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Consciência negra: "desafio qualquer um a provar que meu conhecimento é reduzido"

Resistência e políticas de inclusão elevaram número de negros no ensino superior.

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Atualizada em 27/03/2022 às 11h10
Dentre as lutas e conquistas, destaca-se o avanço considerável de ingressos de pessoas autodeclaradas negras no ensino superior.
Dentre as lutas e conquistas, destaca-se o avanço considerável de ingressos de pessoas autodeclaradas negras no ensino superior. (Foto: Divulgação)

O dia da Consciência Negra, celebrado anualmente no Brasil em 20 de novembro, é dedicado à reflexão da inserção do negro na sociedade. Dentre as lutas e conquistas, destaca-se o avanço considerável de ingressos de pessoas autodeclaradas negras no ensino superior.

Egressa do curso de Direito, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), a advogada e servidora pública Mariana Cruz, 28, sentiu na pele a dificuldade para conseguir continuar os estudos além do colegial. Contudo, a intensa vontade de ir adiante trouxe resultados que ela faz questão de comemorar. “Posso afirmar que sinto muito orgulho de ser o reflexo da positividade atrelada à política de cotas raciais. Me orgulho de ter consciência das minhas origens e dificuldades - periférica, suburbana e egressa da escola pública - e saber que tive que elevar os meus esforços para concorrer em pé de igualdade”, declara.

A advogada é fruto da política de cotas raciais na universidade pública e, também, da reserva de vagas para negros nos concursos públicos. Para Mariana, isso não a diminui perante os demais concorrentes, tampouco reflete falta de capacidade. “Eu posso afirmar que sou a prova real de que ação afirmativa dá certo, sim, e tem um retorno positivo, se muito bem administrada. Desafio qualquer um que conteste essas políticas, muitas vezes sem conhecê-las a fundo, a provar que meu conhecimento é reduzido ou inferior ao de qualquer outro colega”, argumenta.

Assim como Mariana, outros cidadãos em situação semelhante também estão conseguindo cursar uma graduação. Como reflexo, o número de pretos e pardos na universidade pública ultrapassou, pela primeira vez, a metade das matrículas em 2018, somando 50,3%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O estudo comparativo foi feito com as informações do suplemento de educação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio - Contínua (Pnad Contínua), que começou a ser aplicado em 2016. De acordo com o levantamento, a população negra está melhorando seus índices educacionais, tanto de acesso como de permanência nas instituições de ensino superior.

Já na universidade particular, o número de estudantes negros dobrou, de acordo com o último censo do IBGE. Para o pesquisador do referido instituto, Claudio Crespo, a melhora nos indicadores é relevante, “mas como a desigualdade é histórica e estrutural, os ganhos para a população preta ou parda só aparecem com organização e mobilização social e políticas públicas direcionadas”.

Nesse contexto, o estudante de Jornalismo, João Salvador, também soube aproveitar a oportunidade de ingressar em uma faculdade. Apesar dele e sua mãe não terem condições de pagar as mensalidades do curso de graduação, o sonho de João pôde ser realizado através do Educa Mais Brasil, maior programa de inclusão educacional do país.

“Foi aquele gol aos 45 minutos do segundo tempo. O Educa Mais Brasil abriu as portas para que eu pudesse cursar a universidade particular”, conta entusiasmado, o estudante que pretende dedicar-se ao Jornalismo Esportivo. João conheceu o programa de bolsas por meio da irmã, que aderiu ao Educa para pagar as mensalidades da pós-graduação.

Curiosidade

O Dia Nacional da Consciência Negra foi idealizado pelo poeta, professor e pesquisador gaúcho Oliveira Silveira, um dos fundadores do Grupo Palmares que reunia militantes e pesquisadores da cultura negra brasileira, em Porto Alegre. A data foi escolhida por coincidir com a morte de Zumbi dos Palmares. A celebração entrou para o calendário nacional em 2003 e, desde então, é feriado neste dia em mais de mil cidades brasileiras.

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