São João do Maranhão

Saiba mais sobre os caboclos e vaqueiros de fitas, personagens do bumba meu boi

Os caboclos de fita são conhecidos por suas indumentárias coloridas, seu bailado e pela proteção ao boi.

Na Mira

Atualizada em 24/04/2024 às 10h19
Jornalista Matheus Freitas como brincante no boi de Nina Rodrigues. (Foto: Arquivo pessoal)

Os caboclos de fita, também conhecidos como vaqueiros de fita ou "rajados", são personagens do bumba meu boi do Maranhão, que desempenham um papel fundamental na proteção do boi. Eles são posicionados nas laterais e ao redor do animal, simbolizando uma cerca de proteção. 

Além da proteção, os personagens são conhecidos por suas indumentárias coloridas e cheias de significado e do seu bailado característico, que conta com passos marcados e bem ensaiados.

A pesquisadora no programa de pós-graduação em história da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Marla Silveira, explica algumas características dos caboclos de fitas. 

“O Bumba meu boi é uma manifestação extremamente complexa, por envolver diferentes elementos e linguagens artísticas. Os vaqueiros ou caboclos de fita, também conhecidos como 'rajados', simbolizam a proteção ao boi e ao gado da fazenda”, diz a pesquisadora Marla Silveira ao g1 MA.

Chapéu de fita e seus significados

As indumentárias dos caboclos de fita são marcantes e chamam bastante atenção, devido aos grandes bordados feitos à mão com pedrarias coloridas. Esses bordados representam o enredo e personagens da fauna e flora.

Além disso, os caboclos também usam grandes chapéus com fitas coloridas, que podem ter mais de um metro de comprimento. Ao dançarem nos arraiais e terreiros espalhados pelo Maranhão, a mistura de cores encanta e acrescenta um toque especial ao enredo. 

O significado das fitas vai muito além de apenas cores e alegria. Elas simbolizam os gravetos e pedaços de madeira usados para construir as cercas que protegem o gado nas fazendas, representando assim a proteção durante o auto do Bumba meu boi.

“No contexto geral do auto, os caboclos de fita ou rajados, simbolizam a cerca que protege o boi e o gado da fazenda. Por isso as fitas, representando gravetos formando a roda, o círculo ao redor do boi, e demais personagens. Dando esse sentido de cercar, diferente de cercar como objeto, estrutura de proteção feita de gravetos e proteção de pau”, reforça a pesquisadora Marla Silveira.

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Em média, os chapéus dos caboclos podem ter mais de 400 fitas, tornando-os objetos bastante pesados. Os personagens possuem uma vestimenta semelhante à dos vaqueiros, com calças e camisas de manga comprida feitas de cetim, além de golas e saiotes de veludo. Essas vestimentas variam de acordo com os diferentes sotaques do Bumba meu boi.

Além disso, Marla Silveira destaca que o formato dos chapéus é um elemento estético que também diferencia cada personagem. “Enquanto os vaqueiros dançam mais próximo do boi, em alguns sotaques por exemplo como o de zabumba, o de Guimarães e de matraca ou da ilha, os vaqueiros bailam com o miolo do boi, dando vida e coreografando o bailado do boi, em uma encenação que simboliza o tocar o gado, conduzir, proteger como uma ação”, explica.

O ritmo contagiante das toadas do Bumba meu boi desperta uma paixão profunda naqueles que valorizam a cultura popular maranhense. Essa conexão é ainda mais intensa para aqueles que dedicam parte de suas vidas como brincantes, interpretando por meio da dança a história desse povo.

Há seis anos, o jornalista Matheus Freitas, de 25 anos, concilia sua rotina como redator e suas apresentações nos arraiais do Maranhão. À noite, ele troca sua vestimenta casual por uma indumentária colorida, assumindo o papel de vaqueiro de fitas no Boi de Nina Rodrigues. Esse grupo é um dos mais tradicionais do sotaque de Orquestra do Estado.

Em entrevista ao g1 MA, Matheus conta que antes de dançar no Nina Rodrigues, participou, por alguns anos como brincante do Boi de Icatu, cidade natal da família. Ele explica que, alguns anos depois, um trabalho de faculdade focado na rotina dos brincantes de grupos de Bumba meu boi, mudou sua vida e o levou de volta para as apresentações nos arraiais de todo o Maranhão.

“Tínhamos um trabalho de faculdade e a ideia era mostrar, por meio de um reality show, a rotina de quem participa do São João do Maranhão. Eu topei o desafio e participei da temporada junina do Nina Rodrigues em 2018. Era bem puxado, corrido, mas o amor foi tanto pelo vaqueiro de fita que desde então, eu nunca mais deixei o grupo”, conta.

Apesar da rotina desafiadora entre o trabalho e as apresentações, Matheus Freitas conta que não faltam são motivos para agradecer. Para ele, a maior recompensa é poder ser um porta-voz da cultura maranhense e inspirar as novas gerações a manterem vivas as tradições do Maranhão. 

"É muito gratificante ver os olhares de admiração das pessoas para gente quando a gente chega nos arraiais. Por conta das fitas, muitas pessoas pegam, puxam, mas é uma forma de tentar sentir um pouco dessa energia incrível. Não há nada mais importante do que a gente continuar passando essa cultura de geração para geração e a gente consegue sentir isso com os olhares de encantamento, principalmente das crianças. E só assim, nós vamos conseguir fazer com quem essas tradições continuem com o tempo", disse ele. 

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