SÃO PAULO - A Seleção Brasileira não levou 7 a 1 em 1966, mas sofreu dura derrota ao ser eliminada na primeira fase da Copa do Mundo após dois títulos consecutivos. Se a situação era evidentemente diferente da atual, há semelhanças claras, como as críticas ao treinador e a propalada necessidade de reciclagem na busca por um futebol moderno, aos moldes do apresentado pelo campeão.
“Amigos, eis 80 milhões de brasileiros numa humilhação feroz. Eu diria que a vergonha de 50 foi mais amena, mais cordial”, publicou Nelson Rodrigues, no dia seguinte ao adeus. O jornalista culpou a comissão técnica de Vicente Feola pelo vexame, usando uma frase que o alemão Schweinsteiger praticamente repetiria sobre a equipe de Felipão de 2014: “O Brasil não jogou como um time e jamais foi um time”.
Entre as reclamações do cronista – que, otimista, havia mostrado confiança no tri –, estava a de que a Seleção chegou à Inglaterra “sem um projeto tático e sem saber como ia jogar”. “E 80 milhões de sujeitos estão aí, pagando pela burrice alheia. Não apareceu ninguém para amarrar a Comissão num pé de mesa, dizendo-lhe: ‘Bebe água numa cuia de queijo Palmira’.”
Nelson não embarcou, no entanto, no caminho apontado pelo futebol-força dos campeões ingleses, com sua “saúde de vaca premiada”, nem duvidou do talento verde-amarelo. “Seria injusto, monstruosamente injusto. Porque o jogador brasileiro continua o melhor do mundo. Nada descreve e nada se compara à graça, ao sortilégio, à flama do nosso craque.”
É impossível imaginar o que pensaria o escritor hoje, mas é repetido o cenário de 1966, com a Alemanha ocupando o lugar da Inglaterra como modelo. Não se trata, porém, de um modelo propriamente estranho aos brasileiros, pois os germânicos conquistaram o tetra tocando a bola à brasileira, enquanto os pentacampeões apostaram em chutões contra todos os seus adversários.
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Sejam quais forem os conceitos táticos, a sensação após os 7 a 1 é de inferioridade. Nelson Rodrigues remou contra esse sentimento em 1966, rebatendo os que queriam “fazer do futebol brasileiro uma miserável colônia do futebol inglês”. Quatro anos mais tarde, durante a campanha do tricampeonato, zombou dos que haviam apontado o fim da linha para o futebol brasileiro.
“O que é o ‘entendido’? Veremos se posso caracterizá-lo. É o cronista que esteve, em 66, na Inglaterra, e voltou com a seguinte descoberta: – o futebol europeu em geral e o inglês em particular eram muito melhores do que o nosso. Estávamos atrasados de quarenta anos para mais”, escreveu, antes de concluir: “O ‘entendido’ só não se torna abominável porque o ridículo o salva”.
O conceito de ridículo não é algo com que tem lidado bem os brasileiros nos últimos dias. Os próximos anos mostrarão se de fato há um atraso em relação aos alemães proporcional à goleada no Mineirão. Enquanto isso, o povo que fez a Copa das Copas, encantando especialmente os campeões da Alemanha, lambe feridas que demorarão a cicatrizar.
“As grandes humilhações nacionais são temas permanentes e obsessivos. Assim como não esquecemos Canudos, nem esquecemos 50, assim continuamos atrelados à vergonha de 66”, afirmou Nelson, em pensamento que se aplica ao fracasso de 2014. “Daqui a duzentos anos, a derrota ainda será uma ferida a chorar sangue, e repito: – sangue vivo e perene.”
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