O peso da repressão sexual
Confira a coluna desta semana da sexóloga e educadora sexual Mônica Moura.
Os olhares diziam muito. Sentados lado a lado, tão perto e tão distantes… só quem sofre em silêncio entende. Em dois anos de casamento, Mariana e Felipe eram desafiados por algo que roubava não só o prazer físico, mas a intimidade deles.
“Ele não consegue...”, começou Mariana, incapaz de terminar a frase. Felipe abaixou a cabeça, evitando o desconforto de dizer o que o silêncio já denunciava: ele não consegue ejacular durante as relações sexuais.
Para Felipe, aquilo era mais do que uma dificuldade física. Criado em uma família extremamente religiosa, via o sexo como algo a ser evitado, uma exclusão que marcou toda a sua juventude. Tudo o que envolvia o desejo e o prazer era visto como um pecado a ser controlado. A mensagem era clara: o corpo devia ser dominado, e o prazer, reprimido. Ele aprendeu a sufocar qualquer impulso, qualquer traço de tesão.
E agora, casado, ele se via pressionado a fazer exatamente o contrário. O que foi uma proibição durante toda a sua vida se transformou em uma cobrança. De repente, ele deve se "realizar" sem restrições, e desfrutar de algo que passou anos sendo ensinado a temer. Eis que a chave não virou com a mesma rapidez que a expectativa. “Eu amo a Mariana, quero estar com ela, mas...”, sufocado pela culpa e confusão, ele cala. Sim, hoje é permitido, mas foram 33 anos vividos em repressão.
Mariana, por sua vez, interpretou essa dificuldade como falta de desejo. "Será que sou eu?". A ausência de ejaculação, para ela, é um reflexo de sua própria insegurança, e o que antes era uma conexão natural tornou-se um campo minado de frustrações.
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E nesse dilema, tão comum e ao mesmo tempo tão pouco falado, eles sofriam calados. O prazer se tornou um orgasmo de mentirinha, e o desejo, antes espontâneo, parecia estar se perdendo em meio às expectativas não correspondidas.
Felipe tinha frustração, ansiedade, vergonha, culpa. O medo de desapontar e a preocupação detonaram a autoestima. Já Mariana tinha insegurança, decepção, preocupação e receio de não ser suficiente. Ali, no espaço entre as palavras, moravam todas as suas angústias.
Falamos sobre sexo, sobre permissão, e sobre como o prazer não precisa ter um roteiro. Felipe começou a entender que sua dificuldade não era falta de desejo, mas o peso de uma vida inteira de repressão. Mariana percebeu que não faltava desejo por ela, apesar das pressões internas que Felipe carregava. A masculinidade e virilidade dele não estavam presas à ejaculação. O prazer de um casal vai além do ato físico.
E com o tempo, aconteceu. Explorando novas formas de intimidade, sem a pressão de "performar", veio o alívio. Ao se livrar do fardo de expectativas, o prazer de Felipe fluía com mais naturalidade. A sexologia salvou essa relação.
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