Tráfico de pessoas

Conferência vai abordar assistência a brasileiros no exterior

Casos de tráfico de pessoas e violência de gênero são focos do debate.

Agência Brasil

Atualizada em 27/03/2022 às 11h15

BRASÍLIA - A comunidade brasileira no exterior, estimada em 3 milhões de pessoas espalhadas por cerca de 50 países, enfrenta, muitas vezes, dificuldades na imigração relacionadas a tráfico de pessoas, exploração de mão de obra, violência de gênero e problemas de saúde mental.

Para melhorar a assistência a brasileiros que passam por situação de risco no exterior, o Itamaraty vai promover em Brasília a 1ª Conferência sobre Assistência Consular: Tráfico de Pessoas, Violência de Gênero e Problemas Correlatos, de amanhã (27) a quinta-feira (29).

Participam dos debates psicólogos da rede consular, funcionários de embaixadas, além de acadêmicos. O encontro é promovido em parceria com o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc) e a União Europeia.

Segundo a diretora do Departamento Consular e de Brasileiros no Exterior do Ministério das Relações Exteriores, embaixadora Luiza Lopes da Silva, a pasta identificou que os problemas são mais recorrentes em nove países da Europa, Estados Unidos, Canadá, Guiana Francesa, Guiana e Suriname, Japão, Austrália e Líbano.

Transtornos

Na América do Sul, os casos mais graves envolvem tráfico de pessoas, exploração de trabalhadores e violência de gênero no chamado Arco das Guianas por causa do garimpo. “Temos pelo menos 30 mil garimpeiros brasileiros ali e atrás deles vem toda uma comunidade brasileira para fornecer serviços e comércio de todo tipo incluindo prostituição”, disse a diplomata.

Nos Estados Unidos, com cerca de 1,1 milhão de brasileiros, a maioria dos problemas que chega aos postos consulares está relacionada à violência doméstica, com predomínio de mulheres brasileiras casadas com estrangeiros, e à exploração da mão de obra.

“A falta de proficiência no idioma, incapacidade de se colocar no mercado de trabalho, dependência financeira, falta de rede de apoio e os choques culturais com a família do cônjuge trazem vulnerabilidade à mulher. Uma vulnerabilidade adicional é se houver filhos menores, o que impede o divórcio e o retorno ao Brasil”, diz Luiza Lopes.

Nos casos verificados de exploração no trabalho, a situação imigratória irregular deixa muitos brasileiros expostos a situações sem garantias trabalhistas e sem segurança jurídica no emprego

No Canadá, com uma comunidade brasileira estimada entre 70 mil e 100 mil, os problemas de saúde mental estão entre os mais verificados. Os transtornos psicológicos relacionados ao isolamento, ao longo e rigoroso inverno, à dificuldade de adaptação ao novo país são agravados por dificuldades econômicas e profissionais, quando o migrante tem que submeter a empregos de baixa qualificação ou informais. “O imigrante perde as referências culturais e a rede de apoio de família e amigos”, destaca a embaixadora.

Na Europa, com aproximadamente 1 milhão de brasileiros, os casos registrados de tráfico de pessoas estão relacionados à exploração da prostituição em sua maioria. Na França e, sobretudo na Itália, o Itamaraty identificou a exploração de transexuais e travestis na indústria do sexo. “A comunidade trans também é vítima de violência de gênero, e as redes de exploração são de brasileiros”, afirmou Luiza.

De acordo com a embaixadora, os agentes consulares no Japão lidam predominantemente com casos de saúde mental, envolvendo abuso de drogas e álcool, e de violência contra a mulher. Luiza também destaca a ocorrência de situações de abuso, maus-tratos e negligência a menores.

Com o envelhecimento da comunidade brasileira no país asiático, estimada em 180 mil, um novo fenômeno está preocupando o Itamaraty: o abuso psicológico e financeiro de idosos brasileiros pelas famílias com relatos de negligência em situações de doença ou dificuldades relacionadas à idade avançada.

Na Austrália e no Líbano, os problemas mais recorrentes são os casos de violência contra a mulher em casamentos com cônjuges estrangeiros, que podem resultar em transtornos como ansiedade e depressão.

A embaixadora lembra que a primeira geração que imigra lida com problemas inesperados. “Poucas migram em condições ideais, no emprego dos sonhos. Enfrentam muitas dificuldades e inseguranças, se submetem a situações difíceis, a empregos informais com carga horária pesada, sem segurança jurídica, a maridos violentos que fazem chantagem com o visto. Muitos migram sem saber nada disso.”

Entre os resultados esperados da conferência estão o compartilhamento de experiências e a capacitação dos agentes consulares para identificar os sinais de problemas que atingem os brasileiros no exterior.

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