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Tetraplégico vence desafios e dá exemplo de superação

Apesar das limitações físicas e escassez de recursos, Levi Wenceslau formou em Psicologia.

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Atualizada em 27/03/2022 às 11h08
O acidente provocou uma mudança radical na vida de Levi e na de toda sua família.
O acidente provocou uma mudança radical na vida de Levi e na de toda sua família. (Foto: Divulgação)

O paraibano Levi Wenceslau, 36, assim como muitos adolescentes, tinha o sonho de ser músico ao concluir o Ensino Médio. Mas no dia em que completaria 23 anos de vida, uma tragédia altera toda a sua trajetória. Levi foi vítima de um grave acidente automobilístico. Um cavalo morto na estrada dividiu sua vida em antes e depois daquele fatídico dia. Uma fratura na quarta vértebra cervical o deixou tetraplégico.

Entre os cinco passageiros do veículo, incluindo o motorista, Levi foi a vítima com maior gravidade. Ele passou três meses internado, respirando por meio de aparelhos, com uma rotina entre internações e altas médicas. “Virei prisioneiro no meu próprio corpo”, define. Nos longos períodos de internação, boa parte delas em unidades de terapia intensiva (UTI’s) de hospitais públicos, Levi percebeu a transformação catastrófica em seu corpo. Além da rápida perda de peso, sofreu com infecções, crises nervosas de pânico e muitas escaras, feridas profundas na pele por não ser mudado de posição no leito hospitalar. O homem de 1,70m, que chegou a pesar 35kg, só dormia sob efeito de medicamentos tarja preta.

Assista ao vídeo com uma entrevista do Levi Wenceslau contando um pouco mais sobre sua história

“Em uma situação de extrema dor e impotência, achei que fosse morrer e até desejei que isso acontecesse logo”, conta em seu primeiro livro autobiográfico Cadeira Elétrica, Memórias de quem sobreviveu. Sob o cuidado dos irmãos – os pais já haviam falecido na época do acidente – conseguiu voltar para casa mediante assinatura de um termo de responsabilidade. Sua condição de vida era frágil, inspirava muitos cuidados.

O acidente provocou uma mudança radical na vida de Levi e na de toda sua família. “Tive que aprender a viver com muitas limitações, descobrir novas capacidades para estar constantemente me adaptando. Sigo aprendendo a sobreviver”. O sonho da adolescência de tocar um instrumento musical nunca mais tinha permeado os pensamentos do jovem, mas havia a necessidade de seguir em frente. Além das limitações físicas, ele adquiriu transtornos psicológicos. Sofreu com depressão, não queria sair de casa e não via mais sentido algum para a vida. Foram cinco anos reclusos, em tratamento psíquicos e com muito apoio da família. “Como eu vi que não ia morrer, tive que buscar alternativas para sofrer menos”, conta pragmático.

Sem recursos suficientes, ganhou uma cadeira motorizada através de uma campanha de arrecadação. Apesar de estigmatizar sua deficiência, o objetivo o proporcionou um pouco de independência. A partir deste momento, estudar foi um projeto de sobrevivência, autonomia e superação. Um amigo indicou o Educa Mais Brasil e Levi cogitou a possibilidade de se matricular no curso de Psicologia. “Eu já estava desistindo, mas fui aprovado com uma bolsa de 50% de desconto”, fala lembrando que, na época, tinha como renda um salário mínimo, que mal dava para comprar a longa lista de medicamentos.

O retorno aos estudos era uma forma de retomar a interação social e voltar a sentir-se vivo. “Ter que sair de casa todos os dias para ir para a faculdade foi fundamental na minha ressocialização”, avalia. Formado há três anos em Psicologia, pela UNIME, Levi atende atualmente em consultório particular. Viver sem conseguir movimentar braços e pernas, preso à uma cadeira de rodas, não impede que ele saia diariamente de casa para amenizar o sofrimento do próximo. “Confesso que, de início, não existia vocação para cuidar do outro, não. Eu queria apenas ocupar o tempo e minha mente para amenizar a dor, o meu sofrimento”.

Com o tempo, seu exemplo de superação foi se tornando mais uma ferramenta de trabalho no set terapêutico. “Hoje, eu me vejo com maior capacidade de me colocar no lugar do outro. A experiência traumática nos torna mais empáticos”. Além do tempo dedicado aos pacientes, Levi descobriu o talento literário. Já escreveu dois livros, uma autobiografia e uma outra publicação de crônicas. No momento, dedica-se à escrita da terceira publicação e planeja novos cursos de especialização e mestrado. “As possibilidades são infinitas”.

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