COLUNA
Verdades Inconvenientes
José Linhares Jr é jornalista e editor de política no Imirante.com
Entrelinhas

O Dia Nacional da Burrice

Declaro o dia 8 de janeiro o Dia Brasileiro da Burrice. Intime-se e cumpra-se.

José Linhares Jr

A burrice é uma das piores características do ser humano. Porque ignorante do que tem obrigação de saber, comete os erros mais estúpidos possíveis. Pior de tudo: sem ter a noção da gravidade de si mesma, segue sendo burra.

O dia 8 de janeiro não foi uma explosão inesperada, foi a apoteose de meses de preparativos.

Tudo começou com idolatria imbecil de militares. Ignorante da praga que foi o governo militar, que além de matar a direita na figura de Carlos Lacerda lá no seu começo, arruinou a economia e montou um estado gigantesco que entregou de mão beijada para a esquerda.

A onipresença social da esquerda em escolas, universidades, sindicatos e na política foi obra dos militares que, 20 anos depois, foram elencados pelo bolsonarismo como “salvadores”.

O processo de emburrecimento não afetou apenas as bases, mas também a cúpula. Enquanto Lula escolheu um vice que foi por mais de dez anos no estado em que o petismo teve seu pior desempenho nas eleições de 2018, Bolsonaro escolheu Braga Netto. O general tão conhecido no Brasil quanto o príncipe soberano Hans Adam II, de Liechtenstein.

Após a divulgação dos resultados eleitorais, uma multidão se reuniu diante dos quartéis, esperando que os militares interviessem para "salvar" o país. O clima de conspiração engolfava qualquer tentativa de racionalidade e, dia após dia, a convicção de que os militares não tomariam nenhuma medida deu espaço ao desespero crescente de que era necessário agir.

Então, uma semana após a posse do presidente Lula, milhares se dirigiram a Brasília para uma grandiosa manifestação em um fim de semana.

Certa vez Nietzche escreveu que “a loucura é uma exceção nos indivíduos, mas a regra nos grupos.” O dia 8 de janeiro deveria carregar essa frase consigo. Temperado por desespero e burrice, o evento não tinha como não dar errado. Como deu!

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Em uma Brasília deserta, milhares de bolsonaristas e simpatizantes desarmados, acompanhados por crianças e idosos, decidiram que depredar patrimônio público poderia preencher a lacuna da ação militar que não veio. A quebradeira em 2023 não foi a primeira. Nada que Brasília nunca tenha visto em dia de semana em 2006, 2013 2014 e 2017. Só que a quebradeira, nestas feitas, se deu pelos “movimentos sociais”. Então, melhor deixar para lá.

Televisionados em tempo real para todo o país, os vândalos irresponsáveis desarmados foram transformados em terroristas sanguinários que pretendiam tomar o poder no país sem trazer consigo nem um mísero estilingue.

O que se deu após o dia 8 de janeiro foi uma esperada e organizada propaganda que tratou de demonizar vândalos. Então veio o Judiciário, aquele mesmo que costuma libertar traficantes que carregam milhares de assassinatos nas costas, aplicando penas implacáveis contra pessoas que nem sequer estavam em Brasília no dia 8. Caso do despachante Juliano Martins, que ficou quatro meses preso, acusado de participar do ato em Brasília mesmo não estando em Brasília.

Sema anistia, gritam uns. Bem, Cleriston Pereira da Cunha não terá anistia. Réu primário, morreu no presídio da Papuda sem ser condenado após o ministro Alexandre de Moraes negar-lhe a liberdade necessária para cuidar de sua combalida saúde.

É fato que a punição seguida aos atos burros do 8 de janeiro nem de longe são merecidas. No país influencer fica livre após incentivar suicídio, é duro achar que quem quebra cadeira, porá e janela vai pegar anos de prisão. Como a dona de casa Jupira Rodrigues, de 57 anos, condenada a 14 anos de prisão por ser uma terrorista perigosa.

Apesar da injustiça e perseguições cruéis, o fato é que o dia 8 poderia ser evitado se toda a cadeia de burrice que levou a ele tivesse sido evitada.

No fim, essas pessoas foram vítimas da própria ignorância. Deram aos seus algozes tudo, e mais um pouco, que eles precisavam para anestesiar o país por alguns meses. Só foram execradas pela opinião pública e covardemente condenadas pelo Judiciário porque, meses antes, deixaram-se trancafiar no calabouço da ignorância.

Uma ignorância que começou na idolatria por militares que, para bons conhecedores da história, sempre atuaram para piorar as coisas no Brasil.

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