COLUNA
Gabriela Lages Veloso
Escritora, poeta, crítica literária e mestranda em Letras pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA).
Gabriela Lages Veloso

Filha do Fogo

Filha do Fogo: 12 Contos de Amor e Cura (2023), de Elizandra Souza, é um livro que nos convida a refletir sobre a valorização da cultura afro-brasileira.

Gabriela Lages Veloso

Ilustração: Bruna Lages Veloso

Elizandra Souza é escritora, poeta, editora, jornalista e técnica em Comunicação Visual. Nasceu em São Paulo e passou a infância em Nova Soure (BA). Há 22 anos é ativista cultural da periferia e da Literatura Negra Feminina. Integrante do Sarau das Pretas desde 2016. É autora dos livros: Punga (2007), em coautoria com Akins Kintê; Águas da Cabaça (2012), Quem pode acalmar esse redemoinho de ser mulher preta (2021) e Filha do Fogo: 12 Contos de Amor e Cura (2023). 

Segundo Maria Nilda de Carvalho Mota, no prefácio do livro Filha do Fogo, a escrita de Elizandra Souza “areja a literatura brasileira trazendo vestígios de memórias afetivas de uma população que só recentemente passou a figurar nas obras literárias como sujeitos completos” (Mota, 2023, p. 12). Filha do Fogo: 12 Contos de Amor e Cura (2023), de Elizandra Souza, é um livro que narra desde tenras memórias de infância até traumas e dificuldades enfrentadas pela população afro-brasileira.

Seus protagonistas são, em grande maioria, mulheres e homens negros vivendo situações cotidianas, recordando o passado, seguindo a irregular estrada do presente e construindo, a duras penas, um futuro mais justo e igualitário. O único conto que segue um caminho um pouco diferente é O tênis de Obary, no qual o protagonista é um tênis que narra as aventuras e desafios que experiencia ao lado da menina Obary. É interessante pensar dessa forma: qual é o ponto de vista dos objetos? Se pudessem pensar, o que falariam? Ainda mais no nosso mundo capitalista, onde as coisas não são feitas para durar.

Nos demais contos, são narradas memórias afetivas da infância, mas também o preconceito sofrido pelas mulheres negras, por conta de seus cabelos crespos ou cacheados; a pressão que a sociedade impõe para que eles sejam alisados, e a resistência daquelas que decidem usar dreads, pois tal como afirma a protagonista do conto Antes que as águas da cabaça sequem: “Não apenas pela estética, era uma afronta, um jeito de embaraçar o mundo” (Souza, 2023, p. 58).

O livro Filha do Fogo traz também estórias de fé, ancestralidade e diversas críticas à sociedade patriarcal e racista, escrava de “tradições” sem sentido, que não passam de contradições. Aliás, os contos Com tradição e Quando a lua não está cheia, as estrelas ficam mais brilhantes abordam justamente esse tema. Neles, um homem negro – militante envolvido em movimentos antiracistas – e uma cantora negra, que lutava pelo empoderamento feminino e a visibilidade da população afro-brasileira, são apanhados em situações que eram contra os seus ideais.

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Os dois acabam agindo de forma racista (e no caso do homem, de modo machista também). Eles não sabiam que “as palavras, quando separadas dos atos, descascavam como paredes velhas” (Souza, 2023, p. 80), ou seja, se o seu discurso não condiz com a sua vida, logo, ele não tem validade, é vazio. Portanto, Filha do Fogo: 12 Contos de Amor e Cura (2023), de Elizandra Souza, é um livro que nos convida a importantes reflexões sobre a valorização do povo e da cultura afro-brasileira. Esses 12 Contos de Amor e Cura são um grito de resistência, que clama por uma sociedade mais justa e igualitária.

 

REFERÊNCIA:

SOUZA, Elizandra. Filha do Fogo: 12 Contos de Amor e Cura. 2. ed. São Paulo: Global, 2023. 

Filha do Fogo: 12 Contos de Amor e Cura está disponível para venda no site da Global Editora: https://lojaglobaleditora.com.br/produtos/filha-do-fogo-12-contos-de-amor-e-cura/ 

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