SÃO LUÍS – Em comemoração aos 402 anos da ilha do amor, o Imirante.com visitou a Colônia do Bonfim. Você já ouviu falar desse lugar?
A Colônia do Bonfim é um antigo hospital, estilo colônia, localizado na capital maranhense. Hoje, é mais conhecido com Hospital Aquiles Lisboa, especializado no tratamento dos portadores de hanseníase.
Dizem os mais antigos que esse nome veio como reverência ao Nosso Senhor do Bom Fim, outros já dizem que era porque as pessoas eram internadas lá para ter um bom fim de vida. Mas na verdade, deve-se ao Cabo do Bomfim.
Segundo historiadores, a verdadeira origem do nome Colônia do Bonfim é porque ela foi construída para “abrigar leprosos”, na Ponta do Bonfim, sendo separada do centro da cidade pelo rio Bacanga. O local foi escolhido exatamente por ser bem afastado e de difícil acesso, pois antes a única forma de transporte era pelo mar. Assim, tornou-se ideal para o isolamento de “leprosos” como forma de afastá-los definitivamente do convívio social.
Para nos guiar por esse magnífico lugar e pela história da sua vida, contamos com a ajuda do senhor Flávio Serafim Lisboa. Com os seus 68 anos, seu Flávio fala que leva uma vida tranquila na colônia. Sorridente e muito comunicativo, ele conseguiu venceu a doença.
Ele fala que ali já foi um lugar sombrio e de muito medo. Hoje, ele até se orgulha de viver em uma pacata área da cidade. Mas diz que, durante longos anos, foi o endereço do estigma do confinamento e do preconceito.
“Naquele tempo aqui só tinha muito mato. Para vir para cá tinha de ser embarcado. A única forma de acesso era pelo mar. E tínhamos de ficar aqui no isolamento total porque, naquela época, havia a mentalidade de que o mal de Hansen era uma doença transmitida pelo vento”, explica Flávio Serafim.
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Ele conta que chegou na Colônia do Bonfim no dia 21 de março de 1962, com 16 anos. O Sanatório funcionava como uma cidade isolada, onde moravam centenas de pessoas. “Aqui tinha prefeito, delegado e havia e até cadeia, para prender quem merecia mesmo ficar no xilindró”.
Naquele tempo, os filhos de pessoas com hanseníase eram encaminhados a preventórios, locais onde são tratadas preventivamente pessoas predispostas a certas doenças. Depois de separados dos pais, os pacientes eram enviados à Colônia do Bonfim. “Nasci aqui no hospital do Bonfim. Meus pais vieram da cidade de Anajatuba, no interior do Maranhão, para cá em 1943 e aqui formaram uma família com 14 filhos”, diz Flávio Serafim.
Durante 40 anos o isolamento de pessoas com hanseníase foi imposto oficialmente pelo governo da época. No fim da década de 1940, uma lei federal determinou que todos os recém-nascidos, filhos de vítimas da doença, fossem afastados dos seus pais. Essa medida causou a separação de centenas de famílias.
Seu Flávio conta, com lágrimas nos olhos, que as crianças nascidas no leprosário, pouco depois do parto, eram encaminhadas para o Educandário Santo Antônio. “Os recém-nascidos eram logo separados de pai e mãe. Eu fui criado no educandário até os 16 anos, e quando fui diagnosticado com o mal de Hansen, me mandaram de volta para o Bonfim”.
“Na verdade, as pessoas tinham medo dos leprosos. O governo não dava muita assistência, e mandava os doentes para morrer no Bonfim. O leprosário era considerado o fim de linha. Nem a família dos doentes vinha aqui fazer visita. Hoje, tudo é bem diferente. Mas houve uma época, em algumas cidades do interior do Estado, que até tocavam fogo na casa onde havia um doente”.
Hoje, poucas são as lembranças de um lugar que já foi palco de terríveis vidas isoladas pelo preconceito. O que resiste são as belas paisagens de um “pedacinho do céu”, como gosta de falar o, alegre e receptivo, seu Flavio Serafim.
“Precisamos resgatar, com urgência, a história do Bonfim, antes que ela desapareça pra sempre. A colônia deveria ser incluída como patrimônio histórico e cultural do Estado do Maranhão.”, disse seu Flávio Serafim.
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