Médico de Harvard fala sobre novo tratamento para diabetes tipo 2

GloboNews.com

Atualizada em 27/03/2022 às 15h28

RIO – Um médico mexicano está propondo um tratamento curioso para a diabetes tipo 2, doença que afeta 135 milhões de pessoas em todo o mundo. Coordenador do Programa de Controle do Diabetes nos Estados Unidos e pesquisador da Universidade de Harvard, Enrique Caballero estuda há cinco anos uma classe de remédios denominada tiazolidinediones, que reduz a resistência à insulina.

- A resistência à insulina significa que alguns tecidos, como músculos e gordura, não respondem muito bem à ação deste hormônio. Essas drogas ajudam a insulina que nosso corpo produz a trabalhar melhor - explicou o médico ao GloboNews.com, durante sua passagem pelo Brasil para realizar uma série de palestras sobre a nova classe de drogas.

De acordo com o médico, essas novas drogas, já aprovadas no Brasil e nos Estados Unidos, podem ajudar a prevenir o problema.

- O problema da resistência à insulina está presente antes do aparecimento do diabetes. Tem sido muito tentador pensar que esses novos remédios possam ser usados para prevenir o diabetes - disse Caballero.

No entanto, ainda é necessário a realização de estudos para comprovar a eficácia dos medicamentos como método de prevenção à doença. Na entrevista, Caballero fala sobre o uso das drogas, conhecidas como 'sensibilizadores insulínicos' ou glitazonas, e como poderão ser utilizadas no tratamento da diabetes tipo 2.

GloboNews.com - Por que o diabetes tipo 2 tem se tornado um grande problema de saúde em todo o mundo?

Enrique Caballero - Nós podemos considerar a diabetes como um problema epidêmico. As taxas de prevalência têm aumentado dramaticamente nos últimos anos. Há aproximadamente 135 milhões de pessoas com diabetes no mundo e está previsto que, nos próximos 25 anos, esse número alcançará 300 milhões. A maioria dos novos casos virá de países em desenvolvimento. Há várias razões para esse aumento, incluindo nosso pobre estilo de vida, sedentarismo, dieta desequilibrada e as crescentes taxas de obesidade. O diabetes tipo 2 (tipicamente descrito como um problema da vida adulta) tem alcançado agora crianças e adolescentes, algo que nós não víamos antes.

Há quanto tempo vocês usam o rosiglitazona contra o diabetes tipo 2?

Caballero - O rosiglitazona tornou-se disponível nos Estados Unidos, onde eu pratico Endocrinologia, há cerca de dois ou três anos. Essa medicação pertence à classe dos tiazolidinediones, grupo de remédios que reduz a resistência à insulina, considerada uma das principais falhas no diabetes tipo 2. A resistência à insulina significa que alguns tecidos, como músculos e gordura, não respondem muito bem à ação deste hormônio. Essas drogas ajudam a insulina que nosso corpo produz a trabalhar melhor. Trabalho com essa classe de medicamentos por cinco anos. Havia originalmente outro remédio dessa classe de drogas chamado troglitazona, que não está disponível desde que foi relacionado a alguma intoxicação do fígado. As novas drogas não estão relacionadas a esse tipo de problema na mesma extensão, mas o fígado precisa ser freqüentemente monitorado.

Essa droga poderia evitar o diabetes tipo 2? Ou a droga pretende apenas controlar o problema?

Caballero - Esses medicamentos são muito úteis no tratamento de pessoas com diabetes tipo 2. O problema da resistência à insulina está presente antes do aparecimento do diabetes. Tem sido muito tentador pensar que esse medicamentos possam ser usados para prevenir o diabetes. Há alguns estudos em andamento agora para confirmar essa hipótese. Eu acredito que nós seremos capazes de usar esses medicamentos para prevenir o diabetes em um futuro próximo.

Há alguma outra medicação no mercado ou em estudo que tenha o mesmo tipo de efeito? Por que especificamente essa substância é tão promissora?

Caballero - Há duas drogas nessa classe de medicamentos chamada tiazolidinediones. São elas a rosiglitazona, produzida pela Glaxo Smith Kline, e a pioglitazona, produzida pela Takeda/Lilly, nos Estados Unidos, e Abott, na América do Sul. Ambas são muito eficazes e de maneira idêntica. Um mérito adicional dessas drogas é que não apenas diminuem o nível de açúcar no sangue, mas também reduzem o risco de problemas cardiovasculares em alguns pacientes com diabetes, devido a seus efeitos sobre os lipídios, pressão sangüínea e alguns possíveis impactos vasculares.

Uma mudança no estilo de vida poderia ter o mesmo efeito que o roziglitazona na prevenção da doença?

Caballero - O estilo de vida é muito eficaz na redução da resistência à insulina. O estudo recentemente publicado ‘Programa de Prevenção à Diabetes nos Estados Unidos’, do qual tive a sorte de participar como co-pesquisador no Joslin Diabetes Center, em Boston, EUA, demonstrou que a mudança no estilo de vida são muito eficazes na prevenção do desenvolvimento do diabetes tipo 2. Isso inclui uma dieta de baixa calorias e gordura, maior consumo de fibras e exercícios regulares. Uma perda de peso de 5% a 6% pode reduzir em até 58% o risco de desenvolver diabetes em indivíduos com alto risco para a doença. Não está claro se o rosiglitazona seria mais eficaz que mudanças no estilo de vida na prevenção do diabetes. Entretanto, há um estudo que avaliará o efeito do rosiglitazona na prevenção do diabetes e doenças cardiovasculares. Os resultados estarão disponíveis no ano de 2006.

Quais seriam os melhores candidates para tomar a droga? Como podemos saber que é realmente propenso ao diabetes tipo 2?

Caballero - Os melhores candidatos a tomar rosiglitazona (ou pioglitazona) são indivíduos com o diabetes tipo 2 que possuem resistência à insulina como um dos principais problemas, algo que acontece em quase 90% das pessoas com a doença. As pessoas podem tomar esses medicamentos para melhorar seu controle do diabetes. Muito freqüentemente, tomar um medicamento não é suficiente para controlar o diabetes, então uma combinação de vários medicamentos é também possível. As pessoas que tomam esses medicamentos precisam ser monitoradas para intoxicação do fígado, retenção de líquido e anemia. Algumas pessoas podem ganhar peso também. Essas são algumas intervenções que precisam ser levadas sob estreita supervisão pelo médico.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.