em como ela afeta o seu dia a dia, ou seja, se a pessoa percebe uma dificuldade em desempenhar suas atividades por conta de noites mal dormidas”, explica o médico. Há pessoas que dormem, em média, 4 ou 5 horas por noite e se sentem descansadas e dispostas durante o dia todo, o que não é o caso quando a pessoa está sofrendo de insônia.

 Nos últimos anos, a insônia passou a ser inimiga de grande parte da população, e, por conta disso, deixou de ser um assunto tabu, além de ser uma doença constantemente estudada por especialistas. Segundo pesquisa da Associação Brasileira do Sono (ABS), que assegura que 73 milhões de brasileiros sofrem de insônia e a Associação Brasileira do Sono indica que 73 milhões de pessoas sofrem com a insônia no país. São brasileiros que têm dificuldade em adormecer, manter o sono durante a noite ou acordar cedo demais, e isso pode ter um impacto significativo na qualidade de vida e no bem-estar.Em grandes cidades, como São Paulo, em que o ritmo de vida é muito agitado, os índices são bem altos. Dados do Instituto do Sono (EPISONO) revelam que 45% da população paulistana queixa-se de insônia ou dificuldade para dormir.

 De forma pragmática, a causa da insônia é explicada por especialistas por meio do modelo teórico de Spielman que consiste em três fatores, que são conhecidos como os 3 Ps: 1 - Predisponentes, ou fatores de pré-disposição; 2 - Precipitantes; 3 - Perpetuantes. O fator predisponente é aquele que aparece em pessoas que possuem uma pré-disposição a ter dificuldades em pegar no sono, como uma pessoa hiper alerta, ou que possuem comorbidades como ansiedade e depressão, que são doenças que coexistem com a insônia, ou seja, não necessariamente uma é causadora da outra, mas elas possuem potencial para intensificar o quadro como um todo.

Já o fator precipitante é causado por acontecimentos que geram gatilhos emocionais como estresse e tristeza e outros transtornos emocionais e psiquiátricos . Os exemplos são doenças, a perda de um ente querido, pressão no ambiente de trabalho, ou medos e frustrações causadas por situações como a pandemia, e a circunstância de isolamento social. 

 E o último fator, o perpetuante, são os maus hábitos que atrapalham nosso sono, como comer muito antes de ir para cama, fazer atividades físicas tarde da noite, não praticar atividade física, beber muito café durante o dia, vida sedentária, uso de álcool e outras drogas, tabagismos entre outros.

Sobre o tratamento, várias recomendações são propostas, mas é sempre bom lembrar que não é apenas uma ou duas noites mal dormidas que caracterizam a insônia. Por isso, é preciso monitorar os sintomas durante duas a três semanas, e caso eles persistam, é recomendado procurar ajuda médica. Quanto mais cedo a pessoa procurar um médico, mais rápido será possível tratar e melhorar o quadro da insônia. 

O tratamento envolve Terapia Cognitiva Comportamental (TCC), que se trata de uma abordagem da psicoterapia, feita por um profissional especializado. A TCC ajudará principalmente pacientes com fatores predisponentes, como a depressão. A medicação é indicada em casos clínicos quando receitado e acompanhado por médico. E a higienização o sono, que são várias medidas adotadas para ajudar a melhorar o sono, é utilizada em paralelo com os outros tratamentos. O uso de medicamentos para o sono ( hipnoindutores) podem ser considerados.

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