Tecnologia

Uso de energia solar no campo cresce com usinas flutuantes

O meio rural atingiu 15,8 megawatts de utilização operacional de energia solar fotovoltaica.

Imirante.com, com informações da Agência Brasil

Atualizada em 27/03/2022 às 11h18
Essa marca atual significa que este tipo de fonte cresceu nove vezes em 2017.
Essa marca atual significa que este tipo de fonte cresceu nove vezes em 2017. ( Foto: Divulgação)

BRASÍLIA - O meio rural atingiu 15,8 megawatts de utilização operacional de energia solar fotovoltaica. Essa marca atual significa que este tipo de fonte cresceu nove vezes em 2017 e neste ano já dobrou o uso dessa tecnologia no campo.

“Os agricultores descobriram a energia solar fotovoltaica. São eles os responsáveis por levar o alimento do campo para as áreas urbanas, e passam, agora, a também ter uma complementação de renda, gerando energia elétrica para abastecer áreas urbanas e reduzir os seus gastos especificamente”, disse à Agência Brasil o presidente-executivo da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), Rodrigo Sauaia,.

Segundo o presidente, essa é uma novidade interessante, porque a demanda tem se espalhado em diversos segmentos. “O meio rural tem açudes usando energia solar fotovoltaica flutuante em Goiás. Tem projetos mais tradicionais de bombeamento e irrigação em Minas Gerais, quando começa o dia, o pivô é ligado e quando some o sol ele deixa de irrigar a plantação. Tem indústria de sorvete no Ceará. O período que vende mais sorvete é no verão e aí pode também gerar energia para garantir energia nesta estação do ano quando gastam mais para refrigerar o sorvete. No verão, eles gastam muito mais energia por conta da refrigeração, então, casa bem com a sazonalidade deles, com o custo também é bem positiva essa sinergia”, contou Sauaia.

Além do custo mais baixo, outra vantagem apontada por Rodrigo Sauaia para o uso desta tecnologia no campo é a de ela ser mais limpa. “Muitos desses produtores rurais, às vezes para levar irrigação para uma área produtiva distante da rede elétrica, tinham que levar um gerador a diesel barulhento e poluente no meio da plantação para gerar e poder irrigar. Era péssimo para o meio ambiente, caro para o produtor, mas ele precisava fazer isso. Agora, pode fazer isso com o sol, com um sistema móvel e com energia limpa e sem combustível, sem dor de cabeça para o produtor”, observou.

Usinas flutuantes

O engenheiro Orestes Gonçalves Júnior, da empresa F2 Brasil, foi o responsável pela instalação de um sistema de energia solar fotovoltaica flutuante em açudes da Fazenda Figueiredo, produtora de leite, em Cristalina, Goiás. Para o engenheiro, a utilização da área de açude amplia a conservação da região e dá melhor destinação a terras que estejam impactadas. Segundo ele, o uso das placas flutuantes permite ainda ao produtor aproveitar mais a propriedade e manter o solo para as plantações.

“Ele não está tirando parte agricultável para botar uma usina. A flutuante libera a área usada para a solar, para continuar fazendo desenvolvimento econômico da atividade do agronegócio e, por outro lado, reduz a evaporação que é um ativo, hoje, importante. Como está faltando muita água, principalmente, em algumas regiões como a do Rio São Francisco, se consegue ter algo em torno de 20% a mais de água por ano. Deixa de tirar água dos rios, ou tem melhor produtividade na irrigação dele fazendo reduzir a evaporação. É econômico, ambiental e ao mesmo tempo em maior volume de água nos açudes”, apontou.

Orestes Gonçalves Júnior destacou ainda que o produtor tem mais uma forma de lucrar com a solar flutuante em açude, que pode ser usado por mais de um produtor da região. Mais uma alternativa para o produtor é usar os açudes para desenvolver projetos de piscicultura.

Financiamentos

A energia solar também tem se mostrado um bom negócio para os produtores de agricultura familiar. O presidente da Absolar destacou as linhas de financiamento que o consumidor passou a ter para fazer a instalação do serviço. Ele contou que, no Paraná, um produtor familiar de leite está refrigerando o produto com a energia do sol, depois de conseguir um financiamento por meio do Programa Nacional de Fortalecimento de Agricultura Familiar (Pronaf), que neste caso, tem juros variando entre 2,5% a 5,5% ao ano.

Para o período de julho de 2018 a junho de 2019, o BNDES informou que os juros são de até 4,6% e a aquisição do equipamento deve estar vinculada a uma atividade econômica. “A dotação orçamentária ainda será publicada pelo Conselho Monetário Nacional”, completou o BNDES em resposta à Agência Brasil.

