Praias

Tráfego de veículos na praia do Araçagi está liberado até março

Data coincide com prazo dado pela Justiça Federal para a retirada de barracas e casas da faixa de areia.

O Estado

Atualizada em 27/03/2022 às 11h59
 Carros circulando na Praia do Araçagi, em São Luís/Foto: De Jesus/O Estado
Carros circulando na Praia do Araçagi, em São Luís/Foto: De Jesus/O Estado

SÃO LUÍS - Dois dias após centenas de carros ficarem presos na Praia do Araçagi por causa da alta da maré, a Secretaria Municipal de Obras de São José de Ribamar anunciou que o tráfego de veículos continuará permitido na praia até o dia 31 de março. A data coincide com o prazo dado pela Justiça Federal para a retirada das barracas e casas de veraneio da praia. Até lá, novas placas serão instaladas e as orientações feitas pela Polícia Militar e agentes de trânsito devem ser reforçadas para evitar que um episódio semelhante ao acontecido no dia 1º ocorra novamente. Ontem (2), mais carros estavam na areia.

Mesmo com os alertas feitos por guarda-vidas e donos dos bares, banhistas insistem em circular com seus veículos na praia. Menos de 24 horas depois de a maré ter arrastado mais de 100 carros na praia, muitos condutores já circulavam na areia novamente na manhã de ontem. Como a maré teve uma pequena alteração nos últimos dois dias, ainda há risco de atolamento para veículos que transitarem na praia até os próximos dias.

 Praia do Araçagi/Foto: De Jesus/O Estado
Praia do Araçagi/Foto: De Jesus/O Estado

Sinalização

Para evitar que outros carros sejam arrastados pela maré, a Secretaria Municipal de Obras de São José de Ribamar tomará algumas providências. Segundo o secretário André Franklin Duailibe Costa, será instalada sinalização para informar o perigo de atolamento na areia e reforçados os avisos feitos aos banhistas. Apenas no dia 31 de março, o tráfego de veículos no local será proibido.

A data estipulada é a mesma determinada pela Justiça Federal para saída voluntária dos donos de barracas, casas de veraneios e residências construídas na faixa de areia, dunas, restinga e mangue das praias do Araçagi e Olho de Porco. A decisão é resultado de uma ação proposta pelo Ministério Público Federal (MPF) e pela União contra 91 ocupantes que moram em casas ou exploram barracas e estabelecimentos comerciais presentes na faixa de praia.

Como o acesso aos bares e às residências é feito apenas pela faixa de areia, o tráfego não poderá ser interditado agora. "A prefeitura, desde o ano passado, teve reuniões com os barraqueiros para desenvolver um projeto. Esse projeto já está pronto. Vai ser feita toda uma urbanização da orla do Araçagi, com a duplicação da avenida, para que os carros possam estacionar lá em cima. As barracas serão adequadas para a parte de cima e o acesso dos banhistas vai ser feito por passarelas construídas de forma que não prejudiquem as dunas", explicou.

Desespero

Os carros que ficaram presos na Praia do Araçagi, que pertence a São José de Ribamar, município da Região Metropolitana de São Luís, eram de banhistas que foram com seus veículos até os barrancos que circundam a orla, mas não conseguiram chegar à única saída da praia, pois a água do mar já havia atingido a via.

Para conseguir sair do local, as pessoas deveriam esperar a baixa-mar, prevista para a meia-noite. Às 19h30, a maré atingiu seu ponto mais alto, de 6,6 metros, e arrastou os veículos, que ficaram boiando e se chocando uns contra os outros. Os carros só terminaram de ser retirados do local na madrugada de ontem.

Pessoas que presenciaram a confusão, como a assistente de um dos bares da praia do Araçagi, Evanir Gomes, disseram que até carros com tração nas quatro rodas e caminhões guincho que tentavam ajudar a retirar outros carros estavam afundando.

"Foi um desespero ontem [quarta-feira]. Tinha muita gente chorando, vendo seu carro boiando e se machucando, porque não queria sair de perto. Teve uma moça que não saía de perto do carro dela, mesmo com os outros veículos batendo no dela. Ela só saiu daqui depois que uns homens a tiraram desmaiada", recordou Evanir Gomes.

