COLUNA
Dr Hugo Djalma
Médico nutrólogo e neurocientista
Dr Hugo Djalma

Neurobiologia da ansiedade

Todos nascemos “prontos” para aprendermos a sobreviver.

Dr Hugo Djalma

Todos nascemos “prontos” para aprendermos a sobreviver. E isso vale desde o ventre materno, ouvindo as vozes relacionadas a cuidados, quanto aos primeiros dias de vida usando outros estímulos sensoriais para distinguir o que é melhor para você.

Os bebês observam o comportamento dos outros humanos, as palavras faladas, atribuem significados dependendo dos contextos, se arriscam a reproduzí-las mesmo não sabendo e achamos fofo quando dizem que gostam de ir para a “icola”.

Acontece que essa habilidade necessária para nos adaptarmos aos nossos ambientes permanece até nos últimos suspiros. E acredite, tão importante lembrar foi esquecer o que não estava sendo usado.

Seu cérebro precisa de elementos para formar simulações de possibilidades circunstanciais para se antecipar aos acontecimentos, e tudo atrelado a sua existência. Prever as possibilidades é tão essencial para a vida na terra que suas células também têm essas ferramentas.

Em 2017 o nobel de medicina foi para os cientistas que estudaram cronobiologia, ou melhor, os fenômenos biológicos no chrónos (tempo em grego). Entenda por temperatura, pressão arterial, sono, flutuação hormonal e outros parâmetros no decorrer do dia. Michael Rosbach, Jeffrey Hall e Michael Young estudaram mecanismos moleculares e descobriram genes que regulam o ciclo circadiano nas células de organismos multicelulares, ou seja, animais, plantas e nós também.

Isso mostra que a antecipação sempre foi uma necessidade de sobrevivência. Seu cérebro foi selecionado para se adaptar e, dentre as melhores adaptações, antecipar-se é a mais importante.

Estudos sobre alucinações mostram que em ambientes extremos de previsibilidade como motoristas no deserto ou pilotos na segunda guerra acabavam por criar “verdades alucinógenas” demonstrando que somos incapazes de tolerar a inatividade e acabamos por criarmos nossas sensações autônomas. Tudo isso para tentar se antecipar a partir de dados que capturamos sobre algo. Precisamos, biologicamente, da incerteza.

Agora você entendeu que antecipar-se é vital e por que sua ansiedade foi uma habilidade positivamente selecionada na evolução. Vai ter chuva? -tire a roupa do varal!!

Estamos agora na lacuna evolutiva do que chamo de: cérebro hipervigilante.

Continua após a publicidade..

Na biologia, é incontestável que evitar riscos sempre é mais interessante que buscar recompensas. Esteja colhendo belas laranjas em seu quintal quando vier em sua direção uma cobra e perceba que sua atitudes de fugir ou defender-se serão automáticas. E não será prioridade saber se as laranjas estarão no cesto ou espalhadas no chão.

Acontece que, se você nascesse em 1000 AC ou 1000 DC, provavelmente conseguiria emprego em qualquer lugar; como auxiliar de carpinteiro, cuidador de animais, entregador ou até caixeiro viajante.

Nas últimas 10 décadas, ou seja, quando a industrialização e tecnologias evoluiram o que em toda existência sapiens não havia, alguém de 400 AC surgisse de repente no centro de macau, na china, pensaria que estava em um sonho ou que enlouqueceu.

Nossos problemas se tornaram tão detalhados que se alguém não responde sua mensagem em 5 minutos, dezenas de presunções seu cérebro fará. Agora tornaram-se problemas bater metas de vendas, enviar e receber e-mails, atualizar dados virtuais, emagrecer ou ser emagrecido ou até lutar por tudo para sustentar uma imagem simulada no TikTok ou Instagram. Bem-vindos à era das virtualizações e dos excessos imaginários.

Some então: seu mente evolutivamente filtrada para criar previsibilidades o tempo todo sobre tudo e uma época em que os problemas são distantes da necessidade biológica de sobrevivência (como alimento, sono e água) e orbitam nas esferas das suposições.

Resultado somos nós: a era sapiens com mais previsibilidades de acontecimentos com cérebros hipervigilantes que simulam o tempo todo riscos de sobrevivência. Mais conhecido por “ansiedade”.

O pior de tudo mesmo é quando esta habilidade, outrora evolutivamente necessária para estarmos aqui, é, hoje, uma das maiores causas de mortes por suicídios; seja em vida social, profissional ou familiar, seja em morte biológica.

Portanto, diante deste cenário em que a vida tornou-se complexa por colateral de nosso cérebro extremamente resolutivo e simulador de circunstâncias. É de mesma importância sabermos que tudo que pensamos, calculamos, planejamos e fazemos são, no máximo, previsibilidades em potencial de acontecimento e quase sempre os fatos ocorrerão diferentes do imaginado.

Por fim,” não andeis ansiosos por coisa alguma; antes em tudo sejam os vossos pedidos conhecidos diante de deus pela oração e súplica com ações de graças; e a paz de deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em cristo jesus”

As opiniões, crenças e posicionamentos expostos em artigos e/ou textos de opinião não representam a posição do Imirante.com. A responsabilidade pelas publicações destes restringe-se aos respectivos autores.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais X, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.