Julgamento

Acusados da morte do jornalista Décio Sá vão a júri popular em fevereiro

Onze pessoas são acusadas de participação no assassinato encomendado do jornalista, em abril de 2012, na Avenida Litorânea.

O Estado do MA

Atualizada em 27/03/2022 às 11h58

SÃO LUÍS - Faltam apenas nove dias para que a Justiça do Maranhão comece, de fato, a julgar os 11 acusados de participação no assassinato encomendado do jornalista Décio Sá, de 42 anos, ocorrido em abril de 2012, em um bar na Avenida Litorânea, na capital maranhense. Os primeiros a sentar no banco dos réus serão os executores do crime, o bacabalense Marcos Bruno Silva de Oliveira, de 29 anos, apontado como piloto de fuga do assassino, e o próprio autor confesso do homicídio, o pistoleiro paraense Jhonatan de Sousa Silva, de 25 anos, que responderão pelos crimes de homicídio triplamente qualificado e formação de quadrilha.

Os dois vão a júri popular nos dias 3, 4 e 5 de fevereiro, no Salão do Júri do Fórum Desembargador Sarney Costa, bairro Calhau, por decisão do juiz Osmar Gomes dos Santos, titular da 1ª Vara do Tribunal do Júri, que afirma estar tudo pronto para o julgamento.

- Da parte do Poder Judiciário não há nada pendente. Todo o aparato de segurança pública já foi montado para a sessão, já enviamos a carta precatória para o recambiamento do réu que se encontra no presídio federal, e, por enquanto, não há nada que possa embaraçar o início do júri - afirmou o magistrado.

Segundo denúncia oferecida pelo Ministério Público, Jhonatan de Sousa Silva foi contratado por uma quadrilha de agiotas para matar Décio Sá, porque no dia 31 de março de 2012 (23 dias antes do crime) o jornalista denunciou em seu blog (blogdodecio.com.br) que a morte do empresário Fábio dos Santos Brasil Filho, o Fábio Brasil, de 33 anos, na cidade de Teresina-PI, havia sido encomendada por uma rede de agiotagem, estabelecida no Maranhão. O blogueiro foi o primeiro a atribuir a autoria desse crime à quadrilha.

De acordo com a Polícia Civil, a organização criminosa que faturava milhões com desvios de verbas públicas municipais e federais, destinadas a várias prefeituras maranhenses, era liderada pelo agiota Gláucio Alencar Pontes Carvalho, de 36 anos, e o pai dele, o aposentado José de Alencar Miranda de Carvalho, de 74 anos.

- A quadrilha enxergou Décio Sá como uma ameaça, pois sabia que o jornalista podia ter mais informações que a incriminasse - afirmou à época o secretário de Segurança Pública (SSP), Aluísio Mendes.

Proposta

Ainda conforme as investigações, pai e filho arregimentaram, direta e indiretamente, pelo menos mais sete pessoas, entre elas dois policiais civis e um oficial da Polícia Militar do Maranhão, até que Jhonatan Silva e Marcos Bruno de Oliveira recebessem a proposta de R$ 100 mil pelo serviço. Entre os intermediadores do crime, a Polícia Judiciária identificou o empresário José Raimundo Sales Chaves Júnior, o Júnior Bolinha, de 38 anos, que fugiu da prisão, às vésperas do Natal, mas foi recapturado.

Em setembro de 2012, o MP denunciou 12 pessoas pelo assassinato de Décio Sá e, em agosto de 2013, 11 foram pronunciadas a júri popular. Os advogados de defesa dos réus recorreram, mas o juiz titular da 1ª Vara do Tribunal do Júri manteve a pronúncia dos acusados. Na lista de réus estão ainda Elker Farias Veloso, de 28 anos, Fábio Aurélio do Lago e Silva, o Bochecha, de 34 anos, e Shirliano Graciano de Oliveira, o Balão, de 28 anos, único ainda foragido, e que até divulgou um vídeo na internet alegando inocência.

Também compõe a relação de pronunciados a júri popular os dois policiais civis Alcides Nunes da Silva, de 56 anos, e Joel Durans Medeiros, de 59 anos, ambos afastados da Superintendência Estadual de Investigações Criminais (Seic), e o capitão da PM, Fábio Aurélio Saraiva Silva, o Fábio Capita, de 38 anos, ex-comandante do Batalhão de Policiamento de Choque (BPChoque) da Polícia Militar. O oficial aparece no inquérito como suposto fornecedor da arma do crime, mas é o único que conseguiu habeas corpus da Justiça.

Jhonatan foi o primeiro a ser preso

O pistoleiro paraense Jhonatan de Sousa Silva, que hoje se encontra custodiado no Presídio Federal de Segurança Máxima de Campo Grande, no estado do Mato Grosso do Sul, foi preso 43 dias após o crime, flagrado em uma chácara, no bairro Miritíua, no município de São José de Ribamar. Na ocasião, o jovem matador estava em companhia de um primo, que também foi preso, e portava arma de fogo e drogas. Já Marcos Bruno de Oliveira, apontado como piloto de fuga do assassino, foi preso sete meses depois da morte de Décio Sá. Ele foi identificado em meio a uma quadrilha de hackers, desarticulada por policiais da Seic, em novembro de 2012, no bairro Cohafuma.

A rede de agiotagem, composta por mandantes, intermediadores e executores, foi desarticulada no fim da madrugada do dia 13 de junho de 2012, durante a Operação Detonando, realizada pela Polícia Civil do Maranhão, na capital e em duas cidades no interior do Estado, em cumprimento a mandados de prisões, expedidos à época pela juíza Alice Rocha, então titular da 1ª Vara do Tribunal de Júri. Na ação policial foram empregados mais de 70 investigadores, além de homens do Grupo Tático Aéreo (GTA) e 12 delegados.

Reconstituição

Jhonatan de Sousa Silva e Marcos Bruno Silva de Oliveira, segundo a reconstituição do crime, feita por peritos do Instituto de Criminalística (Icrim), estiveram na porta do Sistema Mirante, onde Décio Sá trabalhava como repórter da editoria de Política de O Estado, no fim da tarde do dia 23 de abril de 2012, e se informaram em conversas com alguns guardadores de carros sobre o horário em que o jornalista chegaria e sairia da empresa. O blogueiro foi seguido pelos executores, que estavam em uma moto Honda Fan 150 vermelha (NNH-7680), até a orla marítima da capital, onde foi assassinado com cinco tiros de pistola calibre ponto 40, a maioria na cabeça.

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