#DeixeMariaJogar

Menina de 10 anos ganha repercussão nas redes sociais após ser proibida de participar de competição de futebol

Após o caso viralizar, Maria Clara Balby foi liberada para disputar o Campeonato Maranhense de Futebol de 7 masculino.

Priscille Damous / Imirante Esporte

Atualizada em 27/03/2022 às 11h14
Zagueira dos Meninos da Vila, Maria Clara Balby foi proibida de jogar o Campeonato Maranhense Sub-11 por ser menina. (Foto: Reprodução / Instagram)
Zagueira dos Meninos da Vila, Maria Clara Balby foi proibida de jogar o Campeonato Maranhense Sub-11 por ser menina. (Foto: Reprodução / Instagram)

SÃO LUÍS - Um caso chamou a atenção nas redes sociais nos últimos dias, uma menina de 10 anos, cujo o único sonho é se dedicar ao máximo no futebol, foi proibida pela Federação Maranhense de Futebol de 7 Society ( FMAF7S) de participar do Campeonato Maranhense masculino Sub-11 da modalidade, pelo fato ser uma garota e não poder jogar com meninos, mas acontece que ainda não existe um torneio feminino da modalidade.

Inconformada com a decisão da FMAF7S, Maria Clara Balby, zagueira dos Meninos da Vila - escola de futebol do Santos FC em São Luís - gravou um vídeo pedindo apoio dos maranhenses para que fosse liberada para participar do torneio. Ao lado do diretor da escolinha, o professor Alex Fernandes, criaram a campanha "#DeixeMariaJogar" que ganhou repercussão nas redes sociais. Após a pressão com a campanha, a FMAF7S mudou o regulamento e liberou a participação da atleta no torneio.

O caso gerou comoção na internet e apoio até de atletas profissionais, como de Mayara Bordin, meia-campista da Seleção Brasileira e atuante no Málaga CF que comentou na postagem demonstrando assistência a jovem jogadora. A campanha tomou maiores proporções quando o perfil Empodere Duas Mulheres, conhecido por abranger temas relacionados ao feminismo e empoderamento feminino, divulgou o vídeo de Maria, acumulando mais de 50 mil visualizações.


Diversas mulheres relembraram que já chegaram a passar pelo mesmo quando eram mais novas e ressaltaram a importância da inclusão da categoria feminina no esporte. "Eu passei muito por isso na minha infância também!", comentou uma internauta. Vale ressaltar que no passado, diversas atletas já passaram por esse tipo de situação, como foi no caso com a maior jogadora de futebol feminino de todos os tempos, Marta Vieira da Silva, ainda no início de sua carreira.

Apoiando-se no antigo regulamento, a Federação Maranhense de Futebol 7 Society veio a público e emitiu uma nota proibindo a participação da pequena atleta no Campeonato: "A FMAF7S é filiada a Confederação Brasileira de Futebol 7 (CBF7), cujo livro de regras, no item 01, da regra 5, preceitua: 'O futebol 7 compreenderá as seguintes categorias: masculinas e femininas, e não poderá haver interatividade".

A decisão foi amplamente criticada, já que se trata de crianças com apenas 10 anos de idade e que nesta fase, a puberdade ainda não aflorou e não há diferenças na força física que impossibilitaria a participação da menina no Campeonato.

O presidente da FMAF7S, Waldemir Rosa, contou a imprensa, que a decisão anterior havia sido tomada em função das regras da competição e para que o regulamento fosse atualizado, ele precisou se filiar a Confederação de Futebol 7 do Brasil (CF7B), onde as novas regras possibilitam a participação de Maria Clara no torneio.

#DeixeMariaJogar

A campanha foi criada pelo diretor da escolinha e técnico Alex Fernandes, que contou com exclusividade ao Imirante Esporte sobre como surgiu a campanha que mudou a decisão da FMAF7S e abriu portas para que outras meninas futuramente participem do torneio.

"Na última quinta-feira (21), eu entrei em contato com o presidente da Federação Maranhense, e ele de pronto recusou a participação da Maria no Campeonato. Eu falei para ele que isso não faria sentido, visando que não teria diferença de força e não iria machucar, e na sexta-feira (22), logo depois, eu decidi fazer um vídeo com a Maria Clara associando ao vídeo anterior que ela já havia feito, dessa questão de pedir o apoio da população, para fazer força em frente a Federação e mobilizar, tendo em vista que a decisão não havia nenhum sentido. Isso começou em um grupo de Whatsapp e tomou proporções maiores", disse.

A atleta mirim, Maria Clara Balby também nos contou sobre a necessidade de falar sobre o assunto nas redes sociais. "Eu pensei em criar o vídeo porque achei muito absurdo o que aconteceu para eu não poder jogar, aí eu não podia ficar calada e quis fazer esse vídeo", contou.

