COLUNA
Entrelinhas
José Linhares Jr é jornalista e editor de política no Imirante.com
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O feminismo chinfrim da senadora Ana Paula Lobato

Necessidade de aparentar empoderamento e consciência política arrasta políticas, e políticos, para o pântano da vergonha

José Linhares Jr

Poucos dias atrás a senadora Ana Paula Lobato (PSB) fez uma publicação de teor “feminista” em suas redes em que festejava as “grandes maranhenses que fizeram história”. A congressista virou motivo de chacota ao apontar o escritor Graça Aranha como uma “escritora, feminista” que inspirou gerações na literatura. Ana Paula só descobriu que se tratava de um escritor após ser ridicularizada nas redes sociais. O fato, acreditem, não é isolado. A senadora não está sozinha nessa onda de seguir assessoria e parecer “descolada” nas redes sociais. Das dancinhas de Fábio Gentil às patacoadas de Ana Paula, o que se vê é um fenômeno político caracterizado muito mais pela necessidade de parecer do que ser.

Muito mais do que elevar ainda mais seu despreparo para as coisas que tenta debater, a publicação de Ana Paula desnuda a face oculta de certo feminismo chinfrim que não é uma exclusividade dela. Ana Paula não está sozinha nessa. No Maranhão, existe uma confusão entre os direitos das mulheres e o feminismo. O impulso desenfreado para se apresentar como mulher empoderada pode levar a um mergulho desorientado em uma ideologia política complexa. Uma ideologia que, há algum tempo, não se concentra mais na defesa dos direitos das mulheres.

O feminismo deixou de ser uma jornada de todas as mulheres em busca por direitos e tornou-se ferramenta de manipulação política marxista. Não é preciso ir muito longe para ter provas disso, a própria Ana Paula, em sua cruzada “feministeen” deixa essa realidade escancarada em sua publicação.

A senadora teve três chances de homenagear mulheres que deixaram suas marcas na política, errou em duas. É claro e evidente que não poderia deixar de festejar a comunista Maria Aragão. Questão protocolar. Contudo, a fragilidade da homenagem veio nos dois outros. Enalteceu o homem Graça Aranha e uma tal de Benedita Fernandes que ninguém sabe de onde ela tirou.

Sobre colocar Graça Aranha enquanto “mulher feminista”, não cabem mais comentários. A rapaziada da internet já tratou de caracterizar devidamente o episódio. Benedita Fernandes, que nunca foi candidata e muito menos prefeita de São Luís, exaspera a ignorância que se pretende consciência política.

Lia Varela, a primeira prefeita de São Luís, era uma professora e alfabetizadora negra que foi APAGADA da história política local pelo feminismo que Ana Paula Lobato, e outras mulheres empoderadas, defendem. Eleita vereadora nos anos 1970, foi a primeira (e até hoje única) presidente da Câmara. Ao contrário do que diz Ana Paula em sua publicação esdrúxula, a mulher, educadora e negra, Lia Varela, foi a primeira prefeita de São Luís. Cargo que assumiu interinamente em 1978.

Sete anos depois, mais especificamente nas eleições de 1985, após a conquista feminina de Lia Varela, venceu em São Luís Gardênia Ribeiro Gonçalves. Ao lado de Maria Luíza Fontenele, em Fortaleza, Gardênia foi a primeira mulher eleita prefeita de capital no país.

Na vanguarda dos direitos da mulher na política nas eleições de 1985, em 1994 o Maranhão consolidou-se ainda mais ao eleger Roseana Sarney a primeira mulher governadora do Brasil.

Duvida da vanguarda? No século XIX, 100 anos antes das conquistas políticas de Lia Varela, Gardênia Ribeiro e Roseana, Ana Jansen comandou a política no estado com autoridade inquestionável. Antes de Margareth Thatcher, a tão famosa e festejada Dama de Ferro inglesa, o Maranhão já havia tido sua “sinhá”.

E por que Lia Varela, Gardênia e Roseana não são festejadas pelo feminismo que encanta tanto gente como Ana Paula? Porque não servem à causa!

