PMDB procura nova bandeira para não sucumbir

Andreza Matais, Agência Nordeste

Atualizada em 27/03/2022 às 15h26

Brasília - Enquanto a maioria dos partidos políticos já definiu que postura

terá frente ao governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT),

o PMDB enfrenta, novamente, uma disputa interna e, ao que tudo indica, deve continuar dividido. Um grupo defende que o caminho natural é a oposição ao petista, já que o candidato que apoiou na disputa presidencial - o tucano José Serra - saiu derrotado das urnas. Outro acredita que é possível se manter neutro, ou seja, admite até colaborar, mas sem qualquer vinculação. Há ainda a ala que propõe participação efetiva no novo governo, inclusive ocupando cargos em ministérios.

O fato é que esta tradicional polarização do PMDB tem preocupado diversas lideranças do partido que se perguntam, com cada vez mais freqüência, até quando será possível sobreviver assim? Isso porque, há pelo menos vinte anos, o PMDB abriga diversas correntes.

Para o ex-militante Eurípides Ribeiro, que conviveu de perto com Ulisses Guimarães, Teotônio Vilela e Pedro Simon, a primeira inflexão da legenda foi em 1982. Na época, o Partido Popular (PP), presidido pelo ex-presidente Tancredo Neves, fundiu-se com o PMDB de Ulisses Guimarães em busca de sobrevivência política. O motivo foi o decreto do presidente João Figueiredo, que determinou o voto vinculado. A regra obrigava o eleitor a escolher o governador, senador e deputados estadual e federal do mesmo partido. "Quando ocorreu a fusão, o presidente do PMDB continuou sendo Ulisses Guimarães e Tancredo Neves indicou o hoje deputado Afonso Camargo (PR) para secretário geral. Neste momento, começou o enfraquecimento da luta do partido por ideais de esquerda. Pois esse pessoal do PP, apesar de ter lutado contra a ditadura, era gente extremamente conversadora", rememorou.

Eurípides cita ainda outros episódios que reforçaram a divisão do PMDB e que, na sua avaliação, colaboram para o enfraquecimento do partido. Entre eles, a decisão de várias lideranças - como o presidente Fernando Henrique, os ex-governadores de São Paulo, Mário Covas, e Franco Montoro - de deixarem o partido para fundar o PSDB, por discordarem do fortalecimento de Orestes Quércia. "Eles acharam que o PMDB estava minado por dentro. Não tinha mais condições de ficar no partido", disse.

Outro golpe para o PMDB, de acordo com ele, foi o lançamento do Plano Cruzado II, em 1986, pelo presidente José Sarney, que culminou na saída do ex-governador de Pernambuco e deputado federal eleito, Miguel Arraes, do partido. "Na época se dizia que Sarney era mais popular que Deus. O primeiro plano foi muito bem sucedido. Por causa disso, o PMDB conseguiu eleger 26 dos 27 governadores do País. Mas quando passou a eleição, um novo plano foi lançado e o povo enfrentou, a partir de então, aumentos gerais de preços e a disparada da inflação. Conclusão: Sarney foi acusado de traição eleitoral e a culpa de tudo isso caiu nas costas do PMDB", observou.

Eurípides revelou um diálogo que teve na ocasião com o ex-governador de Pernambuco. "Me lembro que conversando com Arraes ele me perguntou: Você acha que o PMDB acabou? Eu disse que achava que não porque o PMDB foi feito de baixo para cima, com muitas raízes. É um partido que o povo ama. Vai demorar muitos anos para acabar com esse amor", disse. Hoje, ele diz que já não tem mais certeza. "O PMDB tornou-se um partido sem bandeiras. Suas defesas ficaram ultrapassadas e novas não surgiram. Eu pergunto, o que o PMDB propõe hoje?", disse.

A saída, para ele, passa pela renovação da cúpula do partido. "Quem ganhou a eleição foi a ala oposta à cúpula. O (Germano) Rigotto, no Rio Grande do Sul, o (Roberto) Requião, no Paraná, o Luiz Henrique, em Santa Catarina, o Jarbas (Vasconcelos), em Pernambuco. Toda essa turma é do chamado PMDB ético, do autêntico. O outro pessoal foi fragorosamente derrotado", analisou. "Foi injetado ânimo novo. (Michel) Temer, Geddel (Vieira Lima), Renan (Calheiros) já não representam mais esta nova realidade. Eles ficaram sem força", comentou.

O governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos, confessa também estar preocupado com o fato de o partido sobreviver de suas conquistas do passado. "Sobreviver, o PMDB vai sempre sobreviver. É um partido grande, enraizado. Agora, isso é feito caderneta de poupança, e a mais de dez anos que o partido só faz sacar, não se deposita há muito tempo e isso um dia acaba. A gente que faz poupança individual sabe disso", ponderou. Jarbas diz entender como patrimônio do partido as lutas que ele sempre defendeu. "O patrimônio do partido é muito grande. O MDB e o PMDB foram condutos da insatisfação popular, depois estiveram em grandes lances: a anistia, as eleições diretas. Tudo isso é um patrimônio muito grande acumulado, mas ao longo dos últimos anos a gente só tem sacado. Termina que, se não tivermos cuidado, acaba esse patrimônio", afirmou.

Mas para uma liderança do partido, que preferiu não se identificar, a avaliação é a de que a eleição de Lula possibilitará uma renovação da legenda. "O PT vai precisar compor com um partido de centro-esquerda se quiser governar. O caminho natural seria aliar-se ao PSDB, mas as duas siglas vêm de uma disputa frontal e os tucanos não podem por agora cumprir esse papel. Portanto, não resta outra opção ao PT do que procurar o PMDB. É neste sentido que vamos participar deste momento de transformação do País", acredita.

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