SÃO JOSÉ DE RIBAMAR - A madrugada de 1938, na qual Lampião é morto em emboscada, deixa os remanescentes do bando revoltados. Cheios de fúria, eles decidem partir para uma vingança alucinada. Chefiados por Lua Nova e sua companheira Jurema, o grupo leva muito ouro, pedras preciosas e dinheiro. A riqueza encoraja a reação, mas uma volante policial parte em perseguição implacável.
Este é o mote de "Revoada", longa de José Umberto Dias, que entra em cartaz no dia 5 de setembro de 2024 em São José de Ribamar (MA), no Centerplex Pátio Norte Shopping. O elenco traz Jackson Costa, Annalu Tavares, Nelito Reis e Aldri Anunciação. O filme recebeu os troféus Cacto de Ouro nas categorias melhor atriz (Annalu), figurino (Zuarte Júnior) e maquiagem (Wilson D'Argolo) no 10º Encontro Nacional de Cinema e Vídeo dos Sertões em Floriano (PI).
Ao abordar a reação desesperada e vingativa de integrantes do bando de cangaceiros em reação à morte do líder Lampião, o filme promove uma espécie de grand-finale do cangaço. Ao mesmo tempo, permite o resgate da cinematografia nacional que se debruçou sobre o tema e que passou a ser identificado pelo termo "Nordestern", numa analogia com o western (ou faroeste) norte-americano.
Após o sucesso nos cinemas de "1798 Revolta dos Búzios", de Antonio Olavo, o projeto Distribuição Longas Bahia, produzido pelo também cineasta Vítor Rocha, da Abará Filmes, e coordenado por Walter Lima, da VPC Cinemavídeo, leva Revoada às salas de exibição de todo o país.
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Singularidade dos bandoleiros
Para o diretor e roteirista José Umberto, "o cangaceiro Lampião está para o Brasil como o samurai Musashi se manifesta para o Japão, o cowboy Billy the Kid para os EUA, o perito em artes marciais Wu Sun para a velha China e as aventuras de capa-espada do salteador Robin Hood para a Grã-Bretanha".
Mesmo sob o espírito universal do banditismo, o diretor considera que "a diversidade cultural inspira a singularidade de cada povo, a nos fazer constatar o quanto, ao longo do tempo, podemos ver perfilada toda uma linhagem de guerreiros universais que compõem o arquétipo do bandoleirismo de vendeta a atravessar o imaginário oblíquo da humanidade". Mas é certo o quanto, enfatiza o cineasta, "o fenômeno do bandido primitivo ganhou todo um corolário próprio na zona rural do Nordeste do Brasil".
Passado e presente
Paralelamente, o cangaceiro do início do século XX se constituía no jovem camponês nordestino cooptado por uma espécie de vanguarda da violência no Brasil. Esse paralelo histórico funciona como se olhássemos para o tempo pelo retrovisor e enxergássemos a realidade na sua reprodução. "As coisas se transformam, mas a essência insiste na permanência. Como se uma casca grossa insistisse em se conservar, em se reatualizar”, avalia José Umberto.
"O cangaço seduzia, então, a juventude nordestina. Essa rapaziada dividida entre a enxada e o fuzil: ou ia ser camponês ou polícia. Assim se traduzia a nossa esquizofrenia social no sertão", resume o diretor. "O filme 'Revoada' assume esse enfoque cujo núcleo é o jovem de uma região sob vários aspectos inóspita, desejoso de viver, de ter sob seu controle a seiva da vida e que opta pela rebelião existencial, por um estilo de liberdade a todo custo", conclui.
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