Problemas do comportamento brasileiro
A falta de conhecimento de si acarreta muitos problemas e o brasileiro padece pelos destemperos do seu comportamento.
Certa vez assisti à entrevista de um padre que, perguntado sobre sua maior qualidade, respondeu: “Ser espanhol!”. E explicou que, em razão de seu temperamento enérgico, era persistente e exitoso em suas empreitadas. Ao ser perguntado sobre seu maior defeito, respondeu: “Ser espanhol”, pois este mesmo traço passava a impressão errônea de que era zangado e rude. Há duas coisas certas nesta resposta: 1) os espanhóis são conhecidos pelo seu temperamento; 2) um mesmo traço pode implicar em coisas boas e ruins. O brasileiro é bem conhecido pelo seu jeito simpático, divertido, intuitivo e sentimental. Temos a facilidade em criar conexões e animar qualquer ambiente. Mas qual é o lado ruim?
Atuando nos setores público e privado, pude observar como os traços que citei são acentuados. Isto se verifica na dificuldade em lidar com o oposto, o que explica, em parte, nossa dificuldade com o que é formal e objetivo. Aproximamo-nos com facilidade (simpatia) e conquistamos intimidade (informalidade), mas, com a mesma facilidade (sentimental), atritos perturbam a relação e os projetos que estão inseridos: trabalho, grupo comunitário etc.
Nossa intuição, aliada à informalidade, produz uma comunicação do tipo em que parte é dito, parte é adivinhado – mais os floreios e “arrodeios”. Não temos costume de nos ater ao que foi dito, mas ao que pensamos que queriam dizer. No trabalho, isto produz mal entendidos, e falar de forma direta e formal pode soar como rude (sentimental). Talvez seja por isso que as críticas soam como ofensa.
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Entre superiores e subordinados, verificam-se outros problemas. Se a ordem do chefe não for como quem pede um favor a um amigo, soa como grosseira (sentimental/informal). Da mesma forma, os superiores extravasam suas ordens com afazeres muito além da função. No trato, a necessidade de criar intimidade (simpatia) ou promover o bom-humor (divertido) já resulta em irreverência (informalidade). Observe como as pessoas se dirigem aos seus superiores: pais, professores, autoridades etc.
Nosso comportamento é influenciado por disposições genéticas e fatores ambientais, e ainda que não possamos eliminá-los, podemos moderá-los, pois somos, afinal de contas, dotados de razão e livre-arbítrio. Ao fim e ao cabo, podemos decidir, mesmo que nossa vontade sinalize o contrário. Não somos apenas um amontoado de impulsos, como dizem algumas falsas correntes que não percebem o que nos separa dos animais.
Como somos um país marcado pela diversidade, há várias nuances de comportamento por região. No geral, essa é a tendência. Muitos traços não são intrinsicamente ruins, o bem ou mal que produzem depende das circunstâncias. Cabe a nós buscar aperfeiçoamento para evitar pecar pela falta ou pelo excesso.
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