Carandiru

Advogado de policiais irrita-se com juiz, deixa plenário e julgamento é suspenso

Elaine Patricia Micossi/Agência Brasil

Atualizada em 27/03/2022 às 11h57

SÃO PAULO - O advogado Celso Vendramini, que defende os 15 policiais que estão sendo julgados pela morte de oito detentos que ocupavam o quarto pavimento do Pavilhão 9, da extinta Casa de Detenção do Carandiru, ficou irritado com o juiz Rodrigo Tellini de Aguirre Camargo e deixou o plenário por volta das 16h, enquanto um dos réus estava sendo interrogado pelos promotores. Vendramini reclamou de não estar recebendo do juiz tratamento idêntico ao que era dado aos dois promotores, Márcio Friggi de Carvalho e Eduardo Olavo Canto Neto.

Segundo o Tribunal de Justiça, após a saída do advogado do plenário, o julgamento foi suspenso e será agora marcada uma nova data para que tenha continuidade.

A terceira etapa do julgamento do Carandiru teve início na manhã de ontem (17), quando sete jurados foram escolhidos para compor o Conselho de Sentença. À tarde, duas testemunhas de acusação foram ouvidas, o perito Osvaldo Negrini Neto e o ex-diretor de Segurança da Casa de Detenção Moacir dos Santos. Durante o julgamento de Moacir dos Santos, já havia ocorrido uma pequena discussão entre os promotores e o advogado, que foram advertidos pelo juiz.

Na manhã de hoje (18), foram ouvidas duas testemunhas de defesa, o ex-secretário de Segurança Pública Pedro Franco Campo e o ex-agente penitenciário e chefe de plantão dos agentes Francisco Carlos Leme.

No momento em que o advogado abandonou o plenário, estava sendo interrogado o primeiro réu, coronel Arivaldo Sérgio Salgado, que era capitão na época do massacre e comandava a tropa do Comando de Operações Especiais (COE) no dia em que houve a chacina. Vendramini interrompeu o interrogatório do coronel pelo promotor Canto Neto e questionou o juiz sobre a conduta do promotor, que lia um trecho de um antigo depoimento dado por Salgado sobre o caso. Como o juiz considerou que não havia problemas no procedimento de Canto Neto e na leitura do depoimento, determinou que o interrogatório prosseguisse. Irritado, o advogado reclamou que o juiz estava valorizando o Ministério Público, tirou sua toga e deixou o local do julgamento. Na saída, teve sua conduta elogiada por alguns policiais que aguardavam do lado de fora do plenário.

“O procedimento do Ministério Público é fazer perguntas à testemunha. O que o Ministério Público estava fazendo era ler depoimento do réu, longo, e no final ele perguntava o que bem entendia. O correto, em um tribunal de júri, é fazer perguntas. Ontem, inclusive, no final, fui chamado de mal-educado pelo juiz”, reclamou o advogado, na saída do fórum. “Estou percebendo que, para o Ministério Público, tudo, e para a defesa, nada”, disse ele.

Para o advogado, Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) precisa tomar alguma atitude no caso. Vendramini disse que pretende continuar defendendo os policiais, mas ressaltou que o ideal é que o juiz Rodrigo Tellini não presida o próximo julgamento do Carandiru. “Vamos ver se conseguimos achar um juiz que presida o julgamento de forma imparcial. E eu vou achar”, afirmou.

Já os promotores reclamaram da atitude do advogado e disseram que a suspensão do julgamento causa, inclusive, prejuízo financeiro público. “Calculem o prejuízo para o Estado, que teve que montar este julgamento, as despesas, o prejuízo com os jurados, que tiveram de deixar suas casas para vir para cá. É lamentável que isso aconteça”, destacou Carvalho.

“Lamentamos profundamente. Isso foi uma surpresa para nós, um absurdo. O que foi feito hoje foi realmente uma afronta, um desrespeito à lei e à sociedade em geral”, disse Canto Neto.

Os promotores disseram também que é preciso haver algum procedimento para impedir que atitudes como essa de Vendramini se repitam. “É hora de pensar em uma alguma punição mais efetiva para o profissional que tome esse tipo de comportamento. Nem o juiz nem o promotor de Justiça têm qualquer ferramenta para impedir isso”, disse Carvalho.

Esta não foi a primeira vez em que Vendramini deixou o plenário durante um julgamento. Em 2011, quando estavam sendo julgados quatro policiais militares acusados da morte de dois jovens, ele abandonou o plenário como protesto porque havia no local pessoas usando camisetas com fotos das vítimas.

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