Flip

Ferreira Gullar é homenageado em Feira de Paraty

Durante a homenagem, Gullar disse que "a arte existe porque a vida não basta".

Agência Brasil

Atualizada em 27/03/2022 às 12h50

RIO - “A arte existe porque a vida não basta”. A declaração foi feita nesse sábado (7) pelo poeta, crítico e dramaturgo Ferreira Gullar, durante homenagem prestada pelos organizadores da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) para marcar os 80 anos de Gullar.

O maranhense, que coleciona 40 títulos publicados e a indicação ao Nobel, falou sobre importantes marcos de sua trajetória, como o movimento neoconcretista, criado por ele no período em que se mudou para o Rio de Janeiro. O movimento surgiu como resposta à imposição da arte concreta no Brasil no início dos anos 50. Segundo Gullar, o período marcou um rompimento da arte brasileira que retratava o país pela chegada de uma arte que “era geometria, que não representava país algum”.

Ferreira Gullar disse que diferentemente dos outros manifestos dos artistas da época que, segundo ele, seguiam os padrões de promessas não cumpridas dos políticos, o manifesto sobre o neoconcretismo escrito por ele apenas mostrava o que era feito, ou seja, “o corpo participa da arte”

Durante a entrevista, Ferreira Gullar provocou risos e muitos aplausos. O poeta lembrou o envolvimento com a questão nacional, quando se mudou para Brasília e recorreu ao cordel como estilo para divulgar suas idéias e tentar mudar o país. "Aí veio o golpe de 64 que mostrou, mais uma vez, que eu estava errado”. Gullar filiou-se ao Partido Comunista, foi preso e exilado e, em Buenos Aires, quando a Argentina enfrentava também um golpe militar, escreveu sua obra mais famosa Poema Sujo.

“Os milicos resolveram colocar abaixo o governo de Isabelita Perón. As pessoas começaram a sumir e eu pensei: não sei o que vai acontecer comigo, então vou dizer o que me resta dizer enquanto é tempo”, disse Gullar, que garante nunca ter ficado tanto tempo envolvido com a poesia. A obra foi escrita entre maio e outubro. Sobre a densidade da publicação, ele explicou que “muitos poemas partem da dor para transformar a dor em alegria estética”.

O escritor, que se prepara para lançar o novo livro de poemas Em Alguma Parte Alguma, falou pouco sobre esse trabalho. Adiantou que é um livro diferente dos outros, “mas não radicalmente diferente porque não vivo atrás de fazer novidades. Não tenho que fazer algo que ninguém fez”. O poeta contou que o livro está sendo escrito desde o ano 2000 e que durante muitos meses ficou sem escrever qualquer linha.

“Meus melhores momentos são quando escrevo poesia, mas não vêm da minha vontade. Quando não há espanto, não escrevo”, explicou o maranhense. “Leio e penso mais sobre pintura do que sobre literatura. Não fico refletindo a poesia como reflito sobre a arte plástica. Quando a poesia vem de seus abismos, ela não respeita pai ou mãe. Ela nasce do espanto e é simplesmente uma coisa que me estupra”.

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