Apoio familiar é fundamental

Muitas meninas ainda têm medo de jogar futebol, algumas pela falta de apoio da família e outras por acharem que serão julgadas por isso.

No caso de Maria Clara Balby, o apoio familiar foi fundamental em sua trajetória e principalmente na campanha para poder participar do Campeonato. Sua mãe, Priscila Balby, acompanha a menina em todos treinos e como uma mãe para lá de coruja, é fã número um da atleta e não deixa de apoia-la em suas conquistas. Já a paixão pelo futebol e pelo Fluminense, surgiu do pai, Marython, que também é um grande apoiador nas decisões da filha e faz questão de acompanha-la nos jogos e treinos.

O apoio da equipe também foi fundamental na luta para poder jogar ao Campeonato Maranhense Sub-11, Maria Clara deixou nos contou que já passou por situação que um atleta do time rival tentou tirar "sarro" por ter uma menina no time e foi defendida pelos seus companheiros de equipe: "Eles sempre me apoiam", declarou.

De Maria para outras Marias

Outro fator que chamou atenção no caso, é falta de apoio ao esporte feminino no Estado, principalmente em times de base. Com a repercussão da campanha na internet, o professor Alex Rodrigues, afirmou que está planejando trazer a franquia das Sereias da Vila para São Luís, para que assim, meninas como Maria Clara tenham a chance de jogar na modalidade e crescer cada vez mais dentro do esporte.

"Já temos o plano de formar as Sereias da Vila, uma franquia que está dentro da associação e que estamos formando a partir das categorias de base. Na verdade assim, o Santos Futebol Clube, que detém da franquia, é o clube que mais investe no futebol feminino no Brasil e essa é uma característica do clube, incentivar o futebol feminino como inclusão social principalmente, tendo em vista que hoje o futebol é um fator decisivo para isso e as mulheres tem que praticar o esporte, jogue como uma mulher", garantiu.

O caso se repete, não é de hoje que meninas são proibidas de jogar a modalidade em diversas competições. Em 2017, a ESPN contou a história de Julia Rosado, a menina que ganhou a liberdade de disputar competições oficiais de futebol contra meninos. “Me tornei federada neste ano. Acho bem legal porque posso dar exemplo para outras meninas conseguirem jogar futebol. Então, gostei muito disso”, contou a pequena atleta para a ESPN.

Através do desempenho e talento no esporte, a menina que na época tinha apenas sete anos, foi apontada como uma futura Marta ou Formiga da nova geração do futebol feminino. Meia-esquerda, que na época jogava na escolinha do Barcelona, Julia virou repercussão nacional ao demonstrar que não tem diferença dentro de campo e joga de igual para igual com os meninos.

Caso semelhante ao de Maria Clara, que em campo demonstra que no futebol o que vale é a técnica, os dribles e a visão de jogo. "Maria é só a ponta desse Iceberg, descobrimos que no passado por exemplo, uma atleta do Flamengo foi barrada dentro de campo de participar e teve que voltar em casa. E o que foi mais catastrófico, ela não jogou mais futebol depois daquilo. Isso poderia ter acontecido com Maria, se a gente não se mobilizasse para reverter", garantiu Alex Rodrigues.

Futuro promissor

Com 10 anos de idade, Maria Clara Balby começou a jogar com apenas três anos e arranca elogios do treinador Alex Rodrigues, que afirma que a menina tem potencial e pode chegar longe no esporte.

Maria Clara Balby é promissora dentro do esporte (Foto: Divulgação).
Maria Clara Balby é promissora dentro do esporte (Foto: Divulgação).

"Maria tem visão de jogo, tem o bote certo, tem força física. Os meninos lá na escolinha, de fato, temem a marcação de Maria. A gente tem fotos dela tomando a bola, deixando os atletas no chão. Tem um bom toque de bola, desenvolveu muito a parte tática de posicionamento e acompanha o futebol, é antenadíssima no futebol e conhece até mais que eu (risos)".

O professor também revelou que jogadora está chamando a atenção de olheiros e atualmente mantém uma preparação focando em adentrar no futebol profissional em breve. "Maria é uma atleta de monitoramento do clube, tivemos no ano passado a participação de olheiros que visualizaram o futebol de Maria e disseram que: 'Olha só não iremos levar a Maria agora porque as categorias começam a partir dos 16 anos", contou

Fã de Thiago Silva, o sonho da zagueira é chegar na Seleção Brasileira Feminina. "Daqui há dez anos, eu me vejo no profissional e espero estar jogando na Seleção", contou a jogadora.

Que a história de Maria fique de exemplo para o incentivo ao esporte feminino no Maranhão, que o preconceito e o machismo fique perdido no tempo, vale ressaltar que o esporte ajuda na formação do cidadão e serve como lição para que outras Marias, Renatas, Carlas, Brunas, Julias, Priscilas, não tenham que passar pelo mesmo.

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