Jesus
Ouso falar de Jesus e seu roteiro para a vida diária.
Muito já se escreveu sobre Jesus e penso que certamente você sabe muito mais que eu sobre a vida Daquele que considero meu Mestre. Claro que aqui não me passa pela mente, em nenhum momento, qualquer tentativa de proselitismo ou convencimento religioso, mesmo porque penso que a religião é o que você pratica no dia a dia, em plena luz do dia com os amigos e adversários ou no escurinho de sua solidão, nas noites escuras de suas dúvidas.
Peço licença para ousar falar Dele, tanto por conta da data de hoje, como por compartilhar um pouco da admiração que tenho por esse Homem e do que se chama de Evangelho ou “Boa nova” – que compreendo como um roteiro extraordinário para o dia a dia, para a compreensão das relações de nós conosco e com o mundo...
Mahatma Gandhi falou que se desaparecessem todos os livros sacros da humanidade e só se salvasse "O Sermão da Montanha", nada estaria perdido. É nesse sentido que gostaria de me referir. Entendo o Evangelho (os quatro!) como um roteiro prático da vida diária. Como trabalhar com os outros? Como enfrentar a ansiedade e a irritação? Qual a perspectiva do futuro para ser feliz?
Vivemos talvez a época mais materialista de toda a história da humanidade! Contraditoriamente, o conforto extraordinário que a tecnologia nos proporcionou desaguou em relações superficiais, que são como espumas nas ondas do mar da vida que esconde as profundezas de nosso “eu” – algo que tememos olhar, encarar, ver, não só os peixinhos bonitinhos nadando daqui para acolá de nossas eventuais bondades mas os tubarões que temos de domar de nosso mundo interno.
“Bem-aventurados os mansos” é um libelo pela construção interna de autocompreensão e autodomínio. Manso não porque foi derrotado ou porque não reagiu às agressões dos outros. Manso porque, internamente, não precisa agredir para se impor nem necessita fugir e se esconder para viver! Manso porque dialoga com a vida e o mundo e o compreende da forma que é, sem fugir, sem se intimidar, mas sem agredir, sem violentar.
“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos”. Ah, a justiça! Alguns amigos evocam a “justiça de Deus” ou “justiça dos homens”. Aqui não entendo a frase no sentido jurídico do termo – nem para os crimes que acontecem na terra ou aqueles que evocam a vida futura esperando que os outros sejam punidos em crimes perpetrados sem conhecimento do Judiciário.
Entendo essa justiça como a relação interna, de você com seu eu, ou seja, a sede que cada um sente para se julgar, no final do dia, quando deitar, de uma forma que a consciência, em primeiro lugar, não o condene. Mas que fundamentalmente encontremos a própria consciência tranquila e aprovando o dia que passou. Justiça!
Claro que não se pode pensar em Jesus sem a vida futura. Aliás, não vejo nenhum sentido em viver sem espiritualidade. Melhor aplaudir os niilistas e imediatistas que agem de acordo com o mundo imediato e superficial. São mais coerentes obviamente do que os pregadores que falam uma coisa e vivem, internamente, outra. Nunca compreenderam! Tem uma frase em japonês que fala que “compreender e não fazer ainda é não compreender”.
Há nomes extraordinários na História que falaram a mesma mensagem que Jesus, ainda que antes dele mesmo. Relembro, neste momento, de Sócrates e Buda. Reverencio-os e já li muito sobre eles e seus ensinamentos. Mas me sensibilizo quando relembro Maria de Magdala, Joana de Cusa ou Maria, sua mãe, acompanhando, junto a Ele, os seiscentos metros que separavam a Torre Antônia do Gólgota. Ele tinha sido açoitado a noite inteira! Ensanguentado, o corpo recoberto em feridas, carregava o madeiro aviltante nas costas.
Só mulheres O acompanharam no dia de sua hedionda execução, com exceção de João. Ah, as mulheres, quanta coragem elas tiveram ao longo da História! Quem defende os maridos, os filhos, os companheiros quando eles erram? As mulheres! Que homem tem essa coragem e envergadura de socorrer os que afundam nos pântanos de seus erros!? Mas não era o caso de Jesus, que nunca errara e, no entanto, seus companheiros O abandonaram...
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Jesus não apareceu, no terceiro dia, para Pedro ou Tiago, que tinham vidas ilibadas, e correram de manhã para o túmulo arranjado por José de Arimateia, segundo o relato de Mateus. A primeira aparição depois da morte – e nisso o diferencio dos gigantes Buda e Sócrates, porque o Mestre retorna para provar a imortalidade – foi para uma mulher lutadora que tudo abandonou para viver o que ele pregava e pregar o que ele viveu. Viva Maria de Magdala!
Portanto, quando as luzes de Natal acendem, e o sol delicado desperta os primeiros raios da manhã, neste dia de Natal, relembro o diálogo Dele com Maria. Ela tinha ido antes de todos, para realizar os ritos que se fazia para seus mortos amados...
— Mulher, por que choras? Quem buscas? ...
— Raboni! – ela o reconheceu, exultante, e O tratou de forma carinhosa “meu mestre”.
— Maria!...
Jesus aparecia radioso, junto com as brisas da madrugada e os primeiros raios tímidos de sol.
— Não me detenhas! ... vai para meus irmãos, e dize-lhes que eu sigo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus!
Era madrugada de um dia que despertava e clarearia inúmeras vidas séculos afora!
Feliz Natal!
*Allan Kardec Duailibe Barros Filho, PhD pela Universidade de Nagoya, Japão, professor titular da UFMA, ex-diretor da ANP, membro da AMC, presidente da Gasmar.
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