A confusão começou no local por volta das 15h30, quando o fluxo de veículos, chegando e saindo da praia, era intenso. Um extenso engarrafamento se formou e os carros, que transitavam devagar, não tiveram tempo suficiente para sair da praia com a chegada da maré alta.

Prejuízos

Durante toda a madrugada de ontem, o trabalho de resgate dos carros foi intenso. Pela manhã, alguns carros que foram tomados pela água do mar, ainda, aguardavam para serem rebocados. Um deles foi uma carreta Volvo 380, de Goiás, que ficou boiando em meio às ondas.

O caminhoneiro Kleber Gonçalves disse que a carreta não é dele, mas da empresa onde trabalha. Segundo ele, se o motor do veículo não tiver sido avariado, o conserto deve custar R$ 15 mil. Caso contrário, seu prejuízo será de R$ 40 mil.

Os dias nos quais a carreta ficará parada para conserto também causarão prejuízo de R$ 5 mil por dia não trabalhado. "Eu estava trabalhando e vim com a carreta para a praia. Não vim passar o Ano-Novo aqui. Era um passeio que deu errado, infelizmente", explicou Kleber Gonçalves.

Além dos veículos que foram atingidos pela maré, donos de bares da praia do Araçagi também relataram prejuízos. No Bar do Ceará, as 25 tendas foram destruídas pela força da maré. O proprietário do bar, José Maria Cortes ressaltou que o bar ficou com uma pequena inclinação por causa da força da água. Ele contabilizou um prejuízo de R$ 9 mil.

"O que causou tudo isso foi o engarrafamento na avenida. A polícia inventou de fazer uma blitz no meio da tarde com todo aquele povo descendo para cá. Eles sabiam que não podiam fazer blitz na decida. Depois que o caminhão atolou, os outros não conseguiram mais passar e começou essa confusão", alegou José Maria Cortes.

Ventos e ocupação causaram fenômeno

Dois fatores são apontados por um especialista em fenômenos climatológicos para explicar a súbita elevação dos níveis de maré, na quarta-feira (1º), que surpreendeu banhistas e frequentadores da praia do Araçagi, cujos veículos foram tragados pela força das águas. Para o oceanógrafo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), professor Antônio Carlos Castro, os ventos fortes e atípicos para essa época do ano e, principalmente, a ocupação indevida da faixa de areia proporcionaram os transtornos que, por sorte, não resultaram em mortes. O professor, também, fez um alerta: as marés altas deverão prosseguir hoje e amanhã e deverão chegar a até seu máximo, 6,6 metros.

Ainda segundo o professor, essas marés altas não são comuns para esse período. "É de conhecimento da maioria que, na capital maranhense, as marés altas são mais percebidas nos meses de março e outubro, por causa do período de equinócio, quando dias e noites têm mesma duração. No entanto, houve uma exceção, por causa dos ventos fortes que, na quarta-feira, chegaram a velocidade de 12 metros por segundo. Além disso, a faixa de areia daquela praia é considerada pequena. O auge da maré, pelo menos nesse período de janeiro, deverá ocorrer amanhã [hoje] e no sábado [amanhã]", disse.

O professor, também, para a instalação de bares e restaurantes, ao longo da orla. "É como sempre digo, o mar não está errado, apenas está exigindo o seu lugar de direito, tomado indevidamente pela ação do homem. É preciso que as autoridades públicas, de fato, não permitam mais a permanência e a presença de estabelecimentos ao longo daquela faixa de areia", afirmou.

Mais

A circulação de veículos nas areias das praias não é regulamentada pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). Por isso, as seguradoras de carros podem se recusar a pagar perdas provocadas pelas marés, como aconteceu com centenas de veículos na praia do Araçagi no dia 1º. Se, durante a análise do caso, for constatada a negligência do cliente e que isso contribuiu para a perda do veículo, o ato é caracterizado como agravamento de risco e pode não ser feito o pagamento do prêmio ao segurado.

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