Para as pessoas físicas e jurídicas que queiram instalar projetos de energia solar fotovoltaica, o banco abriu linhas de financiamento no Programa Fundo Clima para 80% dos itens financiáveis, podendo chegar a R$ 30 milhões a cada 12 meses por beneficiário. Para renda anual de até R$ 90 milhões, o custo é de 0,1% ao ano com a remuneração do BNDES de 0,9% ao ano. Na renda anual acima de R$ 90 milhões, o custo tem o mesmo percentual, mas a remuneração do BNDES é de 1,4% ao ano.

Redução de custos

Na visão do presidente da Absolar, a redução de custos para a instalação de um sistema de energia fotovoltaica tem sido um atrativo para o aumento de consumidores neste tipo de fonte. “Em dois anos, a tecnologia barateou em 25%. Nos últimos dez anos, a energia solar fotovoltaica ficou entre 60 a 80% mais barata, com isso hoje em dia já é possível na maior parte do Brasil gerar e produzir a sua própria energia através do sol do seu telhado e no solo do que comprar a energia da rede, por exemplo. Não por acaso, o que mais leva as pessoas a investirem em energia solar fotovoltaica não é só pelo meio ambiente, mas pela economia no bolso que a tecnologia traz”.

Evolução

O presidente da Absolar comentou que o setor começou 2017 com mais ou menos 90 megawatts de energia solar fotovoltaica operando na matriz elétrica brasileira e terminou o ano com 1.145 megawatts, o que segundo ele, representa crescimento de mais de 11 vezes no período. “São poucos os setores na nossa economia que crescem mais de 11 vezes em um único ano. Essa é a velocidade exponencial que a fonte solar fotovoltaica está acelerando neste momento”.

A expectativa é fechar 2018 com cerca 2.400 megawatts e, assim, o setor vai mais do que dobrar e, permitir ao Brasil subir no ranking mundial da energia solar fotovoltaica. Atualmente o país está entre os 25 a 30, principais países em energia solar fotovoltaica.

No Rio de Janeiro, a distribuidora Light informou que, até maio de 2018, foram registradas 1.036 unidades de consumidores que utilizam a energia bidirecional, o que representa um crescimento de 150% nos últimos dois anos (2016-2018). Em créditos, segundo a empresa, durante o mês de abril deste ano, os consumidores obtiveram 300 Kwh com recursos da fonte solar fotovoltaica. No caso da Light, a maior concentração de usuários está nas zonas Sul e Oeste da cidade do Rio de Janeiro.

Energia solar no setor público

Na área pública, os projetos também estão se desenvolvendo. O presidente da Absolar lembrou que a sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em Brasília, instalou um sistema de energia solar fotovoltaica no telhado. Além disso, o Ministério de Minas e Energia (MME) é o primeiro prédio do governo federal a receber este tipo de fonte.

“É o primeiro prédio da Esplanada dos Ministérios com energia solar fotovoltaica. Abastece de 5% a 7% da demanda elétrica do prédio”, completando que, diante do impedimento de tráfego aéreo na região por questão de segurança, só foi possível instalar o sistema em uma parte do telhado, já que o transporte de placas utilizadas no sistema ficou restrito.

A assinatura do termo de cooperação com o ministério foi em 2015 e o término da instalação ocorreu no fim de 2016. O projeto-piloto desenvolvido pelo setor custou R$ 500 mil e o governo federal não precisou pagar nada.

“O governo não tirou nenhum centavo do bolso, mas também não recebeu nenhum centavo nosso. Recebeu o sistema com o compromisso de que ele fosse aberto à sociedade brasileira para que ela pudesse acompanhar e entender. Tem uma TV no térreo que mostra em tempo real o quanto o sistema está produzindo de energia e subindo dá para fazer a visitação do sistema”, disse. Rodrigo Sauaia espera que outros ministérios também desenvolvam projetos semelhantes.

Contribuição

Para o executivo, um dos fatores que permitiram a expansão do setor foram os leilões que o governo federal tem realizado desde 2014. “Foi um leilão em 2014, dois em 2015, um em 2017 e agora um em 2018. Os projetos que foram contratados lá em 2014 e 2015 começaram a entrar em operação, por isso, esse salto grande que tivemos no mercado”.

O crescimento de projetos em residências, comércios, indústrias, prédios públicos e produtores rurais também contribuíram para a evolução do setor. “Esse mercado representou cerca de 15% no final do ano do que tínhamos instalado no país. Ele está distribuído ao redor de todos os estados brasileiros em pequenos sistemas junto aos consumidores em todo o Brasil”, disse, ressaltando, que esses consumidores se beneficiam com os créditos de energia para abater o consumo no futuro.

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