Tanto Lia Varela e Gardênia (por vontade de própria) quanto Roseana (que sempre foi repudiada pela esquerda mesmo sendo esquerdista) não servem como símbolos da, vejam só, esquerda. 

Antes de ser mulher e ter história, é preciso ter uma imagem que possa ser comercializada em prol da propaganda esquerdista para ser lembrada como “grande maranhense que fez”. Se não for, não importa. Não precisa lembrar delas.

SABOTANDO A HISTÓRIA

Roseana Sarney, que se não fosse a atuação dos socialistas fabianos do PSDB teria sido a primeira mulher presidente do Brasil, foi uma mulher muito à frente do seu tempo. Governadora centralizadora que juntava a popularidade das ruas com um grande senso de autoridade administrativa, sofreu na pele o ódio dos que hoje pregam “respeito, sororidade e feminismo”.

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Por toda a década de 1990, a primeira mulher governadora do país teve sua honra atacada, vilipendiada e seus méritos pessoais diminuídos pelos comunistas do PDT, PC do B e do, vejam só, PT.

O mérito de ter sido a mais exitosa na política entre outros dois irmãos era minimizado a: “Só chegou por ser filha”. A autoridade na administração a garantia a pecha de “ser mimada”. Antes mesmo da moda de pluralidade chegar, Roseana dividia lugar em sua foto oficial com vários representantes de etnias do estado.

Roseana Sarney carrega o peso de ser uma realizadora. Ela viabiliza a milhares de meninas e garotas o sonho de atingir o pico da política estadual. Por outro lado, Maria Aragão, cuja única conquista é sua filiação ao Partido Comunista Brasileiro, é alvo de todas as homenagens feministas.

Na fantasia, pode até ser que Maria Aragão seja maior que Roseana Sarney. Na verdade, a comunista não possui envergadura para lustrar o salto do sapato da atual deputada.

Não se trata de opinião, se trata de fatos: o feminismo chinfrim que faz políticas como Ana Paula Lobato de joguete trabalha arduamente para apagar Ana Jansen, Lia, Gardênia e Roseana da história. Ao mesmo tempo que enaltecem figuras débeis como maria Aragão. Ana Jansen, Lia, Gardênia e Roseana são todas infinitamente maiores que maria Aragão no mundo real. Se tivessem se filiado ao PT, PSOL ou PCdoB, também teriam maior representatividade na realidade.

Se Roseana tivesse sido do PSOL, ninguém no país iria saber quem foi Marielle Franco. 

FEMINISMO E FAMÍLIA NÃO COMBINAM

Aliás, não raro é ver as “feministas” maranhenses publicando fotos felizes com seus filhos, maridos e familiares. O que, também, mostra o estado de ilusão que o feminismo atirou essas mulheres.

Simone de Beauvoir, que poucos anos atrás foi saudada por Ana do Gás (uma feminista de calibre semelhante ao de Ana Paula Lobato) na Assembleia Legislativa, era uma confessa militante pela destruição da família. “Enquanto a família e o mito da família não forem destruídos, as mulheres ainda serão oprimidas”, disse certa vez.

Sobre a maternidade que as feministas maranhenses costumam enaltecer em suas redes sociais, Simone de Beauvoir afirmava: “As tarefas da modernidade tendem a fazer da mulher uma escrava. Eu penso que o combate deve ser contra as escravas da maternidade”. 

Certos chavões políticos são sedutores. Por isso, muito perigosos. A sensação de adequação estética em muitas vezes é uma arapuca que termina fazendo de vítimas os desavisados. 

Promovem o feminismo em suas redes sociais figuras como Ana Paula Lobato e Ana do Gás. Contudo, não seria surpresa se, ao confrontarem ideias de autoras renomadas como Simone de Beauvoir e Judith Butler, rejeitassem o apresentado.

Isso porque o feminismo da classe política maranhense é meramente estético. Ser feminista é “bonitinho”, é “legal” e soa bem nas redes sociais. É estético porque é meramente feito por aparências. Por aparências permitidas!

Porque se assim não fosse, não seriam Graça Aranha, Benedita Fernandes e Simone de Beauvoir as enaltecidas e homenageadas, mas Ana Jansen, Lia Varela, Gardênia Gonçalves e Roseana.

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