Dia de Finados

Ato ecumênico no Dia de Finados lembra mortos e desaparecidos

A homenagem às vítimas ocorreu com uma celebração ecumênica.

Isabela Vieira/Agência Brasil

Atualizada em 27/03/2022 às 11h49
(Foto: Isabela Vireira)

RIO DE JANEIRO - Organizações de direitos humanos, religiosos e movimentos da sociedade aproveitaram o Dia de Finados, hoje (2), para lembrar os mortos e desaparecidos do regime militar, entre 1964 e 1985, além de vítimas de tortura e morte sumária pelo Estado, como o caso Amarildo de Souza. O ajudante de pedreiro foi torturado e morto por policiais militares da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), da Rocinha, na zona sul da cidade do Rio de Janeiro, em 2013.

A homenagem às vítimas ocorreu com uma celebração ecumênica, no Cemitério de Ricardo de Albuquerque, na zona norte, onde está o monumento pelo Grupo Tortura Nunca Mais em memória a 14 militantes enterrados ali. No local, durante o regime, havia uma vala onde as ossadas dos ativistas foram enterradas, misturadas com os restos mortais de 2 mil indigentes, de acordo com a presidenta do grupo, Victória Grabois, que teve acesso a documentos oficiais.

Segundo ela, o ato também cobra a abertura dos arquivos da ditadura para que sejam revelados os paradeiros de todos os mortos e desaparecidos, cerca de 500 pessoas. “Tudo o que temos até hoje são informações pontuais. Levamos anos para saber [do paradeiro] de um, mais não sei quantos anos para saber de outro”, disse. “O Estado precisa ter a coragem de abrir os arquivos, para que saibamos o que aconteceu e interrompamos esse ciclo de violência, consequência da ditadura, com punição para quem matou torturou e ocultou cadáver”, completou.

Ao cobrar a responsabilização de agentes do Estado envolvidos nos crimes da ditadura militar, as organizações de direitos humanos apostam em mudanças nas instituições militares hoje, defende a pedagoga Fátima Silva, do Movimento Candelária Nunca Mais – criado em referência aos oito jovens mortos por policiais militares nas proximidades da Igreja da Candelária, no Rio, em 1993.

“Percebemos que a violência, a falta de políticas públicas para as crianças e os adolescentes, o preconceito social e o racismo, resultam em várias mortes, sobretudo de jovens negros de favelas”, disse Fátima que, durante a cerimônia, citou mais de dez chacinas no estado do Rio.

No ato ecumênico, parentes de jovens mortos por PMs também cobraram ações para conter a violência do Estado. Mãe do adolescente Johnata de Oliveira de Lima, de 19 anos, baleado em maio, em Manguinhos, na zona norte, Ana Paula Gomes de Oliveira criticou a truculência dos agentes e a banalização de mortes sumárias dentro das comunidades pobres.

Ana Paula também desabafou que a estratégia de desqualificação das vítimas, pela Polícia Militar, que tenta associar os jovens ao tráfico de drogas, segundo ela, é perversa, porque passa a ser repetida pela mídia e não enfrenta a raiz do problema. “A imprensa deveria ter o cuidado de não reproduzir a versão da polícia sem o conhecimento dos fatos. No caso do meu filho, foi alegado vítima em confronto, mas um exame de [resíduo de] pólvora diria que Johnata não portava nenhuma arma. Tinha ido deixar a namorada em casa”, desabafou.

Os acusados pelas mortes de Amarildo e Johnata estão sendo julgados pelo Tribunal de Justiça Estado do Rio de Janeiro. A Justiça já condenou os envolvidos na chacina da Candelária e colocou um dos sobreviventes em programa de proteção às testemunhas, fora do país.

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