Dom Pedro Casaldáliga: "a igreja é mais que o papa, e o reino de Deus é mais do que a Igreja"

Agência Brasil

Atualizada em 27/03/2022 às 14h47

SÃO PAULO – Dom Pedro Casaldáliga, bispo aposentado de São Félix do Araguaia (MT), não acredita que grandes mudanças vão acontecer na Igreja Católica com a eleição de do cardeal Joseph Ratzinger como papa Bento XVI.

Em entrevista exclusiva para a Agência Brasil, Casaldáliga falou sobre as expectativas com o novo papado, como devem se comportar os católicos mais compromissados socialmente e criticou a forma de eleição no colégio de cardeais.

Casaldáliga nasceu no dia 16 de fevereiro de 1928 na região espanhola da Catalunha. Filho de lavrador, tornou-se missionário claretiano e foi sagrado padre aos 24 anos.

Em outubro de 1971 mudou-se para o Brasil e foi ordenado Bispo de São Felix do Araguaia, cargo ao qual renunciou em 2003. Dom Pedro Casaldáliga ajudou a criar duas das principais organizações ligadas à igreja católica brasileira: a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e o Conselho Indigenista Missionário (CIMI). Leia a seguir trechos da entrevista concedida nesta quarta-feira, por telefone, da Diocese de São Félix do Araguaia.

Agência Brasil: O que o senhor espera do novo papa Bento XVI?

Dom Pedro Casaldáliga: Ele [Joseph Ratzinger] é conhecido mundialmente como sendo um homem conservador, por ter sido o braço direito do João Paulo II em afirmar a identidade católica e em voltar a Igreja sobre os seus próprios problemas e desafios internos. Então, falando com simplicidade, não se pode esperar grandes mudanças. Agora o tempo desafia, a história caminha, e ele vai ter que responder às reclamações de dentro da Igreja e aos desafios do mundo. Haverá, inclusive, este ano o sínodo de bispos, representação de todos os bispos do mundo num sínodo, que possivelmente se tratará também de problemas, assuntos, desafios.

ABr: Alguns religiosos ligados aos setores mais progressistas da Igreja Católica têm se declarado decepcionados com a indicação de Ratzinger. O senhor também ficou decepcionado?

Dom Pedro Casaldáliga: É lógico que no terceiro mundo, nos setores da teologia da libertação e dentro das comunidades mais comprometidas tem sido uma espécie de decepção a nomeação do cardeal Ratzinger. Só que o papa é o papa, a Igreja é mais que o papa, e o reino de Deus é mais do que a Igreja. E Deus é Deus. A caminhada continua.

Eu gostaria que o papa sendo Ratzinger ou sendo outro, fosse bem aberto, bem compreensivo, bem misericordioso, que anunciasse a esperança a um mundo violentado pelo egoísmo capitalista, pela fome, pela violência, pela miséria, pela guerra. E que estimulasse o diálogo ecumênico, o diálogo inter-religioso. Isso é que a gente espera, e o Espírito Santo não vai falhar, mesmo que falhando nós.

Eu insisto sempre nessas situações, quando alguns católicos ficam desconcertados, que devemos apelar primeiro a nossa própria consciência e a co-responsabilidade que temos na igreja. Não devemos deixar que o papa faça tudo sozinho, temos o direito e dever de pensar, de nos expressarmos e de agir. Somos co-responsáveis. E os bispos, mais concretamente, devemos viver a ‘colegialidade’ e exercer o nosso ministério de bispos e o papa exercer o seu ministério de papa.

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