COLUNA
Allan Kardec
É professor universitário, engenheiro elétrico com doutorado em Information Engineering pela Universidade de Nagoya e pós-doutorado pelo RIKEN (The Institute of Physics and Chemistry).
Coluna do Kardec

A mulher!

Ouso falar das mulheres e de sua ocupação de espaço nos últimos anos.

Allan Kardec

Atualizada em 02/05/2023 às 23h39
 

Albert Einstein teve de fugir da Alemanha, indo finalmente se refugiar nos Estados Unidos. Além de cientista, era um ativista da causa judaica e é dele a frase “cem vezes por dia eu me lembro que minha vida interior e exterior depende do trabalho dos outros. Considero as diferenças de classe como contrárias à justiça”, no livro “O mundo como eu o vejo”.

Lembrei desta frase quando fizemos a celebração do Dia das Mulheres na Gasmar. Não sou um estudioso nem conhecedor do assunto, mas um observador, um empirista. Tanto na Universidade em que ensino e pesquiso, quanto em outras atividades, percebo a clara ascensão feminina em várias posições, básicas e estratégicas.

Em nosso laboratório, que coordeno há duas décadas, testemunhei uma guinada de um grupo majoritariamente masculino para o feminino. Há alguns anos, o número de alunas eram poucas ou quase escassas. Nossos trabalhos fazem uso de muitas ferramentas matemáticas como a base fundamental para caminhar na pesquisa, como estatística, aprendizado de máquinas, inteligência artificial, neurociência ou energia de petróleo e gás.

Meus alunos são muito bons, de grande qualidade, onde as mulheres jogam um papel de alto nível. Nesses 20 anos, vi alunas que tomaram um problema do nada e conseguiram fazer trabalhos extraordinários: persistência, resiliência, bom humor, delicadeza no trato e trabalho, muito trabalho! Sempre levo outras pessoas ao laboratório para que vejam seus trabalhos. Afinal, ensinar é inspirar.

Donald Richie é um estudioso do Japão e morou longos anos por lá, falando principalmente do cinema japonês. Ele escreveu um livro de crônicas delicioso intitulado “Retratos Japoneses” em que entrevista pessoas famosas e comuns. Em um deles, pergunta a um ator que só fazia papel de mulher no teatro. Um parêntesis: no Teatro Noh, só homens eram atores. Ele indaga então: “você se sente mulher fazendo o papel?” Resposta: “não sei, eu não sou mulher!”

Como na resposta a Richie, falar de vocês é complicado porque obviamente não tenho aquilo que hoje se chama de “lugar de fala”. E aqui, nesta crônica, estou tentando fazer uma constatação e uma homenagem – e provavelmente vou falhar nas duas. Uma por falta de conhecimento e a outra por não estar à altura, claro.

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A mulher viveu tempos inglórios até recentemente. Ascendeu ao mercado de trabalho com muito e muito esforço, graças ao movimento feminista iniciado no dia 8 de março de 1917. O Dia Internacional das Mulheres é comemorado nesta data porque foi nesse dia, na Rússia, que cerca de 90 mil mulheres operárias foram às ruas protestar por melhores condições de trabalho e de vida. O fato: tinham longas jornadas de trabalho, recebiam muito menos que os homens e não tinham direito ao voto.

A História registra ainda que, alguns anos antes, em 1911, já havia acontecido em Nova York, nos Estados Unidos, uma tragédia na fábrica Triangle Shirtwaist Company, em que a maioria dos funcionários eram mulheres imigrantes. Naquele momento, houve um grande incêndio e cerca de 123 mulheres morreram carbonizadas ou asfixiadas.

Clarisse Lispector fala brilhantemente de outra asfixia, a moral, no conto “A imitação da rosa”. É bom lembrar que somos um país com índices perversos de feminicídio. Clarisse é irritantemente verdadeira do machismo brasileiro: “A paz de um homem era, esquecido de sua mulher, conversar com outro homem sobre o que saía nos jornais. Enquanto isso ela falaria com Carlota sobre coisas de mulheres, submissa à bondade autoritária.”

bell hooks ou Heloisa Buarque de Hollanda debulham para muitos esses movimentos extraordinários que acontecem hoje no planeta. Junto à revolução tecnológica (a famosa “Revolução 4.0”), creio, na minha humilde visão, que se inicia paralelamente o “Século das Mulheres”. Claro que, em uma crônica, não há espaço para enumerar todas as razões, mas diria que minha opinião é baseada na visão empírica: onde vou, a mulher tende a ter protagonismo, seja na academia, na indústria ou nos negócios.

Neste momento, lembro de minha mãe, Clesemir, cuja memória vai se esvaindo lentamente na batalha contra o Alzheimer, mas em que os exemplos diários de luta, paciência e energia seguem vivos em minhas recordações diárias. Pensando nela, busco amparo em Alex Ricciardi, em “Os 11 talentos femininos”, que compilou vários autores. Não quero traduzir para as mulheres suas agendas extraordinárias, mas talvez para aqueles homens que me leem:

  • “A maior qualidade das mulheres é que têm uma visão mais sólida da realidade. Elas não teorizam demais sobre os problemas, mas sim os atacam pelo lado concreto, por isso, são melhores em execução de tarefas que os homens”.
  • “Quando confrontadas ou colocadas em uma situação de disputa entre ideias divergentes, as mulheres têm alta capacidade de conciliar os opostos para chegar a uma solução intermediária que satisfaça a todos os pontos de vista. ”
  • “O ato de as mulheres não seguirem tanto as regras e paradigmas e de saberem desobedecê-los sem confrontá-los, apenas agindo de forma diferente, é uma enorme qualidade, sobretudo para as empresárias”.
  • “As mulheres têm uma grande vantagem, a sensibilidade. É bem mais aguçada que a dos homens, principalmente no que diz respeito ao desenvolvimento e manutenção de relacionamentos profissionais ou pessoais”.
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*Allan Kardec Duailibe Barros Filho, PhD pela Universidade de Nagoya, Japão, professor titular da UFMA, ex-diretor da ANP, membro da AMC, presidente da Gasmar.

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