Alimentação

Qualidade nutricional é maior desafio de segurança alimentar, diz pesquisadora

Segundo a ONU, o Brasil tem soberania alimentar.

Alana Gandra/Agência Brasil

Atualizada em 27/03/2022 às 11h44
(google)

RIO DE JANEIRO - O grande desafio do Brasil na área da segurança alimentar será pensar na questão nutricional, disse hoje (10) à Agência Brasil a chefe-geral da Embrapa Agroindústria de Alimentos, Lourdes Cabral. “O Brasil saiu daquele patamar de países de pessoas com fome. Hoje não existe mais isso. Nós temos soberania alimentar, segundo dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura [FAO]”, disse ela, mas destacou que essa disponibilidade tem que ser atrelada agora à qualidade nutricional, com alimentos seguros.

Dentro do desafio de dispor para a população alimentos com alto teor nutritivo, Lourdes Cabral destacou a importância de atividades como pesquisa e desenvolvimento. Um dos grandes problemas atuais detectados pela FAO é a questão de perdas ao longo da cadeia produtiva. Segundo Lourdes, do campo até a mesa do consumidor, ocorrem entre 30% e 50% de perdas, às quais se soma também o desperdício. “Aquela comida que, muitas vezes, é deixada no prato; o que sobra nos restaurantes. Este é um trabalho no qual a gente pode colaborar bastante”, ressaltou.

A Embrapa Agroindústria de Alimentos – da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – tem uma área de pós-colheita onde trabalha com a redução de perdas, por meio do uso de embalagens adequadas para alimentos, técnicas de conservação de alimentos, “o próprio processamento, que permite que o alimento saia do Nordeste e chegue à Região Sudeste com qualidade adequada. Essas são as diferentes linhas de pesquisa com as quais a gente trabalha aqui e que pode colaborar na questão de perdas”.

Pesquisas são feitas também na área de qualidade alimentar. Um exemplo é o projeto de biofortificação de alimentos. Alguns produtos que integram a cesta básica do consumidor brasileiro – arroz, feijão, batata-doce, mandioca – são submetidos a processos de melhoramento genético clássico, o que aumenta o teor de alguns minerais e vitaminas. Outra área importante de pesquisa é a questão dos riscos. “Não adianta ofertar para a população produtos ou alimentos que não sejam seguros”, disse ela, e citou o caso de peixes contaminados por mercúrio ou alimentos que apresentam contaminação microbiológica. A Embrapa Agroindústria de Alimentos contribui nessa área com o desenvolvimento e implementação de técnicas de análise. O conhecimento desenvolvido tem que servir de apoio para a formação de algumas políticas de governo, indicou Lourdes.

Engenheira química, formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Lourdes acredita que as políticas públicas precisam ser aprimoradas continuamente. O objetivo agora, insistiu, é aumentar a segurança em termos de disponibilidade de alimentos para a população, por meio da redução de perdas. “Quando você tem perdas ao longo da cadeia, além do alimento em si, você está perdendo água e energia, entre outros insumos usados”, acrescentou.

Um bom projeto no sentido da redução do desperdício, disse ela, é o Cozinha Brasil, desenvolvido pelo Serviço Social da Indústria (Sesi). Lourdes comentou que qualquer iniciativa como essa deve ser incentivada, no sentido de diminuir o desperdício e as perdas de alimentos, evitando que tenham o lixo como destino. A Embrapa pode somar nesse esforço, porque conhece as técnicas de processamento que contribuem para que alimentos que não estejam aptos para consumo à mesa, mas ainda são alimentos seguros, sejam transformados em doce, por exemplo, de forma a ter uma vida útil mais longa e servir a um número maior de pessoas.

Para colaborar com as discussões da 5ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, em novembro deste ano, em Brasília, a Embrapa Agroindústria de Alimentos organizou hoje (10) mesa redonda que reuniu especialistas sobre o tema, com foco nas políticas em vigor. A conferência terá como lema “Comida de verdade no campo e na cidade: por direitos e soberania alimentar”. Ela será precedida de etapas locais e municipais, até junho, e de etapas estaduais, até agosto.

A unidade da Embrapa, sediada no Rio de Janeiro, fará mais três oficinas ao longo do ano – em interface com a conferência nacional –, que debaterão redução de perdas, risco alimentar e qualidade de alimentos. Todos relacionados à segurança alimentar e nutricional e às pesquisas desenvolvidas pela empresa.

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