Jovens, envelheçam!
Como disse Nelson, com genialidade, sintetizando a diferença entre jovens e adultos: “O jovem tem todos os defeitos do adulto e mais um: o da inexperiência”.
O título deste artigo é um resumo do pensamento de Nelson Rodrigues, cuja fala completa é esta:
"Se o homem, de uma maneira geral, tem vocação para a escravidão, o jovem tem uma vocação ainda maior. O jovem, justamente por ser mais agressivo e ter uma potencialidade mais generosa, é muito suscetível ao totalitarismo. A vocação do jovem para o totalitarismo, para a intolerância é enorme. Eu recomendo aos jovens: envelheçam depressa, deixem de ser jovens o mais depressa possível, isto é um azar, uma infelicidade. Eu já fui jovem também e não me reconheço no jovem que fui. Eu só me acho parecido comigo aos dez anos e após os trinta. Eu já era o que sou quando criança. Na adolescência eu me considero um pobre diabo, uma paródia, uma falsificação de mim mesmo. Depois, a partir dos trinta, eu me reencontro. Por isso, digo aos jovens: não permaneçam muito tempo na juventude que isto compromete.”
Nelson nos convida a refletir sobre a conduta imatura, típica daqueles que ainda “curtem” a adolescência, e que para alguns, infelizmente, não cessa nem mesmo com o avanço dos anos.
Isso não quer dizer que a juventude só tenha defeitos e a fase adulta seja o ápice dos acertos. Não, a juventude também tem qualidades. Todavia, não há dúvidas que a imaturidade da juventude é um problema em termos de tomada de decisões e que, quando amadurecemos, as deliberações tendem a ser mais acertadas, porque frutos de maior ponderação.
Ou como disse Nelson, com genialidade, sintetizando a diferença entre jovens e adultos: “O jovem tem todos os defeitos do adulto e mais um: o da inexperiência”.
Contudo, a maturidade não se adquire apenas com o passar dos anos, com a renovação de cada primavera, com a chegada dos trinta anos. A maturidade é um processo que envolve o tempo, mas, mais do que isso, envolve a aquisição do conhecimento.
E quando falo de conhecimento não estou me referindo somente ao formal, aquele adquirido nos bancos escolares e que representa apenas uma parcela do todo. O conhecimento ao qual me reporto é infindável e nunca pode ser adquirido por um só homem, mas permite a um só homem adquirir mais sabedoria – muito embora esse ganho de sabedoria ainda traduza uma minúscula parte do todo.
Sobre o conhecimento, Thomas Sowell, economista, filósofo e crítico social norte-americano, observa que há hoje em dia dois tipos de pessoas: os Ungidos e os Trágicos.
Segundo Sowell, os Ungidos, que se encontrariam em profusão entre os intelectuais e os formadores de opinião, seriam aqueles que se acham detentores de todo o conhecimento, final e absoluto, e que, com efeito, têm o direito de impor que os outros sigam seus passos sem questionar. Para estes, o ser humano, como pregava Jean-Jacques Rousseau, não teria pecado original, sendo a formação cultural a responsável pelos seus pecados. Como solução, estes sempre indicam uma mudança profunda na sociedade, uma revolução que descarte tudo que outrora foi construído e não apenas uma mudança gradual, mantendo aquilo que deu certo. E aí, defendem, por exemplo, a destruição de bustos e estátuas de homens e mulheres que, mesmo tendo contribuído para as artes, a literatura, as ciências etc, teriam sido, em seu tempo, escravocratas. Ou seja, destrói-se o homem e a sua obra.
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Ao contrário, os Trágicos – e, de logo, declaro-me pertencer a este grupo – sabem das limitações dos seus conhecimentos e das imperfeições humanas desde sempre. Isso afasta aventuras revolucionárias, pois se sabe que esse novo homem perfeito não advirá de nenhum ato humano, por mais bem intencionado que seja o proponente. A sociedade, formada por homens, e não por anjos, deverá avançar na busca por mais desenvolvimento, civilização e igualdade, com cautela, mantendo intacto o que deu certo e reformando, sem o uso de armas e barricadas, aquilo que precisa mudar. Ou seja, com mais Revolução Gloriosa e menos Revolução Francesa.
Como muito bem resume Sowell, ao criticar a visão dos Ungidos e sua tentativa eterna de construir uma nova sociedade a partir da destruição de tudo que a humanidade construiu até agora: “Grande parte da história social do mundo ocidental, nas últimas três décadas, foi uma história de substituição do que funcionou pelo que soa bem.”
Dito isso, registro a minha preocupação com a tendência crescente de formação de Ungidos na sociedade ocidental, em detrimento da formação de mentes Trágicas. E isso tem a ver justamente pela redução acentuada da inteligência, que, com a idade e algum conhecimento formal, pode se transformar em sabedoria.
Michel Desmurget, diretor de pesquisa do Instituto Nacional de Saúde da França, no livro “A fábrica de cretinos digitais”, traz dados de pesquisas realizadas que demonstram que a geração digital, essa que hoje usa intensamente as plataformas e programas digitais, tem QI inferior ao dos seus pais.
Isso é preocupante, pois como tão bem concluiu Sowell: “É preciso um conhecimento considerável apenas para perceber a extensão da sua própria ignorância”.
Portanto, se o QI do jovem atual é inferior ao do seu pai, coisa que antes nunca aconteceu na história, a conclusão possível é que teremos mais Ungidos, que se entendem detentores de grande sabedoria e uma vontade inabalável de promover uma revolução.
Jovens, por favor, envelheçam, e acrescento, larguem o Tik Tok e vão estudar, principalmente as obras clássicas.
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