Com toadas emblemáticas embalada pelo som das matracas e pandeirões, consideradas hinos pelos brincantes, o boi do sotaque de matraca é um dos mais populares do Maranhão. Originário da capital do estado, São Luís, o sotaque, também conhecido como ‘da ilha’, se caracteriza pelo som estridente das matracas.
Apesar de ter surgido na grande ilha, não se sabe ao certo a origem exata do sotaque de matraca, porém, pode-se afirmar que ele nasceu nas regiões da zona rural. Um fato curioso sobre os bois de sotaque da ilha é que, na maioria das vezes, seus membros são descendentes de escravos.
Dentre os grupos mais famosos do sotaque em questão, que atualmente somam mais de 20 em totalidade, estão: o Boi de Maracanã, Boi da Maioba, Boi de Ribamar e o Boi da Madre Deus.
Além da matraca, composta por dois pedaços de madeira retangulares, de tamanho variável, que ao serem batidas umas às outras, ecoam um som agudo e forte, os pandeirões, maracás e tambores onça, dão ritmo e arrastam uma multidão de apaixonados pela cultura popular maranhense por avenidas, ruas e arraiais durante o período junino.
“Antigamente, haviam muitas disputas entre os bois de matraca e por isso, as matracas foram elementos que entraram no boi por um acaso. Com isso, os bois de matraca foram muito oprimidos e chegaram a ser proibidos de dançar em áreas mais nobres, por conta dessa conotação das disputas”, disse a pesquisadora Letícia Cardoso em entrevista ao G1 Maranhão.
Batalhões
Os Bois de Matraca são conhecidos por seus brincantes como ‘batalhões’, devido à alta quantidade de pessoas que participam das apresentações. O Bumba meu Boi de Maracanã, por exemplo, possui cerca de 600 brincantes registrados, que saem às ruas com suas indumentárias.
“A denominação ‘batalhão’ também representa esse sentido de luta, remonta o tempo das guerras e dos conflitos armados. Mas, a gente pode perceber que eles absorveram essa denominação pela ideia de lutar, resistir, de buscar uma interação com a sociedade por meio do discurso da toada. E a luta dos bois se dá por meio dos seus símbolos, que têm tradições centenárias”, explica a pesquisadora.
Indumentária
As indumentárias dos bois de matraca possuem peculiaridades e se diferenciam, em algumas características, das demais vestimentas de bois de outros sotaques, como na utilização de materiais mais rústicos e naturais, provenientes dos animais da zona rural, como como penas de aves e couro.
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“Os brincantes vão criando de acordo com suas condições de vida. Eles usam muita pena de animais, principalmente aqueles da zona rural, porque eles tinham acesso a esse tipo de material. Hoje em dia, claro, já é algo mais sintético, mas no início, usavam-se muitas penas de animais mesmo, já que era o que podia ser extraído de forma gratuita”, disse Cardoso.
O caboclo de penas é um personagem exclusivo dos bois com sotaque de matraca. As índias, que usam vestimentas de penas de ema sintética tingidas em cores variadas e o os caboclos de fita, brincantes com grandes chapéus de fitas coloridas, também fazem parte da fantasia dos bois de matraca.
Toadas
As toadas são a definição do estilo de música característico do sotaque de matraca, sendo uma espécie de música folclórica, com letras simples, que falam sobre natureza, amor, tradição e cultura. Uma curiosidade sobre as letras das toadas tradicionais é que estas, em sua maioria, não foram escritas à mão, mas sim, memorizadas pelos cantadores. Entretanto, com o avanço da tecnologia, os cantadores mais jovens utilizam o celular ou outros aparelhos eletrônicos para gravar as letras e melodias.
O famoso trecho “Maranhão, meu tesouro, meu torrão. Fiz essa toada, para ti, Maranhão” faz parte de uma toada composta pelo cantador Humberto de Maracanã e virou um verdadeiro ‘hino’ do Maranhão.
“Uma das temáticas mais presentes nas toadas de Humberto é a natureza. É uma coisa muito forte, cantar as belezas naturais da sua região, e ele fazia isso para exaltar não só a beleza por si só, mas como uma forma de pertencimento da comunidade. Para que eles se todos os membros da comunidade se orgulhem do seu lugar e o protejam”, conclui a pesquisadora que tem desenvolvido um mapeamento dos grupos de Bumba meu boi do sotaque de matraca em São Luís. Confira a lista:
- Boi Proteção de São João do Anjo da Guarda
- Boi Mimoso de São João-Maria da Fita
- Boi da Madre Deus
- Boi de Maracanã
- Boi de Estrela do Oriente Estrela Dalva
- Boi da Maioba
- Boi da Pindoba
- Boi de Iguaíba
- Boi Matraca de Panaquatira
- Boi Sítio do Apicum
- Boi do Jaguarema
- Boi de São José de Ribamar
- Boi Tremor da Campina
- Boi Estrela Maior
- Boi Boizinho Precioso
- Boi de Matraca do Maiobão
- Boi da Matinha
- Boi da Mata Grande
- Boi Mimo de São João da Cidade Olímpica
- Boi da Vila Vitória - Estrela D’Alva
- Boi de Juçatuba
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