COLUNA
Joaquim Haickel
Joaquim Haickel é cineasta, analista político e foi deputado constituinte em 1988.
Coluna do Joaquim

Positivista, pero non mucho!...

Uma reflexão ponderada sobre certezas e dúvidas.

Joaquim Haickel

Atualizada em 02/05/2023 às 23h38

 

 

Quanto mais eu penso e estudo, mais acredito que as minhas certezas são unicamente provenientes das dúvidas que lhes deram origem, e olhe, minhas dúvidas são muitas, viu? 

O fato de eu ser agnóstico, ter uma fé que não é vinculada diretamente a nenhuma religião formal, me faz reconhecer o quanto estou perto de ser realmente um positivista, principalmente por acreditar que a vida e o mundo serão sempre melhores se tiverem o amor como princípio, a ordem como base e o progresso como meta. Em tese essas coisas estão arraigadas a todas as ideias dos percussores das religiões, a diferença é que em mim, não há por trás delas, uma estrutura de igreja formal.

Quanto mais eu penso e estudo, mais acredito que de modo algum eu sou um ortodoxo, um radical. Procuro ser flexível, ouvir as versões e ponderar as soluções. A minha mente é tão aberta e permeável que não admite intervalos fechados. Nada de parênteses ou colchetes em minhas equações de vida, pois sempre é possível se repensar uma situação, revisar os números e agregar novos conhecimentos e novas práticas, sem mudarmos necessariamente a nossa essência.

Não se pode jamais desconhecer a história nem a ciência, mas é preciso entender que a história possui seus recortes, muitos dos quais provenientes de quem a relata, e a ciência fria, sem a luz da ética não basta para que possamos ter seu pleno e efetivo uso na vida humana.

Quando digo não aceitar religiões, não quero dizer que rejeito a ideia de uma entidade superior, uma espécie de catalizador, um maestro de uma orquestra sem músicos, mas repleta de timbres sonoros, um pintor cuja paleta é capaz de conter todas as cores do universo, sem ter que misturá-las, um professor que conhece todas as perguntas, porque saber as respostas seria muito fácil.

Quando digo que Jesus não precisa ser filho de Deus, não estou blasfemando. Simplesmente estou repetindo o que disse ele mesmo, o meu irmão galileu. Deus é amor, Deus é paz, compreensão... Deus está dentro de cada um e ninguém precisa de uma religião para ter Deus consigo, como Jesus provou que não precisava do judaísmo desvirtuado, professado pelos sacerdotes do Templo de Salomão.

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Veja, nenhuma religião será suficiente para conter Deus. Ao estudarmos o judaísmo, o cristianismo e o islamismo, descobriremos enormes semelhanças entre eles e é fácil compreender que as diferenças são apenas e tão somente temporais e culturais. As três religiões possuem a mesma base, mas o fato de terem sido estabelecidas e praticadas em momentos diferentes, por civilizações distintas, e sofrido influências próprias, fez com que cada uma se moldasse às suas próprias condições e circunstâncias.

Se Mohandas Karamchand não tivesse nascido na Índia e sua família não professasse a religião hinduísta, ele jamais teria sido o Gandhi que conhecemos hoje, e o fato dele não seguir os padrões daquele que escolhi como régua e compasso, não significa que eu não possa ou não deva, admirá-lo e exaltá-lo, pelo menos naquilo que eles têm de semelhantes. 

Costumava dizer que se me fosse dada uma única possibilidade de visitar o passado e testemunhar um fato da história, gostaria de ver com meus próprios olhos o que realmente aconteceu na vida de Jesus. Hoje já não penso mais assim. A verdade sobre Jesus não vai mais mudar meu entendimento sobre o significado de sua mensagem. Agora eu gostaria de saber o que realmente aconteceu na vida de Maomé, para quem sabe poder entender por que seus seguidores divergem tanto entre si mesmos, e como poderia encontrar um denominador comum entre eles e todos nós.

Quando eu era ainda bem jovem e alguém me perguntava o que eu tanto pensava ou escrevia, respondia garboso, querendo parecer sofisticado: “O pensamento é uma estrada que não cobra pedágio e nos possibilita fazer viagens rápidas e seguras”. É nisso que tenho me confiado em todos esses anos, mais que nos maravilhosos ensinamentos de Comte ou mesmo nos engrandecedores exemplos de Rondon.

Uma coisa é certa! Dois profetas da religião que poderia ser o criador, nos oferecem ensinamentos que devem ser ouvidos, assimilados e seguidos. “Tudo vale a pena se a alma não é pequena” e “Eles passarão, eu passarinho”, ao que meu eu polêmico, argumenta: Qual alma, cara-pálida!? Quem são eles, Passarinho!?

No final me resta uma certeza: na vida, não deve haver intervalos fechados.

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