'Maníaco do Parque' quer visitas íntimas e fala em ser pai

Giba Bergamim Jr - Diário de S.Paulo

Atualizada em 27/03/2022 às 14h34

SÃO PAULO - Ele foi condenado por torturar, violentar e executar oito garotas em 1997 e 1998. Escondeu os corpos no Parque do Estado e mutilou alguns deles com os dentes, segundo a polícia.

Esse é o breve resumo das atrocidades atribuídas ao ex-motoboy Francisco de Assis Pereira, de 37 anos, o Maníaco do Parque. O homem que destroçou a vida de várias famílias agora quer constituir a sua. Pregador do Evangelho, Pereira diz que já está casado no papel com a catarinense Jussara Gomes. Uma autorização para ter visitas íntimas com a mulher seria o passo inicial para alcançar o objetivo - ele quer ser pai.

O maníaco tem esperança de um dia sair da prisão, mesmo com condenações que, somadas, chegam a 270 anos. Na cela 29 do pavilhão 1 do presídio de Itaí (290 quilômetros da capital) - específica para detentos condenados por crimes sexuais - Pereira, envelhecido e mais gordo, contou ao 'Diário de S.Paulo' sobre a vida no cárcere e os planos para o futuro.

Como é sua vida aqui?

- Graças a Deus, me encontro bem. Sou réu primário e minha convivência tem sido, do meu ponto de vista, boa. O que acontece é que, pelas coisas anteriores, pessoas se tornaram minhas inimigas, mas eu não sou inimigo de ninguém.

Você não tem nenhum inimigo na cadeia?

- Não. A imagem que as pessoas têm de outrora, em relação àquilo que aconteceu, é de uma pessoa agressiva, um monstro, mas eu não guardo mágoa dessas pessoas.

Por qual presídios já passou?

- Estive em Taubaté, no CDP do Belenzinho, onde fiquei dois meses. Fui entrando num lugar e saindo e isso foi gerando tumultos, rebeliões. Passei por tudo, foi como uma provação.

Você fez amigos na cadeia?

- Fiz um elo de amizades. Confio em Deus. Estou vivo hoje em razão da fé. Na rua, eu não tinha essa vocação. Foi na palavra que eu encontrei conserto.

Você fala em conserto. Conte sobre o que você cometeu.

- Falo em conserto porque as coisa que aconteceram no passado não foram de minha própria vontade. Eu lutei contra uma força dentro de mim, que já vinha querendo se manifestar há algum tempo.

Mas o que era essa força?

- Uma coisa maligna, maldita, porque eu procurava não cometer aquilo. Eu me conscientizava de que tinha muitas garotas, mulher para mim não falta lá fora. Hoje, eu penso: 'não preciso daqueles desejos'. Mas eu não tinha controle.

Você está casado, não é?

- Estou.

Como foi o casamento? Teve cerimônia?

- Não, eu a conheci por intermédio de cartas e nos casamos por procuração.

Como ela se chama?

- Jussara. Optamos por isso e até hoje estamos unidos. Mas nós nos encontramos só no parlatório. Eu não tiro (recebo) visita como os outros tiram, no raio (pavilhão). Estamos lutando por isso de uma forma objetiva. Mais pelo lado dela. Ela quer entrar. Estou fazendo de tudo para tirar (ter) visita aqui, que seria um lugar adequado.

Ela não teve direito à visita íntima ainda?

- Ainda não. Estamos tentando há mais de dois anos. Foi colocado que só poderia ter encontro no parlatório.

Você quer ter quantos filhos?

- A pretensão é essa. Filhos e filhas. Mas ela (Jussara) já tem uma certa idade e acredito que não chegou a esse diálogo comigo diretamente. Minha intenção é gerar uma família.

Quantos anos ela tem?

- Uns 60 anos. Por isso, talvez ela não esteja na fase. Mas nada é impossível para Deus. Existem relatos na Bíblia de mulheres de uma certa idade e que Deus lhes concedeu os filhos.

A esperança de ter visita íntima seria para isso?

- É uma esperança mais pelo lado dela. Independentemente de estar preso ou eu ser posto em liberdade, mais cedo ou mais tarde, eu, estando vivo, vou ter (filhos). É um sonho, um desejo desde a rua.

Quantos filhos?

- Nossa! Enquanto eu e ela (Jussara) estivermos vivos.

Sobre os assassinatos que você cometeu, o que ela diz?

- Ela arquivou tudo, todos os acontecimentos. Ela acompanhou, gravou (reportagens). Mesmo antes de eu ter o primeiro contato. Ela guardou todas as fitas. Ela e os evangélicos me deram grande assistência. Lá fora, eu tinha uma liberdade que fez com que eu extrapolasse limites.

Quantos assassinatos foram?

- Prefiro não comentar.

Mas você sabe bem tudo o que fez.

- Eu sei a força que me induziu a cometer aquilo tudo.

Mas quantos crimes essa tal força cometeu, então?

- Tenho comigo o que eu aleguei. Ficou por ali mesmo. Desde pequeno foi gerando tudo isso e aconteceu.

A Jussara vem toda semana?

- Não. Eu pedi para ela não vir. Acho que há outras coisas a serem priorizadas, como minhas causas jurídicas. Nesses dias ela não tem vindo. Ela é inteligente, tem formação, é formada em história e geografia.

Você sente amor por ela?

- Tenho uma consideração muito grande. O amor é conseqüência. Já o que ela sente por mim é muito mais forte.

O que você acha do apelido Maníaco do Parque?

- É a palavra que se coloca em relação aos fatos. Não tenho que esconder tudo isso e não me envergonho porque não vem ao caso.

Você se considera normal?

- Outrora, não. Porque eu era dono em excesso de mim mesmo. Hoje, quem manda em mim é a palavra de Deus.

Mas você se acha normal?

- Entendo que sim. Minha consciência não me acusa de nada, apesar de eu ter milhões de acusadores. Quando eu estava lá fora, ela me acusava, porque estava gerando uma monstruosidade dentro de mim.

Você tem esperança de sair logo daqui?

- Não tenho pressa.

Ninguém nunca tentou te matar na cadeia?

- Graças a Deus, não. Meu objetivo é sair daqui para não voltar mais. Quero apenas testemunhar (a palavra de Deus). Lá fora, confiei demais na razão.

Você não tem medo de sair da prisão e cometer o crime de novo?

- Não, estou sossegado.

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