COLUNA
Ibraim Djalma
Ibraim Djalma é procurador federal
Ibraim Djalma

A fábula dos macacos e o direito previdenciário

Até onde você contesta os paradigmas que lhes são impostos e te impede de buscar seus direitos previdenciários?

Ibraim Djalma

Atualizada em 29/08/2023 às 15h16

Uma experiência científica colocou um grupo de cinco macacos numa jaula e, no meio dela, uma escada e lá em cima um cacho de bananas.

Quando um macaco começava a subir na escada para pegar as bananas, um jato de água fria era jogado nos que estavam no chão. 

Foi então que, depois de certo tempo, quando algum macaco ia subir a escada, os outros o pegavam e batiam nele.

Depois de algum tempo, apesar da tentação pelas bananas, nenhum macaco subia mais.

É agora que começa o experimento.

Os cientistas substituíram um dos macacos por um novo e a primeira atitude desse novo foi subir a escada. 

Mas de pronto foi retirado pelos outros macacos, que o surraram. 

Depois de algumas surras, o novo integrante do grupo não mais subia a escada.

Fizeram então com um segundo macaco, que foi substituído e, ao tentar subir a escada, foi também surrado pelos demais, inclusive pelo novato que o antecedeu, com o mesmo entusiasmo dos outros.

Trocaram o terceiro e o quarto e o mesmo aconteceu. 

Até que trocaram todos os macacos e o comportamento deles se manteve o mesmo. Nenhum ousava subir a escada porque era surrado pelos demais, mesmo sem nenhum nunca ter tomado um banho de água fria.

E aqui entra o questionamento. 

Até onde você contesta os paradigmas que lhes são impostos e te impede de buscar seus direitos previdenciários?

Ouso responder, citando esses parâmetros.

Ditados populares, pesquisas no google, amigos em mesa de bar, um conhecido de um conhecido que trabalhou no INSS ou simplesmente os noticiários vagos de TV e agora, mais do que nunca, o instagram.

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Os livros, bem, esses vão ficando para depois.

Aí as notícias fáceis acabam ganhando espaço no dia a dia e deixando para depois o conhecimento sobre determinado direito que, sem demagogia, poderia transformar a vida de muitas pessoas, principalmente os previdenciários, pois conferem rendas mensais na maioria das vezes para uma família inteira.

Quem nunca ouviu falar que se a viúva se casar de novo perde a pensão? Ou que alguém aposentado não pode receber acumulada a pensão do falecido com a sua aposentadoria? Ou que pode continuar sacando benefício do falecido por 3 meses para pagar o funeral? Ou ainda que quem recebe um benefício assistencial não pode receber auxílio-brasil?

Pois é. E aviso logo que todas acima são falsas, mas moldam o comportamento de muitos – assim como os macacos novatos – que nunca tomaram um banho de água fria.

É que, sem perceber, acabamos sendo inseridos nas rotinas como a dos macacos e aceitando as coisas como nos foram apresentadas da maneira mais simples, sem contestar a origem ou a possibilidade de mudar o cenário. 

E isso fatalmente nos prejudica.

Imagine você passar 10 anos sem pedir uma pensão por morte a que teria direito simplesmente por acreditar no que te falaram, que você era filho de concubina e não poderia receber. Ou que a partir dos 18 anos você já é de maior e que a pensão por morte já acabaria mesmo. Ou que depressão é só doença da cabeça e não gera auxílio por incapacidade temporária. 

E por aí vão dezenas de contos que guiam nossas rotinas e certamente nos traçam um destino totalmente diferente, simplesmente porque não subimos a escada sem contestar sequer se podemos pegar o cacho de bananas.

Há uma gama de direitos que podemos exercer. Mas também de deveres. O problema está na jaula, quando nela somos postos e acreditamos somente no que nos é apresentado. E fim.

Agora imagine isso numa vida inteira. 

Procrastinação, comodismo, bloqueios mentais, emocionais e insegurança. Não importa.

É hora de realmente ultrapassarmos a barreira das jaulas, subirmos as escadas e pegarmos as bananas. Não só conclamar direitos a boca pequena sem saber sequer se pelo menos existem. 

Aliás, a moda agora é invocar direitos. Só que com base nos outros macacos que também não subiram a escada.

Salve o Estado de Direito.

Mas faça isso direito.

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