Especial Rio 2016

Ana Paula dá a receita por medalha: ''temos que evoluir''

Exclusivo: Imirante entrevistou destaque da Seleção Brasileira de Handebol.

Paulo de Tarso Jr./Imirante Esporte

Atualizada em 27/03/2022 às 11h31
Maranhense é uma das principais jogadoras da Seleção Brasileira. (Foto: Photo&Grafia)
Maranhense é uma das principais jogadoras da Seleção Brasileira. (Foto: Photo&Grafia)

SÃO LUÍS – A partir desta quinta-feira (7), o Imirante Esporte inicia uma série de entrevistas exclusivas com alguns atletas maranhenses que vão para as Olimpíadas do Rio de Janeiro ou que já participaram de alguma edição da maior competição do planeta. Para dar o pontapé inicial, uma das melhores jogadoras de handebol do mundo: Ana Paula Rodrigues.

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No Rio de Janeiro, a maranhense estará disputando pela terceira vez os Jogos Olímpicos. A diferença das participações anteriores é que Ana Paula será uma das líderes da equipe que vai em busca da inédita medalha de ouro. Em casa, a Seleção Brasileira que voltar ao seu grande momento em 2013, quando conquistou o título mundial de handebol feminino. Será se Ana Paula e companhia vão conseguir chegar ao pódio?

Leia, abaixo, a entrevista completa desta maranhense que foi criada no bairro da Liberdade, em São Luís, ganhou o mundo por meio de todo seu talento dentro de quadra e agora sonha com a medalha olímpica.

Arte: Imirante Esporte
Arte: Imirante Esporte

IMIRANTE.COM: Experiência não falta a você que vai disputar os Jogos Olímpicos pela terceira vez. Nesta Seleção Brasileira, você é uma das jogadoras mais experientes e está em uma grande fase. O que a Ana Paula tem de mais valioso para agregar à Seleção que sonha com a medalha de ouro nas Olimpíadas?

ANA PAULA: Já estou na seleção há mais ou menos dez anos e espero estar em mais uma convocação para meu terceiro ciclo olímpico, o segundo com o Morten Soubak. Trabalhamos juntos no Hypo, e isso nos dá uma relação de amizade e confiança. Ele confia em mim e isso reflete no grupo, acabo sendo uma referência, principalmente para as meninas mais novas. Conseguimos um grupo coeso ao longo desses anos, passamos por muitas dificuldades juntas e também a conquista do Mundial de 2013 fez o grupo ficar forte. Todas têm um papel importante, somos um time. Então, acredito que minha maior contribuição à seleção é dar o meu melhor para o grupo, minha vontade de ganhar, minha garra, minha determinação.

IMIRANTE.COM: Você é uma das atletas maranhenses mais importantes atualmente. É uma das melhores jogadoras do mundo e a cada dia está evoluindo. A Ana Paula está na melhor fase da carreira? Ainda há algo que você queira melhorar em você como jogadora?

ANA PAULA: Talvez eu esteja em um momento bom na carreira e, por isso, que eu treino com esse objetivo de estar no nível das melhores jogadoras. Acho que tem sempre algo que aprender e melhorar, pois o dia que eu achar que não tenho mais nada a aprender ou melhorar, é a hora de parar.

Ana Paula vai para sua terceira olimpíada na carreira. (Foto: Photo&Grafia)
Ana Paula vai para sua terceira olimpíada na carreira. (Foto: Photo&Grafia)

IMIRANTE.COM: Como é para uma mulher, que nasceu e foi criada em bairro carente de São Luís, sair de casa e se tornar uma das mais importantes jogadoras de handebol do planeta? O que passa pela sua cabeça ao lembrar de sua trajetória no handebol? O quão foi importante a presença da sua família e amigos neste seu momento atual?

ANA PAULA: Eu sinto orgulho, pois tudo o que eu passei no início da minha carreira está valendo a pena. Passei por muitos momentos difíceis, mas nunca pensei em desistir, pois tinha um sonho que me alimentava e minha família sempre me deu o apoio que eu precisava. Tive muita sorte, pois Deus colocou muitas pessoas boas no meu caminho, que me ajudaram de tudo um pouco para que eu me tornasse o que sou hoje.

IMIRANTE.COM: A Seleção Brasileira foi campeã mundial em 2013, mas não conseguiu repetir o feito e foi eliminada nas oitavas de final pela Romênia. Estes dois momentos, um de alegria e outro de frustração, já foram superados? Como você analisa a Seleção Brasileira para a disputa das Olimpíadas de 2016? Que Brasil estará em quadra? Uma seleção mais próxima àquela campeã mundial ou àquela que caiu para a Romênia?

