Aquela estrela
Dezembro chega e com ele as luzes que emolduram as casas, as ruas e praças. Para todo lado que se vê, tem luzes acesas.
Dezembro chega e com ele as luzes que emolduram as casas, as ruas e praças. Para todo lado que se vê, tem luzes acesas. A inspiração das luzes natalinas está centrada na ideia de que o Menino nascido em Belém é a “luz do mundo” (Jo 8,12).
“Para o povo que andava nas trevas, brilhou uma grande luz” (Is 9,2). Outra fonte de inspiração para tantas luzes acesas é a “estrela de Belém” , aquela que guiou os magos e os conduziu ao encontro da família refugiada numa gruta, por não haver para eles um lugar na hospedaria” ( Lc 2, 1-7). A estrela luminosa os guiou ao encontro dessa novidade!
Naquela cena, formada por imigrantes, refugiados e animais descansava sereno o menino que seria “causa de contradição” (Lc 2,34-35).
No Natal de Belém, talvez a luz da lamparina de José fosse a única a clarear a noite ao relento, aquecendo e protegendo Maria e o menino. Nem conforto, nem luxo, só o aconchego da família, o alento do amor.
A cena do Natal nos inspira. Inspira até mesmo quem não crê ou quem não vê em Jesus o Salvador ou Messias. Mas esse jeito de Deus chegar, de se aproximar, de assumir nossa forma, já é suficiente para instar alguma reflexão.
Naquela angélica noite, os anjos entoaram um canto novo, exaltando a glória de Deus que nos visitou, pedindo paz à terra e aos homens e mulheres daqui. É a mensagem da manjedoura de Belém. É a mensagem da cruz de Jerusalém.
Passaram-se mais de dois mil anos do primeiro Natal e muitas luzes foram acesas por esse caminho. Neste Natal, volto a pensar naquela estrela e, receio que ela não apareça no céu de Belém ou que seja ofuscada pelo brilho das explosões; dos mísseis insanos, das bombas e estilhaços que roubam a cena e paz da cidade da esperança. Receio que as luzes de Belém, - e Belém é todo mundo, não sejam capazes de superar a escuridão da guerra e o luto de centenas de mães e pais que perderam e perdem seus filhos para o ódio dos Herodes de hoje. A ameaça ao crescimento e ao direito à vida destas crianças e suas famílias de Gaza fazem, deste Natal, um Natal com cara de Getsêmani, com cor e forma de Calvário.
A multidão dos anjos do primeiro Natal, substituída por tropas e tanques, bombardeia nosso sonho de paz, e põe em dúvida nossos bons propósitos. O que mesmo queremos celebrar no dia 25? Se a guerra e a morte de crianças não nos comovem nem nos causam indignação, qual foi a mensagem que captamos do aniversariante Jesus?
Depois de dois anos de guerra contra um vírus mortal, cujo inimigo era a humanidade inteira, estamos a assistir o horror da guerra, o genocídio geograficamente calculado, a apagar as luzes da esperança de um mundo novo.
Não nos deixemos, pois, vencer pelo pessimismo, pelo sentimento intimista de paz, nem tampouco pela indiferença.
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Com ou sem as luzes acesas, sempre haverá Natal! A luz verdadeira, sinalizada por aquela estrela, continua viva a iluminar os sinais dos tempos e o passo a passo da nossa história.
Lembro de Buarque e o cito quase em súplica: “ Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir. A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir. Por me deixar respirar, por me deixar existir. Deus lhe pague”.
Na noite de Natal, acenda uma vela e, tendo uma criança em casa, abrace-a apertado, e nesse abraço faça com ela uma prece serena pelas crianças de Belém, pelas crianças do mundo. Nelas, ontem e hoje, Deus se comunica e se revela.
Apesar da escuridão e da dor, “uma luz brilhou para nós, um Filho nos foi dado”. Que Ele, nossa luz, nos inspire a inquieta paz do agir, e nos faça faróis de sua presença.
Paz para Gaza! Paz para o Mundo!
E assim, uma prece, por um Natal Feliz para todos!
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