BRASIL - Diante da crise provocada pela guerra no Leste Europeu, a tendência é que as pressões inflacionárias se mostrem persistentes nos próximos meses, segundo a perspectiva da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). De acordo com análise divulgada pela entidade, as preocupações iniciais do varejo recaem sobre o aumento dos preços dos combustíveis, o que já aconteceu, puxado pela escalada do preço do petróleo. Após o início do conflito, no fim de fevereiro, o mineral chegou a atingir US$ 140/barril, maior cotação em 14 anos.
A previsão é que o setor supermercadista, o maior do varejo, seja fortemente impactado por pressões de médio prazo, decorrentes dos reajustes em commodities agrícolas e da possível escassez de fertilizantes, produto o qual a Rússia é um dos principais fornecedores. Diante do cenário, o presidente da CNC, José Roberto Tadros, estima a possibilidade de ajustes na trajetória dos juros básicos da economia. "Há grandes chances de aumento dessas taxas, impactando atividades mais dependentes das condições de crédito", avalia.
Considerando que o varejo de combustíveis e o setor supermercadista respondem por quase metade (48,5%) das vendas anuais no varejo, a CNC a revisou de +0,9% para +0,5% a previsão de variação do volume de vendas do setor em 2022. O reajuste menos otimista, influenciado pelo novo panorama, ocorre apesar do avanço de 0,8% registrado no mês de janeiro, divulgado hoje na Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Avanço tímido
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O crescimento, no entanto, não chegou a compensar a queda de 1,9% ocorrida em dezembro do ano passado. Além disso, o volume de vendas seguiu abaixo do observado antes da pandemia (-1%). Entre os segmentos avaliados, apenas três apresentaram um nível de geração real de receitas superior ao registrado no período que antecedeu a crise sanitária: farmácias e perfumarias (+24,2%), materiais de construção (+9,8%) e lojas de artigos de usos pessoal e doméstico (+3,5%).
Em relação a janeiro de 2021, o indicador apresentou queda de 1,9%, a sexta retração na comparação interanual consecutiva. Para o economista da CNC responsável pela análise, Fabio Bentes, o resultado reflete, mais uma vez, a dificuldade do varejo de superar a tendência de aceleração dos custos de aquisição de mercadorias nos últimos meses.
Na média, os preços dos produtos comercializados pelo varejo, medidos por meio do deflator da PMC, foram reajustados em 12,7% nos 12 meses encerrados em janeiro deste ano. Já os preços no atacado, avaliados pelo Índice de Preços ao Produtor (IPP) do IBGE, avançaram 25,4% no mesmo período, revelando um grau de repasse de 50% aos preços finais aos consumidores. "Nesse sentido, todos os segmentos do varejo têm enfrentado pressões de custos, recorrendo a graus de repasses que variam de 19%, no caso de livrarias e papelarias, a 97%, como no comércio automotivo", observa Bentes.
Cinco dos dez segmentos pesquisados pelo Instituto acusaram variações positivas frente ao mês anterior, destacando-se as taxas observadas nas lojas de artigos de usos pessoal e doméstico (+9,4%) e produtos farmacêuticos (+3,8%). Por outro lado, o varejo de alimentos (-0,1%) e o de combustíveis (-0,4%), cujos preços têm apresentado altas persistentes, inviabilizaram um avanço mais significativo do setor no início de 2022. O vestuário, outro ramo importante do comércio, sentiu os efeitos da variante Ômicron do novo coronavírus ao acusar retração de 3,9% ante dezembro.
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