O que o PT pretende fazer para evitar a disparada dos preços

O Globo

Atualizada em 27/03/2022 às 15h25

O Partido dos Trabalhadores já tem delineada uma estratégia para espantar o fantasma da inflação — que beira os dois dígitos este ano e em 2003 — logo no início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. O PT está disposto a evitar, a qualquer custo, a reindexação de contratos e salários. Segundo assessores econômicos do partido, o grande perigo está nos mecanismos que realimentariam a inflação. E para conter a alta dos preços, a futura equipe econômica deverá recorrer a reajustes moderados nas tarifas públicas, abertura às importações para forçar a queda de preços, taxação de produtos exportados para garantir o abastecimento interno, manutenção das altas taxas de juros e fortalecimento dos estoques reguladores com a safra agrícola, que começa a ser colhida em fevereiro. A equipe de Lula não pretende recorrer a fórmulas heterodoxas. Vai utilizar instrumentos tradicionais de combate a inflação.

— O que não se pode aceitar nesse período é a volta da indexação de contratos e salários. E a população está amadurecida o suficiente para evitar que isso aconteça — diz o senador eleito Aloizio Mercadante (PT-SP), um dos principais assessores econômicos de Lula.

A criação de impostos sobre produtos exportados é outro recurso que pode ser usado, principalmente na área de alimentos. Com a alta do dólar, os produtores estão preferindo exportar as mercadorias a vendê-las no país. Assim, a oferta diminui e os preços sobem.

A intenção do novo governo, segundo um membro da cúpula petista, é criar condições, ainda em 2003, para que a economia volte a crescer num cenário de equilíbrio fiscal e inflação baixa. Mas, enquanto isso não for possível, não há como fugir da política monetária rígida, com juros altos.

— Vamos tomar iniciativas correspondentes com nosso programa de governo — disse o líder do PT na Câmara, João Paulo Cunha.

Assim como Mercadante, o coordenador da equipe de transição de Lula, Antônio Palocci, cotado para o Ministério da Fazenda, atribui o aumento da inflação à alta do dólar. Mercadante afirma que, com a melhora do balanço de pagamentos e a colheita da safra, a situação tende a se normalizar:

— A pressão inflacionária decorre, basicamente, da taxa de câmbio. A alta do dólar encareceu as matérias-primas e os insumos.

Integrantes do PT dizem que o novo governo também poderá manejar tarifas de importação para aumentar a oferta de produtos no mercado interno. E, para reforçar a prioridade declarada ao Mercosul, o governo Lula deve manter a política atual de negociar eventuais quedas de alíquotas com os demais parceiros do bloco.

Mercadante acusa o atual governo de ter represado, por motivos eleitorais, os preços dos medicamentos e as tarifas públicas, como os combustíveis. No caso dos remédios, cujo controle de preços termina no fim deste ano, o PT defende uma saída negociada para evitar novos reajustes a partir de janeiro. O aumento das tarifas já está sendo captado nos índices de preços.

O setor elétrico é outro problema. Terá de ser formulada uma equação que permita, ao mesmo tempo, remunerar as empresas e não prejudicar os consumidores. O deputado Luciano Zica (PT-SP) diz que a política do atual governo para o setor fracassou e o PT não pretende privatizar o que resta, nem estimular a desestatização em estados e municípios.

Os demais economistas concordam com a equipe petista em dois pontos. Primeiro, combater a indexação é vital para evitar o descontrole dos preços. Segundo, não há como fugir da política monetária restritiva em 2003. De resto, as sugestões vão da brutal elevação dos juros à manutenção da atual política econômica ou aumento da carga tributária.

O diretor do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Antonio Carlos Pôrto Gonçalves, defende um choque de juros, nos moldes do que o Banco Central fez em 1999. Segundo ele, tanto naquele ano quanto neste, o dólar subiu cerca de 50%. Dessa vez, a inflação está fora de controle porque a política monetária não respondeu à altura.

Reinaldo Gonçalves, professor da UFRJ, repudia o aumento dos juros, mas propõe uma política fiscal restritiva, que seria obtida com o aumento da carga tributária de 34% para 40% do PIB. A arrecadação adicional seria obtida via taxação de altas rendas, grandes fortunas e lucros sobre o capital.

Rogério Studart, da Cepal, e Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio e do Instituto Fecomércio, também são contra o choque de juros, mas acreditam que o aumento da inflação está relacionado à alta do dólar. Cunha está convencido de que qualquer solução extrema de combate à inflação fracassará:

— Se a equipe de Lula fizer o que Palocci tem dito, que é política fiscal responsável, política monetária restritiva e combate à reindexação, não há razão para acreditar que a inflação vai explodir.

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