Até que ponto é verdade que a Volkswagen pode deixar o país?
Milhares de veículos em pátios e férias de funcionários levantaram suspeitas de que marca pode seguir o caminho da Ford.
Imagens de pátios da Volks lotados de carros junto com as notícias de layoff de funcionários nas fábricas (no bom português, suspensão temporária de trabalho) levaram a muitas informações desencontradas na internet e boatos de que a marca deixaria o país.
Vou te dar 4 motivos pelos quais a Volks não vai fechar fábricas no Brasil, pelo menos não tão cedo. E por fim, um 5º motivo que poderia, sim, levar ao fechamento de alguma unidade fabril.
1º Motivo: Porque a Volks não é a Ford
A saída da Ford não era esperada, mas havia indícios. A marca tinha encerrado as atividades na fábrica de caminhões e automóveis de São Bernardo do Campo (SP), lá fora já havia anunciado só iria fabricar SUVs e picapes (e aqui a produção se limitava a Ka e EcoSport, dois projetos antigos), a participação de mercado no país despencava e a Ford já fazia tempo que perdia espaço para Toyota, Hyundai, etc.
A Volks, por sua vez, é a terceira marca que mais vende veículos no Brasil, tem quase 15% de participação de mercado e um portfólio moderno e diversificado.
2º Motivo: Vendas de junho em alta e Polo desbanca a líder Strada
A Volks conseguiu desovar boa parte de seus estoques em junho com as vendas com descontos. Com ajuda de créditos tributários, a Volks emplacou 17 mil unidades (utilizando o programa de incentivos) das quase 30 mil unidades que vendeu no total – foi a segunda marca com maior comercialização de veículos leves, atrás apenas da Fiat.
Entre os modelos mais licenciados, destaque para Polo Track, Saveiro e T-Cross. Com a linha Polo (que une todas as versões, incluindo a Track), a Volks foi a líder entre os veículos em junho: 9.949 unidades, ultrapassando até a Fiat Strada, que teve 9.007 emplacamentos.
3º Motivo: Injeção de ânimo com 1 bilhão de euros no Brasil
A Volkswagen confirmou novo plano de investimentos no Brasil até 2026. São R$ 5,3 bilhões com o objetivo de crescer 40% no país nos próximos anos junto a lançamentos de modelos flex e inéditos híbridos flex – eles estão apostando em novas tecnologias, usando etanol, e também com o programa de assinaturas. Nesse novo plano, a Volks promete lançar 15 novos carros até 2025.
4º motivo: Festona de 7 décadas!
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A Volks fez uma festa enorme na semana passada, em São Paulo, para celebrar os 70 anos da marca no Brasil. Mais de 5 mil pessoas presenciaram apresentações, desfile de carros antigos e shows de Maria Rita e Ivete Sangalo. Uma super produção!
Aproveitaram para anunciar, oficialmente, a chegada do ID.4, novo SUV elétrico, e a estrela da noite, a ID.Buzz, a nova Kombi elétrica, com o polêmico comercial em que Maria Rita faz um dueto inédito com Elis Regina.
Ou seja, uma marca que supostamente sairia do país faria uma festona dessa, investiria num comercial que viralizou e começaria a trazer carros elétricos, além de anunciar um robusto investimento?
Diante disso tudo, a Volks não fecha. Pelo menos no curto ou médio prazo.
O que pode acontecer?
Num cenário positivo, se o mercado interno desencantar e as exportações expandirem, levando a um aumento significativo de volume de produção, uma marca como a Volkswagen tem tudo para prosperar.
Nem por isso, uma ou outra planta está livre de fechar. E aqui vai um motivo que pode levar a um enxugamento de unidades fabris.
Hoje a produção da Volks é bem pulverizada. Em Taubaté (SP) é montado o Polo; em São Carlos (SP) produzem motores. Na fábrica de São José dos Pinhais (PR) é fabricado o T-Cross. Na planta Anchieta (SP), saem da linha de produção Polo, Saveiro, Virtus e Nivus.
No futuro, contudo, se houver a unificação de plataformas, uma tendência em muitas marcas, a montadora pode até reduzir o número de fábricas pelo país para enxugar gastos.
Mas isso é remoto. E vai depender das decisões globais da marca, do mercado brasileiro e da situação da América do Sul, lembrando que as montadoras instaladas no Brasil certamente terão um papel-chave nas estratégias globais de descarbonização.
*Lucia Camargo Nunes é economista e jornalista especializada no setor automotivo, editora do portal www.viadigital.com.br e do canal @viadigitalmotors no YouTube. E-mail: lucia@viadigital.com.br
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