ANA PAULA: Eu acho que os dois resultados já foram superados, tanto o título quanto a derrota pra Romênia. Não podemos nos alimentar de resultados passados, temos que pensar pra frente. Infelizmente fizemos um jogo ruim nesse dia, erramos onde não podíamos errar, e quem erra menos é quem ganha. Eu não acho que temos que jogar igual jogamos na Sérvia, pois todas as equipes evoluíram, e isso ficou claro no último Mundial. Se quisermos conquistar uma medalha no Rio, teremos que evoluir muito mais do que todas as outras equipes.

Maranhense acredita em medalha para o handebol feminino na Olimpíada do Rio de Janeiro. (Foto: Photo&Grafia)
Maranhense acredita em medalha para o handebol feminino na Olimpíada do Rio de Janeiro. (Foto: Photo&Grafia)

IMIRANTE.COM: Para você, qual é a sensação de um atleta disputar as Olimpíadas? Você sentiu as mesmas coisas em cada um dos Jogos Olímpicos que você participou? O que mais marcou você nas duas últimas edições?

ANA PAULA: Saber que você está entre as 14 melhores atletas representando seu país é uma sensação incrível, não sei nem como descrever. Na primeira Olimpíada eu senti que só em estar ali já era uma coisa fantástica, eu não tinha tanta responsabilidade, pois eu era a mais nova do grupo e, em Londres, eu já tive essa responsabilidade de comandar a equipe. Essa foi a diferença entre as duas competições. Em Pequim, o que me marcou, foi o gol contra a Coreia no último segundo. E, em Londres, foi a derrota contra a Noruega nas quartas de final.

IMIRANTE.COM: Você hoje é uma pessoa referência para muitas crianças maranhenses que sonham um dia jogar handebol, principalmente para aquelas que vivem no bairro da Liberdade. Qual mensagem você gostaria de dizer às crianças que querem se tornar uma “nova Ana Paula”? Como é que elas podem se utilizar do esporte para realizar os sonhos?

ANA PAULA: Em primeiro lugar eu acho que temos que ter mais apoio para nossas crianças terem um estímulo maior para continuar no esporte. Meu bairro ainda é muito carente de esporte, e o esporte pode mudar a vida das pessoas, assim como mudou a minha. Poderíamos ter tido muitas outras “Ana Paula”, pois muitos talentos se perdem por falta de oportunidade. O que eu posso dizer a elas é que têm que acreditar nos sonhos, ter determinação e não desistir nas dificuldades, pois terão muitas, principalmente pela falta de apoio, mas têm que persistir.

Em 2013, Seleção Brasileira sagrou-se campeã mundial pela primeira vez. (Foto: Photo&Grafia)
Em 2013, Seleção Brasileira sagrou-se campeã mundial pela primeira vez. (Foto: Photo&Grafia)

IMIRANTE.COM: Apesar de a Seleção Brasileira feminina ter sido campeã mundial, o apoio ao handebol é ainda deficitário. A maioria das jogadoras do Brasil, incluindo você, joga no exterior, muito por conta da falta de campeonatos de alto nível no país. Há alguns anos, havia uma parceria da Confederação Brasileira com um time da Áustria e isso ajudou muito no desenvolvimento das atletas que integravam o grupo da Seleção. No entanto, o quanto esse modelo ajudou a desenvolver a modalidade dentro do país? E como o handebol pode se desenvolver mais, tendo em vista que a modalidade é uma das mais praticadas nas escolas brasileiras?

ANA PAULA: É, como você mencionou, o apoio na modalidade ainda é muito pouco. Pouco patrocínio para as equipes e é muito difícil as equipes se manterem em um bom nível sem apoio, por isso, muitas jogadoras saem do Brasil. Aqui na Europa se pode viver só do handebol, e no Brasil é quase impossível, muitas atletas no Brasil jogam e trabalham ao mesmo tempo, assim não tem como se dedicar exclusivamente ao esporte. A parceria da Confederação com o Hypo não mudou em nada o cenário dentro do país, apenas teve um objetivo: melhorar o desempenho da Seleção. Conquistamos um Mundial e nada mudou também. Mesmo com esse resultado expressivo, não foi suficiente para despertar as entidades, órgãos públicos, privados, e até da mídia o interesse de apoiar a nossa modalidade. Então, se nada for feito para profissionalizar nossa modalidade e continuarmos sem apoio, o handebol continuará sempre um esporte escolar.

Camisa 9 do Brasil tem tudo para ser decisiva no Rio de Janeiro. (Foto: Photo&Grafia)
Camisa 9 do Brasil tem tudo para ser decisiva no Rio de Janeiro. (Foto: Photo&Grafia)

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