Ilusão é o que somos
A Ciência chegou à conclusão de que seu Eu, esse Eu pelo qual você faz tudo, esse Eu não existe.
“O ser humano é a soma de suas ilusões” Henry James
Que a vida é uma ilusão, muitos já sabiam, ou disso, pelo menos, desconfiavam. Só isso explica que milhares e milhares de pessoas se ponham em filas intermináveis fazendo jogos de loteria sabendo antecipadamente que nada vão ganhar. Que nos julguemos à imagem e semelhança de Deus etc etc.
O que não se sabia é que não só a vida é uma ilusão como, principalmente, a própria pessoa, enfim, nós mesmos, você, seu próprio Eu, caro leitor. Isso, a Ciência chegou à conclusão de que seu Eu, esse Eu pelo qual você faz tudo, esse Eu não existe, é simplesmente uma ilusão, na verdade apenas a soma de um monte de Eus atirados em sua memória.
Mais ou menos como uma chuva de Eus caindo ao sabor das condições imprevisíveis da vida. Como na famosa música de Lulu Santos que diz que “nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia “, você não é o mesmo que era dois segundos antes e tudo aquilo em que se resume a sua impressão de continuidade não passa de uma farsa. Assim como uma pedra não tem um centro de gravidade real seu eu não passa de uma convenção, uma tentativa vã de acreditar que existe como único.
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Reportagem de capa da revista Galileu, de anos atrás, ressalta esse tema baseado em estudos de neurologistas e psicólogos. O Eu não passaria de uma ilusão da mente que, de fato, abrigaria uma profusão de Eus disputando espaço, entre si, na mente humana. O neurologista norte-americano Daniel Dannet vai mais longe afirmando que uma constante sucessão de idéias, lembranças e relatos disputa nossa atenção como numa espécie de teatro e que uma sucessão de vozes em disputa conversando entre si seria um retrato mais fiel daquilo que chamamos consciência. A forma que encontramos para dar sentido a esse turbilhão é dizer que há um Eu comandando tudo, mas esse eu é apenas um conceito.
Já para a psicóloga inglesa Suzan Blackmore o que nos faz diferentes de outros animais não é a consciência, mas a capacidade de imitar o comportamentos dos outros, e que achar que há um Eu dentro de nós controlando nossos atos é uma simplificação grosseira.
Isso não deveria se transformar em drama – o fato de não existirmos, de fato - , pelo contrário, para Rachamandu, reconhecer que o Eu é uma ilusão, nos tornaria menos egoístas. Convictos que nossas vidas e nós mesmos não passamos de ilusões, restaria a possibilidade de escolher entre as ilusões as melhores, mais ou menos na base do cada um tem a ilusão que merece. Ao invés das ilusões desperdiçadas com os BBBBrasil da vida por que não com um bom romance ou um bom filme? O problema parece surgir quando de tantos Eus possíveis possam prevalecer exatamente os piores, como nas bipolarizações em torno de ídolos sem compostura ou idéias, que começaram a nos assaltar recentemente.
Para finalizar, seguindo a linha otimista de Rachamandu, bastaria pensar, para nos reconfortarmos, que se a vida e nós mesmos não passamos de ilusões, restaria sempre a possibilidade de fazer dessa ilusão uma esperança. O que já é quase uma vida.
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