Especial Rio 2016

Da Jordoa para a Rio 2016: a história de um vencedor

Árbitro maranhense foi convocado para atuar na Olimpíada do Rio de Janeiro

Paulo de Tarso Jr./Imirante Esporte

Atualizada em 27/03/2022 às 11h31
Árbitro maranhense de atletismo irá trabalhar na Olimpíada do Rio de Janeiro. (Foto: Paulo de Tarso Jr./Imirante Esporte)
Árbitro maranhense de atletismo irá trabalhar na Olimpíada do Rio de Janeiro. (Foto: Paulo de Tarso Jr./Imirante Esporte)

SÃO LUÍS – Um atleta se prepara durante dias, meses e até anos visando o momento em que poderá por em prática tudo aquilo que treinou. Para alguns, o momento mais importante é aquele que antecede o início da partida ou o tiro de largada, pois é quando vem o friozinho na barriga, a adrenalina vai a mil e, dependendo do esporte, cada milésimo de segundo vira algo muito valioso. Imagine aqueles velocistas que querem se tornar o “homem mais rápido do planeta”. São apenas 100 metros e menos de 10 segundos que os separam da glória ou da frustração. A distância e o tempo podem ser poucos, mas aquela sensação é para uma vida inteira, ela é única. Mas tal sensação não se restringe a apenas aqueles oito super-homens que estão dentro das raias para quebrar seus próprios limites. A quem, de fora da pista, sinta algo semelhante a toda esta adrenalina que cerca um simples tiro de partida. É o caso do maranhense Francisco José Neves da Silva, que será árbitro de atletismo na Olimpíada do Rio de Janeiro.

A história deste maranhense vale a pena ser contada, afinal, Francisco José Neves da Silva levará o nome do Maranhão para o mundo. Aos 52 anos, Neves é sargento da Polícia Militar do Maranhão, lotado na Companhia Independente de Turismo (CPTUR). Na Rio 2016, este ex-atleta será árbitro assistente nas provas de atletismo. Em sua mente, começa a passar um filme. Aquele tipo de longa-metragem em você parece voltar no tempo e perceber que, mesmo com uma infância carente e com muitas dificuldades, é possível ser alguém do bem.

“Passa um filme do orgulho. Vim de uma família pobre, mas nem por isso que a gente foi para a marginalidade. A minha conduta é excepcional tanto particular quanto profissional. Para mim é uma coisa muito gratificante, boa demais”, revela o sargento Neves.

Criado no bairro da Jordoa pela mãe, que sustentava ele e outros oito irmãos, sargento Neves se recorda da época em que começou a praticar atletismo, esporte que rendeu a ele títulos nacionais na prova de marcha atlética e uma razão para não entrar no mundo da marginalidade. “Vim de uma família bem humilde, morava aqui na Jordoa. A alimentação era precária. Era difícil. Era uma alimentação que não era como hoje. Hoje, os atletas têm ajuda de bolsa-atleta, bolsa-escola. No meu tempo, não tinha nada disso. Tinha muito mal aquele leite ‘porronca’ do Cema (Centro Educacional do Maranhão) que nos livrava. O esporte ajuda muito. Eu tive muito colega que foi para o lado da marginalidade e eu, com o esporte, foi o inverso.”, emociona-se.

Arte: Imirante Esporte
Arte: Imirante Esporte

As dificuldades na infância serviram para que o sargento conseguisse vencer na vida por meio da superação. Hoje, é casado, tem quatro filhos e três netos. Divide com eles suas vitórias e repassa seus valores mais importantes para quem quer ser atleta, e principalmente, um verdadeiro cidadão.

“Para todos os atletas o grande legado é a superação, é pessoa se chegar a se superar em todas as formas. Para o cara ser atleta não é fácil. Tem que enfrentar todas as dificuldades porque nada vem de graça. Me orgulho de passar o que eu passei e continuar sendo honesto em vida. A honestidade é o meu maior orgulho”, diz.

Às suas marcas...

A partir daquela oportunidade de se tornar um atleta, eis que as portas começaram a se abrir para o sargento Neves no cenário do atletismo. Tornou-se árbitro da modalidade e, posteriormente, ingressou na Polícia Militar. Agora, este maranhense prepara o coração para a sua primeira competição internacional, justamente em uma olimpíada.

“Acho que a partir do momento que eu chegar ao ginásio e olhar onde eu estou, eu acho que não vou conseguir descrever. Acho que vai ser uma emoção muito grande. Espero que Deus me ajude a controlar estas emoções para que possa realizar um bom trabalho como pessoa e representar o Estado do Maranhão como árbitro de atletismo. É uma coisa que vai abrir muito as portas para mim. Eu pensava um dia em estar, mas a gente sabe que é uma coisa difícil chegar lá”, explica o árbitro.

Sargento Neves se prepara para atuar pela primeira vez em uma competição internacional. (Foto: Paulo de Tarso Jr./Imirante Esporte)
Sargento Neves se prepara para atuar pela primeira vez em uma competição internacional. (Foto: Paulo de Tarso Jr./Imirante Esporte)

Apesar da dificuldade de ter conseguido a oportunidade de atuar em uma edição dos Jogos Olímpicos, o que vier a partir de agora é lucro. Tanto que o sargento já tem um novo sonho: trabalhar na final dos 100 metros rasos, prova mais especial do atletismo.

“A visão do árbitro é de que quanto mais dificuldade melhor para ele desempenhar seu serviço e mostrar seu lado bom. É possível sim imaginar eu estar dando uma partida ou como auxiliar de partida numa prova dessas. Seria como ganhar uma medalha de ouro em uma Olimpíada”.

Saiba mais

De modo bem resumido, os assistentes do árbitro de partida devem conferir se os competidores estão participando em suas séries ou provas corretas e se estão usando seus números corretamente. Eles devem posicionar os competidores nas suas raias ou posições corretas. Além disso, são responsáveis pela entrega dos bastões aos primeiros competidores dos revezamentos e devem ficar atentos caso aconteça uma saída falsa.

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