Sob o meu cajado e os pombos
Para não polemizar, um exemplo alheio ao momento deixa claro o cenário que o termo crime de opinião inaugurou no campo dos debates.
Uma das conjunções mais revolucionárias que se inventou nos últimos tempos foi o hoje coloquial e famoso crime de opinião.
Tão brilhante foi sua criação num ambiente de debates, que a sua espantosa incongruência se viu um tanto quanto intimidada diante do nocaute arrebatador investido.
Na verdade, esse termo traz, em um só momento, uma série de enunciados, pois quem primeiro o proclama não só intimida o oponente a não mais defender seus argumentos momentâneos, como inibe qualquer investida futura acerca de qualquer assunto contrário aos pensamentos do detentor da intitulação revolucionária.
E mais, deixa claro que, a partir dali, quem primeiro acusa a opinião do outro de criminosa, ostenta o cajado das verdades absolutas que podem ou não serem ditas; a critério, é claro, do seu detentor.
Foi então que sucumbiram todas as demais formas de opinião que contrariassem seus brilhantes criadores.
A figura desse novo “todo poderoso” agora tem a sua frente um trator, que arrasta fora tudo que já foi construído e abrindo espaço para a invasão de qualquer inovação teórica, por mais fantasiosa que seja.
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Para não polemizar, um exemplo alheio ao momento deixa claro o cenário que o termo crime de opinião inaugurou no campo dos debates.
De repente, seus detentores – imbuídos animosamente dos princípios de proteção ao meio ambiente, proteção aos animais, somados a conotações históricas e divinas – passam a defender o direito absoluto de os pombos serem não somente intocáveis, mas que a todo cidadão se deva a obrigação de alimentá-los e dar-lhe lugar para abrigo e reprodução.
Esse discurso, agora antecipado com seu escudo arrebatador, se viu fortalecido por considerar criminosa qualquer opinião contrária à proteção exagerada dos pombos. Aliás, nem exagerada é uma adjetivação aceitável, pois, segundo os novos padrões, seria crime.
E por aí se projeta o terreno fértil ao autoritarismo ideológico, numa incongruência ontológica de chamar de crime – portanto proibir e punir – a exteriorização dos pensamentos, mas, ao mesmo tempo, utilizar a mesma arma para se expressar o que quiser sem medo de posicionamentos contrários.
Mas quem está dentro do campo de debate pouco enxerga os passos largos dados a favor dessa retórica, que vem inibindo pouco a pouco os espaços de opinião e inserindo invasiva e discretamente os efeitos dessa tocaia cautelosamente planejada.
Não causará espanto o momento em que as opiniões serão raras e os crimes banais, pois quem se investir primeiro de senhor controlador das opiniões criminosas, será o dono do cajado e, quem sabe, os pombos venham a ser um dia idolatrados.
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